quarta-feira, 14 de maio de 2025

Dica de leitura- "O Doutor Jivago"

Via Alfarrabista Terra Média

Boris Pasternak nasceu em Moscovo, a 10 de fevereiro de 1890; a sua família ucraniana era abastada e de origem judia; o pai, pintor e professor universitário ( aliás, era amigo de Tolstoi e quem lhe ilustrava os livros), a mãe, pianista de concertos e filha de um conhecido industrial. A título de curiosidade, a sua família alegou ser descendente de Isaac Abrabanel, um famoso tesoureiro judeu sefardita do Séc.XV, em Portugal.

Pasternak estudou Filosofia na Alemanha, regressando a Moscovo em 1914, quando publicou a sua colecção de poesias, sendo conhecido na Rússia, principalmente, como poeta.

Em 1958 publicou o romance "O Dr.Jivago" na Itália, o governo russo tinha proibido a sua publicação por entender que era uma crítica ao comunismo, e imediatamente o livro se tornou num sucesso mundial. Nesse ano, Pasternak ganhou o Prémio Nobel da Literatura, porém teve de o recusar, forçado pelo regime soviético, e só 1989, com Mikhail Gorbatchev é que "O Dr Jivago" foi finalmente publicado no seu país. 

Em 1965 o livro foi adaptado ao Cinema, sendo um sucesso estrondoso, mas infelizmente o autor já não viveu para o saber, tinha falecido em 1960. 

Este romance histórico relata as primeiras décadas do século XX, fim da era Imperial e início do bolchevismo na Rússia, através da vida da personagem principal, Iuri Andreievitch, conhecido por Dr.Jivago. Inicialmente, é-nos relatada a vida desafogada da classe privilegiada a que pertence Iuri, ainda um jovem estudante de Medicina, que entra na idade adulta nessa época de convulsão social e política, que se proporcionou a ajustes de contas, frequentemente cegos, entre explorados e exploradores. A vida tornou-se extremamente difícil e desafiante, para além daquilo que o povo já conhecia, e julgava miserável. 

A sociedade russa, todavia, adaptava-se a todos os embates, improvisando e tentando sobreviver. Entretanto, casado e pai de um menino, o Dr.Jivago decide com a mulher sair de Moscovo, devido à insegurança e fome, e ir para a Província, aonde tinham propriedades, em busca de segurança. Após uma longa e atribuladíssima viagem chegam finalmente ao destino, para constatarem que nem nos confins do país se escapa ao sofrimento e miséria humanas. Aí, o Dr. Jivago encontra Lara, uma enfermeira que conhecera na juventude, e a sua vida começa a dividir-se. Entre a sua actividade de médico começa a escrever, algo que há muito ansiava fazer; esses escritos serão mais tarde fonte de rendimento, e muito apreciados.

A família acaba por se separar e o Dr. Jivago regressa, penosamente, a Moscovo, aonde o esperam mais desafios e complexas dificuldades. A II guerra mundial cola-se à catastrófica mudança de regime, comunista, e os russos lutam contra o invasor, prolongando a fome, destruição e tragédia. 

Não é uma leitura fácil de se fazer, acompanhar o desfragmentar da humanidade, a luta pela sobrevivência que chega ao ponto da antropofagia, em que o homem se transforma num animal feroz, que mata para não ser morto; a imposição de uma cultura comunista que termina com a opinião pessoal, com a inspiração do sentido moral, e impõe o passo do grupo; viver segundo conceitos estranhos a todos e o aumento da tirania; a imposição de Leis arbitrárias de forma aleatória, num dia funciona de certa maneira e no dia seguinte aquilo está proibido e severamente castigado, faz-me sentir uma compaixão imensa pelo povo russo. O que eles sofreram é inenarrável. E faz também crescer a minha admiração, pela resiliência, pela inteligência, pela capacidade de improviso e superação. Esta parte humana não raras vezes me comoveu a ponto de pousar o livro, e o fechar, de tão assoberbada me sentir.   

Também possui uma parte mais ligeira mas breve, embora importante para mim, é um gosto ler sobre a cultura clássica imperial russa, como viviam, como eram as suas casas, como recebiam, como preservavam os alimentos de forma natural, as suas referências literárias e musicais, como viviam em família e sociedade, tudo isso me encanta e fascina. 

Por tudo isto é, obviamente, uma leitura que recomendo vivamente. 

Título: O Dr.Jivago

Ayutor: Boris Pasternak 

Editora: Colecção Mil Folhas

Nr de págs:606       

segunda-feira, 12 de maio de 2025

"Fraco é o Maio que não rompe uma croça"

 

Via Pinterest


Estava aqui a pensar que este mês de Maio também não tem sido lá muito famoso, chuvoso e frio, que em breve será Verão e isto nem parece Primavera, quando me lembrei de um ditado que a minha mãe repete, ocasionalmente, " Fraco é o Maio que não rompe uma croça", justificando o frio e chuva. 

A croça é uma espécie de impermeável feita de palha, que se usava nas aldeias, pois protegia das intempéries e pela largueza proporcionava movimentos, e braços livres que permitiam a continuação dos trabalhos rurais, fosse com os rebanhos, fosse a trabalhar a terra. Muitas tinham capucho para proteger a cabeça, também. Até princípios do século XX ainda se usava muito, em meados do mesmo já eram poucos os que as vestiam, nas aldeias do Norte, mais afastadas. Era algo que se fazia com a produção local (totalmente sustentável!), todos os lavradores tinham palha, económica e eficiente. 

A propósito do dia chuvoso de hoje apeteceu-me destacar este elemento do vestuário rural português e, também, lembrar que se o ditado antigo assim o dizia era porque Maio sempre foi um mês mais próximo do Inverno do que do Verão! Nós é que temos pressa de dias de sol e bons, e então queixamo-nos do tempo, mas o clima está certo. Aliás, ainda temos outro que o comprova: "Em Maio come a velha as cerejas ao borralho"! 

