Primeiro, o céu ficou escuro no horizonte
depois, um ribombar distante ouviu-se.
As abelhas já tinham desaparecido das flores
e as aves voavam em direcções diferentes.
Tudo se compunha
como numa peça de teatro em que cada um se põe em seu lugar.
Avancei para sentir o vento
que dobrava já as copas das árvores
sem resistência, antes com natural deleite.
A trovoada aproximava-se mais forte,
e clarões iluminavam o céu pontualmente.
Levantei os braços como se abarcasse tudo o que viria,
Soltei o cabelo, descalcei-me para sentir a terra.
Pareceu-me natural entregar-me sem reservas nem entraves.
E a cada trovão eu sorria, dizendo:
Vá, acorda-me desta hipnose profunda.
Desperta o meu divino ser!
A chuva caiu grossa,
o cheiro da terra levantou-se no ar, como inebriante perfume ancestral.
Tudo se conjugava para me libertar memórias.
( A chuva está prevista, oxalá ocorra. Novamente. )