quinta-feira, 30 de abril de 2020

E a contestação?

Onde estarão os coletes amarelos? Onde estarão os protestantes em Hong Kong? Por todo o mundo a contestação ao sistema, mais que abrandou ou parou, sumiu! E logo quando parecia alastrarçar-se e crescer. Que conveniente foi esta lei a proibir ajuntamentos, e a obrigar confinamentos.
Providencial!

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Um , dois, três... partida!

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Estou a descobrir por estes dias, estas semanas, uma série de coisas que fazem muita falta cá em casa. Coisas que avariaram, outras cuja falta nunca dei conta, e outras que preciso de substituir porque já não posso olhar para elas. Podia comprar algumas online, podia, mas por um lado embirro solenemente pagar portes de envio ( portanto, o que comprei ofereciam-no), por outro, penso que estamos quase-quase (o presidente não vai renovar o estado de emergência - Ai Liberdade, ai Constituição, amadas!), e dizia eu, quase, a poder sair de casa ( sim, já sei com a devida cautela, máscara, luvas, desinfectante e um pau bicudo de um metro, para picar quem se distrair e aproximar-se incautamente -mas eu só usarei máscara e luvas se for forçada por Lei!), e portanto, compro na loja física porque é preciso ajudar o comércio local, sobretudo o português. E se eu antes já preferia o Made in Portugal, agora estou determinada a resistir ainda mais a tentações.

Entretanto, faço a lista, comparo preços, informo-me de horários e stocks. E não quero saber dos que nas redes sociais, proféticos e malévolos, já predizem que mal se possa sair à rua vai ser uma euforia de irresponsáveis aos magotes que vão trazer o covid109 de volta. Assim como assim ele nunca foi embora, e de qualquer forma eu nunca gostei de magotes. Nem de passeios nas marginais. Por isso continuo confiante. *

* Este post foi escrito ao abrigo do Discurso Politicamente Incorrecto.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Pandemais?

" Dados do INE indicam que em 2016 morreram por doenças respiratórias 13474 residentes em Portugal, 12,1% de todas as mortes... 

Por dia, morreram 37 pessoas por doença respiratória. ...

Dos 13474 óbitos por doenças respiratórias, em 6006 a causa de morte foi Pneumonia (44,6%)... "
https://www.ondr.pt/files/Relatorio_ONDR_2018.pdfhttps://www.ondr.pt/files/Relatorio_ONDR_2018.pdf


E não foi declarado Estado de Emergência, em 2020 com 500 óbitos foi.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

A mesma tempestade

Quando vejo um daqueles desenhos das crianças a dizer "vamos ficar todos bem", sorrio; a infância é tão doce e confiante. Quando vejo um adulto a escrever a mesma frase, apetece-me gritar-lhe: Acorda, és alguma criança?!

Não estamos todos no mesmo barco, há barcos, barquinhos e barcarolas, enfrentamos sim, todos, a mesma tempestade. 
E já há sinais alarmantes disso:

"A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, disse este domingo à Renascença que “nunca viu nada assim”, referindo-se ao aumento dos pedidos de ajuda à instituição no contexto da pandemia de Covid-19, que neste momento já chegaram a 55 mil.
"Estamos a falar de 11.500 novos pedidos de apoio alimentar só este domingo de manhã. E isto são agregados familiares...
São pessoas de profissões muito, muito diversas. Desde os motoristas de taxi ou de Uber, pessoas que trabalham em ginásios, fisioterapeutas, dentistas, trabalhadores de circos ambulantes, feirantes, cabeleireiras, manicures, pessoas das profissões ligadas ao turismo. E aquilo que temos hoje é um grande número de pessoas que, de repente, não têm qualquer rendimento ou remuneração."
in Renascença

