Alto Minho |
Agora penso que deveria ter fotografado certas paisagens, que ultimamente estão a mudar muito, e receio não voltem a ser nunca mais as mesmas, é que infelizmente já é tarde. Aquele corredor de carvalhos na estrada nacional, tal qual um túnel, que dá sombra e frescura no verão, e cujo verde mantém grande parte do ano; a paisagem do monte que subo, sempre que não me apetece ir pela estrada nacional, e sigo pela secundária, tão verde, tão cheio de árvores, muitas infelizes eucaliptos, mas ainda assim árvores; e a vista do meu quarto para a avenida do Parque, agora sem as tílias, árvores frondosas, quase mágicas, caídas na última tempestade, por conta do mau trabalho de quem fez os passeios modernos e feios, em que lhes cortou as raízes, deixando-as sem sustentação na base. Só para dar três exemplos, mas estes são-me particularmente caros.
Devia ter feito registos, porém, naquela altura, em que não os fiz, pensava, sei lá, que tudo aquilo seria eterno, pelo menos na medida da minha própria eternidade. Não pensei que se me antecipassem.
Para ser justa, o túnel de carvalhos ainda lá está mas todos os anos vai sucumbindo um ou outro, e não os vejo a ser substituídos. Se calhar, em vez de registos, e veio-me agora a ideia, devia lá ir, e discretamente plantar novos carvalhos, nos sítios dos desaparecidos. Talvez ninguém note a minha interferência, pelo menos nenhuma entidade oficial, pelo jeito que isto vai não notar absolutamente nada é prática institucional. Talvez seja o tempo do cidadão comum agir, simplesmente, fazendo tranquilamente o bem, sempre que possa; mas porque me soa isto tão revolucionário? Até é uma ideia bastante simples e boa.