terça-feira, 29 de abril de 2025

O Apagão

Quando a electricidade falhou já não sequei o cabelo, mas estava calor, e portanto, não foi problema. Pensei que fosse local, porém ao querer levantar dinheiro para as compras no MB vi que estava totalmente desligado, e que seria uma anomalia invulgar. Porém, foi uma hora mais tarde, que o estafeta me contou, por ter ouvido na rádio, que era um blackout em toda a Europa, que poderia ser resolvido em algumas horas mas também poderia durar 3 dias. Liguei imediatamente para a minha filha, e não lá não havia apagão nenhum, e nas Notícias tinham dito que tinha sido apenas em Portugal e Espanha. Depois daí, já não consegui fazer mais chamadas nem enviar mensagens. 

Como a minha casa funciona, praticamente, a electricidade ficamos muito limitados. Engraçado que apesar dos painéis solares no telhado não possamos usufruir deles, porém, estiveram sempre a produzir para a Rede. Que bom para eles, com o nosso investimento! Por estas coisas se vê como funciona o Mundo. 

Felizmente, com o fogão de campismo ( que nunca serviu para campismo!) resolvemos a questão das refeições, o que já foi bom. E graças ao dinheiro vivo consegui fazer compras na Feira. O que se prova com isto que dinheiro em efectivo é liberdade, e independência. Devemos ter sempre em casa uma soma considerável e tentar pagar sempre com dinheiro. 

Contaram-me que foi o caos nos supermercados e Bombas de combustível, nos poucos que ainda aceitavam cartões. Os carrinhos voltaram a encher-se, lembrando o famigerado confinamento de 2020. Muitos entraram em pânico. Imensos negócios fecharam por incapacidade de laboração. Essa não foi, novamente, e de todo, a minha realidade. 

Ao caminhar no Parque percebi que imensas pessoas se entretinham por ali, a passear os cães, sentadas nos bancos desfrutando da fresca, brincando com os filhos, jogando em grupos, novos e mais velhos. Ninguém a olhar para os telemóveis. 

Para falar com a minha mãe tive que ir a casa dela. Estava lá mais família, e entretivemo-nos até tarde a conversar, e a rir, curiosamente a minha mãe, dependente da televisão, estava muito bem humorada. 

E havia quem perguntasse, ouvi na rua: Então era assim que se vivia dantes? Pois era. E não nos faltava o que fazer, como nos entreter, sozinhos ou acompanhados. O silêncio também é bom, e a supressão das distrações sucessivas benéfica. 

Foi um dia diferente, desafiador. Gostaria que todos tivessem retirado, desta inédita situação, algo de bom. Com isto, já temos muito para reflectir!


quarta-feira, 23 de abril de 2025

"Monkey see monkey do"!

 


Eu tinha recebido as peanhas como presente de aniversário há 2 anos e hesitava onde colocá-las, e como decorá-las, de modo que na visita ao Palácio Real de Varsóvia me deparei com esta decoração e, imediatamente, percebi como faria cá em casa. 


As minhas peanhas não são tão douradas, o que eu gosto, mas são antigas. Os pratos são dinamarqueses, em vez de estarem na parede dos pratos, estão aqui. Não sei agora se continuarei a formar aquela escadinha da montagem original ( apesar de nesta foto parecer um espaço pequeno há margem para mais), ou se fica assim mesmo. Veremos o que me vai surgindo, não vou à procura, para já estou contente com o efeito. 
As viagens também servem para isto, para me inspirar, e posteriormente fazer lembrar destinos, e dias especiais. 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Filme de Páscoa - Marcelino Pão e Vinho


Não conhecia o filme, foi através de uma cena, muitíssimo comovente, partilhada no Instagram que o fui procurar no YT, e vi na sexta-feira passada. Logo que o partilhei alguns amigos disseram-me que tinha sido um filme que os marcara na infância. É realmente uma delícia de filme! Do tipo que já não se faz, raro, com equilíbrio perfeito entre o cómico, o humano e o divino.
Hoje, em particular, a visualização deste filme ainda se justifica; para ver só ou em família, é uma boa forma de celebrar a segunda-feira de Páscoa. 