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Nunca fui muito de rebanhos

Já tenho idade para saber que ninguém convence ninguém, e que a maioria gosta de acreditar no que a maioria acredita; devem estar certos, pensam eles sem o pensar. Sentirem-se acompanhados gera um certo calor que os aconchega.
Compreendo, e estou em paz com isso. 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Dica de leitura - Vozes de Chernobyl

 
via

Ando para aqui a postergar esta dica de leitura por causa do vírus. As coisas já estão tão más que a referência a um livro com histórias profundamente dramáticas, devido à explosão de um reactor nuclear em 1986, na Ucrânia ( mas que afectou mais ainda a Bielorrússia pela proximidade e vento) me parecia demasiado. Estes dias, lavrou pela mesma região um incêndio, e aquela terra ainda tão contaminada, sofreu mais uma desgraça, que aliás os ventos podem levar a outras regiões da Europa. Portanto, que isto seja uma espécie de homenagem àquele povo, e um alerta, para que mais pessoas saibam o que ali se passou, e quão heróicos foram os que se sacrificaram por um bem maior. Maior até do que o próprio pais, pois na época se mais reactores explodissem a tragédia abrangeria todo a Europa. Esse risco existiu. Eu não tinha noção de nada disto. E por último, esta leitura faz diversos paralelismos à nossa actual conjuntura, que merece reflexão.

O livro é da autoria de Svetalana Alexievich, que recebeu o Nobel da Literatura em 2015, e que inventou um novo género: "romance de vozes", ou seja, as personagens são quem narra, são os próprios intervenientes das suas histórias, captando a cada um a sua essência. Logo na primeira história as lágrimas caíram-me pelo rosto, molhei a página e fechei o livro, pensando, como vou conseguir ler isto até ao fim? Mas senti que era importante fazê-lo, aliás um dos desabafos destas pessoas era que ninguém quereria saber das suas histórias, temos que lhes provar o contrário, que nos importamos. Para outros, era importante que as suas histórias fossem recolhidas, como exemplo da maior catástrofe tecnológica da história da humanidade. Fosse como fosse, era importante ler. E consegui, graças a uma estratégia que se revelou eficaz mas não partilharei aqui. Se alguém quiser saber, por querer ler o livro, envie-me um email.

O livro comoveu-me intensamente pelas histórias pessoais, por vezes tão simples, como o dos recém-casados, ela amava-o tanto, não podia amá-lo mais nem que ele tivesse saído dentro do seu ventre; como a da velhinha que antes de partir de sua casa lhe dirigiu palavras de gratidão e despedida; das crianças que já não correm pelas florestas a colher bagas e cogumelos. Pelo amor à Natureza, a um estilo de vida simples, tão simples como a do mundo rural do séc. XIX. E pela fé, pela crença em Deus, que nem o regime comunista conseguiu destruir. Isto espantou-me, não estava de todo à espera.

Há tantos excertos que quero partilhar, vai dar um post gigante, mas vou tentar conter-me. 

Quando aconteceu, a explosão foi relatada como um simples incêndio, os bombeiros dirigiram-se para a central em mangas de camisa. As pessoas continuaram com as suas vidas, janelas abertas para arejar, crianças a brincar na rua. E a verdade foi ocultada por muitos dias, e depois minimizada. As populações foram tranquilizadas. E finalmente, a culpa era do inimigo, ataque de alguma nação hostil, provavelmente os E.U. . Isto tudo coincidiu com a Perestroika, o desmembramento da Rússia, per se, um evento devastador a diversos níveis, que não ajudou propriamente na resolução eficaz deste acidente.

