Via |
É triste de se ver, e imagino que para os poucos residentes e resistentes, seja mesmo deprimente, verem partir um a um, pessoas que conhecem pelo nome porque viveram ali toda a vida, talvez até tenham ali nascido, até restar apenas um.
Quando as casas de família começaram a ser vendidas a fundos de investidores para alojamento local os preços dispararam, e todos os herdeiros, já antes atraídos pelos apartamentos modernos com garagem na periferia da cidade, puseram os bens imobiliários na mira desses abastados estrangeiros, abdicando uns filhos voluntariamente, outros por incapacidade financeira, da casa dos pais, e avós. E os centros das cidades estão agora assim, despojados dos seus habitantes, fantasmagóricos, sem alma.
Sem pessoas que morem nas casas permanentemente, que estendam as roupas nas varandas, batam portas e toquem campainhas carregados de compras, as cidades históricas não passam de parques temáticos. Que atração pode ter isso para os turistas?! Inclusive para nós, que somos da região, e nos sentimos ali totalmente fora do contexto.
Deve haver forma de manter as cidades habitadas, e as Câmaras Municipais cometem um erro enorme ao não investir na manutenção de vida genuína, e combater esta desertificação, poderiam talvez impor quotas para habitantes, e não permitir que todos os prédios fossem para turistas. Actualmente este fenómeno acalmou, devido à "pandemia" e restrições turísticas, mas os proprietários aguardam a retoma, e entretanto as casas permanecem desabitadas e pior, a entrar em decadência.
As cidades não são feitas somente por monumentos e imóveis históricos, a alma das cidades são as pessoas, são elas que geram a energia única de cada local, e sem habitantes tudo se torna igual - despojado do seu carácter único.
Mais um efeito do capitalismo selvagem, um crime contra o povo, e contra a nossa história, perante o nosso olhar complacente.