Sinopse:
Um frade franciscano conta para uma menina doente a lenda de Marcelino, um bebê que foi deixado na porta do mosteiro e criado pelos religiosos. Após frustradas tentativas de entregá-lo para adoção, acaba sendo criado pelos doze frades franciscanos.
Marcelino cresce fazendo travessuras e levando todos no convento à loucura com sua desobediência e imaginação; mediante a solidão e a falta de crianças de sua idade para brincar, se diverte inventando apelidos para os frades, cria um amigo imaginário chamado Manuel, inventa histórias inacreditáveis.
Uma das histórias que relata, porém, desafia a curiosidade dos religiosos, que a resolvem conferir pessoalmente, constatando com surpresa o divino poder da inocência, e Marcelino se torna o protagonista de um milagre que marcará para sempre o vilarejo espanhol onde ocorre a história."

quinta-feira, 17 de abril de 2025

A Mesa do Compasso da Minha Infância

 



Estas flores, cujo nome desconheço ainda, que tenho no Jardim, costumam florir por altura da Páscoa; trouxe um caninho do jardim da minha mãe, e ela por sua vez levou o dela de casa da minha avó paterna. O jardim da minha avó, onde eu tanto brinquei, já não existe, portanto, gosto ainda mais, suponho, de saber que existem estas flores vindas de lá e que me evocam tempos de infância, que me marcaram pela simplicidade, bucolismo, família, e solidão, o que não era necessariamente mau. Quiçá veio dessa vivência o meu pendor solitário, que estimo como uma qualidade. 

Mas a história que queria contar sobre estas flores relacionam-se com a Páscoa. A minha memória mais antiga sobre esta data, é fotográfica; a mesa da sala que a minha mãe decorava, para receber "A Cruz", ficava lindíssima, e lembro-me de a observar ao nível do meu olhar; a toalha especial de croché bordada, com pratinhos de vidro de Doces Brancos, outros de biscoitos amanteigados, e por toda a mesa amêndoas baunilhadas tipo francês da Costa Moreira, brancas e rosa, e por entre tudo isto, estas florzinhas espalhadas por toda a superfície. 
Obviamente, não podíamos tocar em nada enquanto o Compasso não passasse, mas eu e as minhas irmãs não resistíamos a surripiar uma ou duas amêndoas, enquanto esperávamos. 
Eram dias felizes. 

Feliz Páscoa!



terça-feira, 15 de abril de 2025

Dica de Leitura : O segredo de Champollion

 Via 

O que me atraiu neste livro foi esta frase simples: " A fantástica história da decifração dos hieróglifos"; o mistério do Antigo Egipto tem grande poder sobre mim.

Jean-Michel Riou é formado em Ciências Políticas, autor de diversos livros, e também apaixonado pelo Antigo Egipto, realizando através desta história o sonho de escrever sobre a aventura humana e científica da expedição de Napoleão ao Egipto.

Tendo colocado a Europa em guerra com as sucessivas invasões a diversos países, Napoleão projecta uma expedição ao Egipto em 1798, para a qual convoca uma numerosa equipa de renomados científicos, que transporta em navios, com os seus sofisticados equipamentos, para esse país. Só a preparação e viagem já se revelam atribuladas e perigosas, e nem sequer se sabe ainda, pela certeza, o que Napoleão pretende daquele país. Verão que não é subjugá-lo, embora a certo ponto isso venha a acontecer, e de forma sanguinária, mas antes um objectivo cultural muito definido - a decifração dos hieróglifos dos faraós, que a maioria crê ser tarefa impossível. Mas qual o derradeiro interesse de Napoleão, com isso?
É portanto, com o achado casual da "Pedra de Roseta", que tendo parte traduzida para o grego, que a decifração começa a ser possível, embora ainda extremamente difícil. 

Após alguns anos no Egipto, sem atingir o objectivo, os "sábios" são forçados a partir, juntamente com o exército, recuando perante a ameaça inglesa, deixando para trás grande parte do espólio apreendido, que será confiscado pelos ingleses ( a Pedra de Roseta está no Museu Britânico, em Inglaterra, e também motivou a decifração pelos seus intelectuais, originando uma competição entre as duas nações), sendo já em solo francês que o estudo da decifração se fará por longos anos ainda, pelo genial Jean-François Champollion, que fizera desse objectivo a sua missão de vida. 

O Decifrador, em quem Napoleão depositava uma confiança desesperada,  acabou por ter sucesso, os hieróglifos traduziam-se por "sons e ideias", e contudo o resultado não foi de todo o esperado.  

Pelo meio há episódios de espionagem, de lutas e intrigas, e até romance, tudo contado através de três participantes da expedição, os sábios e amigos Morgan de Spag, Pharos-J Le Jeancem e Orphée de Forjuris, que dividem a narrativa em três partes, e a entregam a uma editora em 1854 para ser aberta em 2004. 