Ao falarmos do desastre de Chernobyl lembramo-nos das pessoas, mas sobretudo pela Bielorrúsia ser um pais predominantemente rural, esquecemo-nos dos campos e dos animais; o sacrifício dos animais foi algo que marcou profundamente aquelas gentes, mudando-as inclusivamente. Os campos e as árvores estavam fecundos por colheitas excepcionais, e ter que deixar para trás, subitamente, o produto do trabalho, foi-lhes penoso e incompreensível; tudo parecia normal e tentador, estava portanto contaminado pelo átomo nuclear, que pela invisibilidade lhes era algo alheio e até imaginário. Alguns colhiam e comiam às escondidas, regressando de noite às suas casas; Chernobyl assustava-os menos do que deixar as batatas por apanhar, continuaram a colher e a comer, o ano fora tão bom! P.156

Para alguns, coube-lhe na vida uma tríplice de catástrofes inimagináveis para nós, o Gulag Estalinista, a Segunda Grande Guerra e agora Chernobyl; " a memória sugeria-nos...Temos sempre vivido em ambiente de horror, sabemos viver em ambiente de horror, é o nosso habitat. Quanto a isto o nosso povo não tem igual..."p.207

Aos milhares de soldados, juntaram-se os voluntários, para limparem a radiação, " do ponto de vista da nossa cultura, pensar em si próprio é egoísta, há sempre algo maior" p.175, e portanto estes homens foram postos a trabalhar sem equipamento especial, sem qualquer preparação, prosseguindo onde os robots falhavam, e recebendo após cada turno, vodka, para lhes limpar a radiação. Como limpavam e lavavam a radiação das ruas, das casas, dos objectos é tragico-cómico, ao lermos agora. Mas na época, o desconhecimento do nuclear era geral e vasto. 

As pessoas começaram a morrer, maridos, filhos, irmãos. De formas nunca antes vistas e aterrorizadoras. E a verdade foi-se divulgando, as pessoas começaram a querer saber de quem era a culpa. Quem é o responsável, quem são os responsáveis? É provavelmente a pergunta que não cala ainda hoje. Estes depoimentos, foram 500 no total, foram recolhidos 10 anos após o desastre, e as pessoas estavam ainda atordoadas, na dor, na incompreensão. 

Naquela zona, as pessoas não se dizem russas ou bielorrussas, são chernobylianos. Uma raça à parte, de quem muitos fogem e temem. Os seus filhos têm doenças congénitas, os cancros atingem percentagens absurdas, quase que se transformaram em casos mitológicos. As jovens não querem casar com eles. As taxas de mortalidade ultrapassam as de natalidade, havendo por isso um declínio demográfico. p.20 Suspeitam, e receiam, estar em extinção como outros povos antes deles.

Cada testemunha, desde o trabalhador agrícola, ao médico, investigador, engenheiro, oferecem relatos de uma profundidade espectacular, reflectidos, com a sagacidade de filósofos invulgares. É de uma beleza pungente.

Chernobyl continua bela, selvagem e luxuriante, mas está contaminada e estará por milhões de anos. 
Este é mesmo o livro que todos deveriam ler! 

sexta-feira, 17 de abril de 2020

A autópsia de um equívoco - Covid19

André Dias, PhD., é Doutorado em Modelação de Doenças Pulmonares pela Universidade de Tromso, na Noruega. A instituição que o acolheu é uma das mais prestigiadas do mundo na área de investigação em epidemiologia.
Tal como já escrevi aqui, o pânico lançado pelo Covid-19 deve-se aos jornalistas, foram eles que manipularam as massas, instigando-as a pressionar os governos, não permitindo que os filhos fossem à escola, e fechando o comércio, exortando pelas redes sociais, ao fecho do país. 
A opinião de investigadores e profissionais, altamente qualificados, da saúde foi simplesmente descartada. Se estes não tiverem um discurso condizente com os propaladores da desgraça, são simplesmente silenciados, os media não lhes dão voz. Em conformidade, deram destaque a um matemático português, cujas previsões catastróficas se revelaram incorrectas. E graças a Deus! Porque Matemática é uma coisa, e Saúde é outra ciência, e dela entendem os profissionais da sua área. 
Aconselho a que ouçam esta entrevista e considerem que, por exemplo, em 2017 houve um dia em Janeiro que morreram 578 pessoas (num só dia!), e 278 foram por gripe.

