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Não será o livro da minha vida, porque não consigo decidir-me por um apenas, aliás, recuso-me a fazê-lo, mas entrou para a minha lista dos memoráveis.
Sándor Márai é húngaro, todavia, viveu sobretudo nos Estados Unidos, tendo a sua obra sido banida do seu país durante a era comunista, por isso caída no esquecimento, e redescoberta apenas décadas mais tarde, reconhecendo-se nele um dos escritores mais importante da literatura centro-europeia. Para mim, da Europeia!
No final da sua vida, Henrik, um nobre abastado, recebe a visita pela qual aguardou exactamente 41 anos; da conversa que antecipa espera respostas para algo que ocorreu 4 décadas atrás, assunto sobre o qual se debruçou profunda e, talvez, obcecadamente. A informação é-nos transmitida aos poucos, gerando um suspense em toda a linha que mantém o leitor preso do início ao fim.
Trata-se de um homem septuagenário, realizado profissionalmente, respeitado pela sociedade, vivendo no seu palácio como um eremita. A narrativa faz-se pela sua voz clara, numa sucessão de ideias plasmadas em sublimes palavras, e frases absolutamente perfeitas. O domínio da escrita está totalmente sintonizado com o domínio do pensamento, debruçada sobre a tessitura dos relacionamentos humanos, a uma profundidade extraordinária.
Um excerto que me tocou pela contemporaneidade:
"- Todos morreram, partiram, renunciaram a tudo que tínhamos jurado lealdade. Existiu um mundo pelo qual valeu a pena viver e morrer. Esse mundo morreu e não tenho nada a ver com o novo. É tudo o que posso dizer." Pág.70
Preciso dizer mais? Altamente recomendado.
Título: As velas ardem até ao fim
Autor: Sándor Márai
Editora: D.Quixote
Nr de págs: 153