Eu não gosto da figura de Napoleão, um facínora que invadiu países, roubou, destruiu e matou, e aqui foi-me novamente mostrado que se tratava de um megalómano, egocêntrico, que não hesitou em converter-se ao Islão para se insidiar mais no Egipto, com o objectivo de, quiçá, tornar-se ele próprio uma espécie de faraó. Todavia, gostei de aprender mais sobre esse episódio da decifração dos hieróglifos, e de como tantos objectos acabaram expostos em França, e Inglaterra, pelos seus diversos museus. 


Título: O segredo de Champollion

Autor: Jean-Michel Riou

Editora: Asa

Nr de Páginas: 411

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Receita de Chocolate de Tâmaras

 


Ao escrever o título deste chocolate de tâmaras lembrei-me daquele do Dubai que fez o povo ocorrer ao supermercado, pagar não-sei-quanto, que já era caro, e ainda houve quem o vendesse na Vinted a 60€. Faz-me sempre rir essa história!

Não provei esse mas garanto que este é muito superior; e porquê? Porque é feito com ingredientes biológicos e de grande qualidade, e a combinação de todos funciona perfeitamente. Para ser aprovado pelo Duarte, que me pediu para repetir, e repeti, está tudo dito!

Fiz tudo isto a "olhómetro", foi algo assim:

Chocolate de Tâmaras

8 Tâmaras medjool

2 Colheres de sopa de manteiga de amendoim

50 gr de pepitas de cacau 

Como fazer:

Abrir as tâmaras ao meio, retirar o caroço, colocar num papel de forno todas juntinhas, viradas para cima; dobrar o papel por cima delas e com o rolo da massa espalmar, fazendo pressão para que alarguem e preencham todos os espaços. Cobrir com manteiga de amendoim e regar com o cacau derretido em banho-Maria, cobrindo toda a superfície. Levar ao frigorífico a solidificar, o que acontece rápido. 

Eu ainda pus umas pedrinhas de sal marinho e gostamos. Mas estou agora a imaginar pistachio esmigalhado, também deve ficar bom. 

E é isto. Simples e delicioso! 

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Um Caso a Ser Pensado

Isto foi-me contado por alguém que não fez qualquer juízo sobre a situação, limitou-se a relatá-la. Portanto, o jovem tirou a licenciatura em Gestão, foi trabalhar um ano para um banco, achou que ganhava pouco, e decidiu tirar o Mestrado, mas desta vez numa prestigiada universidade europeia. Depois, concorreu para uma vaga de uma empresa internacional conhecida, sediada na Alemanha, para a qual concorriam cerca de 1200 candidatos. Fez provas, entrevistas, entrevistas e provas, passando diversas etapas até restarem somente 3 candidatos. Contra as suas próprias expectativas, foi o escolhido!

Agora vive nos arredores de uma grande cidade alemã, onde trabalha, e paga700€ por um quarto numa casa de um estrangeiro oriundo de uma cultura muito diferente da ocidental. Já sabe que terá de sair dai a algum tempo, e preocupa-se com a dificuldade em arranjar um quarto. Antes deste viveu num apartamento que o marcou pela sujidade, e cada vez que visita uma casa para responder a um anúncio de Quarto para alugar, sabe que será escrutinado, e escolhido ou dispensado com a minúcia de um patrão que admite um novo funcionário. 

Não ganha o suficiente para ter um apartamento, um estúdio que seja. Um cantinho que chame seu, e tenha total privacidade. Quando vem a casa e regressa vai cabisbaixo, custa-lhe um bocado, mas depois fica bem. Fez-me lembrar quando os bebés são deixados no Infantário a chorar, mas mal as mães desaparecem eles calam-se e "ficam bem". Que remédio, não é?

E tudo isto deixou-me a pensar em como o esforço, o trabalho, o estudo de tantos anos, o investimento financeiro dos pais, no final, nem sequer permite aos jovens que sejam autónomos. Saem das suas casas, dos seus países, atraídos por vencimentos tentadores, e afinal estão pior do que em casa. Sim, porque francamente, ganhar menos e ter menos despesas vai dar ao mesmo. E se ainda puderem ficar em casa dos pais, sendo solteiros, continuam a ter uma casa acessível a todas as divisões como sendo, efectivamente, sua. 

Esta falácia do estrangeiro, pode não ser para todos, mas será para muitos. Afinal, depois de tanto esforço continuam a trabalhar para sobreviver, para pagar contas, e nem sequer conseguem ter independência. Ficam longe da família, dos amigos, de tudo o que lhes é familiar, e para quê? 

Houve aqui um retrocesso no nosso estilo de vida, e ninguém mais o vê?!