O que me vale para me animar, é que, nas pausas da chuva dou um salto ao jardim, e observo que a Primavera está a fazer o seu trabalho muito bem, as plantas estão viçosas e os tubérculos brotam da terra, impulsionados pela força vital que opera maravilhas, fora do nosso alcance visual. 

Via Pinterest

quinta-feira, 8 de maio de 2025

"Unbox with me" 😀



Estava para fazer uma daquelas "cenas" que essa malta influencer faz, os unbox with me de roupas, desta marca e daquela, e depois kaboum...saíam os tubérculos de dálias! Mas já estava a demorar demasiado ter tempo para preparar a câmara, o tripé, e tudo e tudo, e a terra clamava por estas coisas lindas, pelo que tirei fotos apenas. Quer dizer, as dálias que ficaram na terra já estão crescidas uns bons 15 centímetros! Mas estas vão para vasos, vai ser o teste deste ano, quero ver como se irão dar. 

A caixa, o embrulho de papel rosa, e os brindes, uma revista e marcadores de madeira para os vasos, mereciam 100% um desses reels de luxo! Isto é que me faz vibrar, abrir uma caixa destas, e agora a expectativa nas próximas semanas! Estou que não me aguento. 

terça-feira, 6 de maio de 2025

The Front Garden - Os filósofos jardineiros


Apesar de falta de qualidade deste documentário vale a pena o esforço. O que os jardineiros dizem sobre a motivação de jardinar é tão único, e pessoal, e porém tão humano e comum a todos nós! 
De onde lhes vem a inspiração, de como se sentem ao trabalhar no jardim, do que sentem ao observá-lo, do resultado que reflecte cada personalidade, é fascinante e comovente, pela profundidade inesperada.
Uma delícia! 

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Receita de Tarte de Limão

 



Esta tarte de limão é deliciosa e realmente fácil e rápida de fazer. Como nos deram uma quantidade enorme de limões tenho priorizado aquelas receitas que os levam, e portanto já repeti esta duas vezes. É do agrado de todos, não tem como errar. 

A receita apareceu-me na Internet, é do site 1001 Ideias da Susana Sinceridades. 

Tarte de Limão

Ingredientes:

6 ovos

100 gr de manteiga

250 gr de açúcar

Raspa e sumo de 2 limões (sumo coado)

1 base de massa folhada ou tenra

Como fazer:

Pré-aquecer o forno a 180º.

Forrar a tarteira, ou forma, com a massa folhada ou tenra, e reservar.

Bater os ovos com o açúcar até ficar um creme fofo e claro. Juntar a manteiga semiderretida, a raspa e sumo coado dos limões, juntar bem.

Verter este preparado para a tarteira e levar ao forno 20 minutos a 180º. Verificar se está bem firme, pode precisar de ficar no forno mais 10-15 minutos. 

E é só. Aconselho mesmo, é daquelas receitas para fazer quando não há muito tempo para sobremesas mais elaboradas.

terça-feira, 29 de abril de 2025

O Apagão

Quando a electricidade falhou já não sequei o cabelo, mas estava calor, e portanto, não foi problema. Pensei que fosse local, porém ao querer levantar dinheiro para as compras no MB vi que estava totalmente desligado, e que seria uma anomalia invulgar. Porém, foi uma hora mais tarde, que o estafeta me contou, por ter ouvido na rádio, que era um blackout em toda a Europa, que poderia ser resolvido em algumas horas mas também poderia durar 3 dias. Liguei imediatamente para a minha filha, e não lá não havia apagão nenhum, e nas Notícias tinham dito que tinha sido apenas em Portugal e Espanha. Depois daí, já não consegui fazer mais chamadas nem enviar mensagens. 

Como a minha casa funciona, praticamente, a electricidade ficamos muito limitados. Engraçado que apesar dos painéis solares no telhado não possamos usufruir deles, porém, estiveram sempre a produzir para a Rede. Que bom para eles, com o nosso investimento! Por estas coisas se vê como funciona o Mundo. 

Felizmente, com o fogão de campismo ( que nunca serviu para campismo!) resolvemos a questão das refeições, o que já foi bom. E graças ao dinheiro vivo consegui fazer compras na Feira. O que se prova com isto que dinheiro em efectivo é liberdade, e independência. Devemos ter sempre em casa uma soma considerável e tentar pagar sempre com dinheiro. 

Contaram-me que foi o caos nos supermercados e Bombas de combustível, nos poucos que ainda aceitavam cartões. Os carrinhos voltaram a encher-se, lembrando o famigerado confinamento de 2020. Muitos entraram em pânico. Imensos negócios fecharam por incapacidade de laboração. Essa não foi, novamente, e de todo, a minha realidade. 

Ao caminhar no Parque percebi que imensas pessoas se entretinham por ali, a passear os cães, sentadas nos bancos desfrutando da fresca, brincando com os filhos, jogando em grupos, novos e mais velhos. Ninguém a olhar para os telemóveis. 

Para falar com a minha mãe tive que ir a casa dela. Estava lá mais família, e entretivemo-nos até tarde a conversar, e a rir, curiosamente a minha mãe, dependente da televisão, estava muito bem humorada. 

E havia quem perguntasse, ouvi na rua: Então era assim que se vivia dantes? Pois era. E não nos faltava o que fazer, como nos entreter, sozinhos ou acompanhados. O silêncio também é bom, e a supressão das distrações sucessivas benéfica. 

Foi um dia diferente, desafiador. Gostaria que todos tivessem retirado, desta inédita situação, algo de bom. Com isto, já temos muito para reflectir!