quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

As mulheres da linha da frente

Imagem daqui
Há uns anos, quando conversava com uma amiga sobre partos, e dizia que só a ideia me bloqueava, ela respondia encolhendo os ombros, que não era nada demais; a mãe tinha tido 7 filhos e dizia que tinha corrido tudo bem, as dores não eram "do outro mundo". 
No meu mundo, a minha mãe dizia e repetia, que tinha preferido a morte às dores de parto. 
Por isso eu nunca tive muita hipótese de pensar diferente; parto era dor, sofrimento para o qual eu não estava preparada. Portanto, quando comecei a ouvir falar da epidural achei que estava a salvo!

Quando engravidei do meu primogénito, e não havia forma de ele "dar a volta", permanecendo atravessado ( - deve ter sido para me fazer a vontade, porque lhe pedia isso todos os dias!), o meu obstetra, para minha alegria,  decidiu-se pela cesariana. Na altura achei ouro sobre azul. Muito melhor do que a epidural. 
E por isso, os partos para mim não foram dolorosos, nem traumáticos. E quando os meus filhos começaram a perguntar-me se me tinha doído para eles nascerem, eu respondia alegremente : Nada! Nadinha!

Já tinha decidido que a versão do parto que eu daria aos meus filhos seria diferente daquela da minha mãe. Eu sei que as circunstâncias foram diferentes, mas se eu quisesse, poderia recuperar do meu arquivo mental detalhes que não correram exatamente bem, mas prefiro não o fazer. Porque a recompensa de um parto, é um filho saudável e muito amado. Portanto, escolho lembrar-me da melhor parte.

Recentemente, ao ver no Odisseia uma reportagem ( ignoro o titulo), uma das intervenientes testemunhava, dizendo que durante anos vivera "o período" como algo incomodo, que lhe causava dores e transtornava a vida; enfim, como qualquer ocidental. E tivera que reflectir, estudar e frequentar grupos com outra atitude, para entender que o período era para ser celebrado, representava a dádiva da vida e era uma bênção. À filha, já ensinaria esta atitude. 

Com este relato compreendi, claramente, o poder e responsabilidade das mulheres da linha da frente; somos nós, as mães, as avós, as educadoras, as professoras que detemos a função de ensinar atitudes e comportamentos às gerações futuras. 
Temos o poder de mudar o que está desadequado, desajustado, e errado, revertendo os padrões mentais que se vêm repetindo geração, após geração.

Somos nós, as mulheres da linha da frente, que podemos mudar o futuro. E não falo sequer de coisas extraordinárias, que revolucionarão o Mundo, mas de mudanças pessoais que implicam mudanças de atitudes, que trazem bem-estar, tranquilidade e orgulho. Tal como viver "o período" com a compreensão total do que isso implica; tal como sentir que parir é um privilégio, experiência única e maravilhosa. Implica dor? Alguma. Mas certamente implicará muito mais sofrimento se a nossa atitude mental estiver mal-orientada.

Embora a expressão do título tenha um claro cunho militar, que se alheou do texto no seu desenvolvimento, constato por fim, que não está assim tão longe como isso; há uma certa tensão bélica na forma como educamos os filhos, e os preparamos para a vida. Resta-nos dar-lhes "as armas" adequadas, para enfrentarem a vida com uma atitude positiva e dela retirarem o melhor, sendo melhores do que a geração que os precedeu.

Até breve!