Lamento muito que tantos estejam a viver, estes dias, completamente amedrontados e em pânico. A informação correcta não está nos telejornais, nem nas notícias do mainstream. Mas existe.


quarta-feira, 15 de abril de 2020

O Bule da Pandemia


Se a Filipa Gomes pode ter um Pãodemia, eu também poderei muito bem ter um Buledemia, ou não? Mas não é por isso. Gosto muito de bules de chá, estão numa prateleira na cozinha, são decorativos mas todos usados; há o de Natal, que uso todo o Dezembro, o do Outono, da Primavera, O do chá a solo, outro para grupos. Se forem muitas pessoas não ligam nada ao bule, então vai o da V.A., igual ao serviço.

Não quero que me ofereçam bules porque é uma coisa muito, muito pessoal, assim tipo sapatos, tenho que olhar e ficar cativada. Portanto, nem a prateleira é assim tão comprida, nem os bules que me aparecem me tentam de paixão. Por isso, é assim uma espécie de colecção muito exclusiva. 
Este, da foto, está no carrinho das bebidas na sala, e tem sido decorativo unicamente, mas estes dias, para acompanhar os scones lembrei-me dele; será a sua ocasião, a da pandemia, correndo o risco de nunca mais o voltar a usar. Ou talvez não, pode ser que o use mais vezes. Não se sabe, porque isto de datas relacionadas com a Quarentena anda sempre mais para a frente, nem que seja na linha do hipoteticamente. 
Por um lado até seria uma pena, o chá ficou muito bom, neste bule. 

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Uma Páscoa diferente




Esta Páscoa foi muito estranha, e isso já eu sei que é de opinião geral; para todos foi diferente do que costuma ser. Para nós, que habitualmente passamos com a família alargada, no Douro (o Duarte e Letícia nem sequer se lembram de outra), ficar em casa fez com que tivesse de me ocupar com os preparativos, que normalmente não tenho. Nos outros anos comprava os presentes dos afilhados, os chocolates e amêndoas, fazia uma sobremesa para levar, e pronto. Este ano não fiz nada disso, mas dediquei o sábado de tarde à cozinha; fiz um pão de ló, outro de Ovar, um folar vegan e outro normal, uma fornada de coquinhos, uma tarte de amêndoa, e amêndoas caramelizadas.
No domingo pus uma mesa bonita, e fiz um almoço, desculpem a falta de modéstia, super delicioso, mais que isso, vou dizê-lo: perfeito. Assado de carne para o Duarte, e para nós os três, arroz branco, batatinhas novas assadas, rolo da Linda MacCartney e grelos salteados. Regado com champanhe de mirtillos, de uma produção local, que desconhecíamos, mas que aprovamos. E repetiremos. Depois as sobremesas, que incluía ainda um bolo de baunilha e chocolate vegan, e café.  


Desde sexta-feira que me dediquei a ouvir alguns audíos de cariz religioso, intercalados com música sacra. E tudo isto me fez entrar num estado de espírito que, realmente, se identifica com a Quaresma. Portanto, tudo se proporcionou para que o recolhimento devido se concretizasse, e dei comigo a pensar que embora seja uma Páscoa diferente, a estava a sentir muito mais intensamente. Pode ter sido diferente, mas isso não significa que foi pior. Foi até muito boa, a minha Páscoa.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Scones vegetarianos



Já experimentei diversas receitas de scones vegetarianos, de fontes diferentes mas todas vegetarianas, e nunca nenhuma nos convenceu. Até esta, que é oriunda da Teleculinária, e que eu adaptei ligeiramente. Tenho mesmo que tirar o chapéu à Teleculinária, nada do que retiro dali me desaponta! 


Scones

Ingredientes:
350 gr de farinha
85 gr de manteiga vegetal
1,75 dl de bebida vegetal (usei aveia)
1 pitada de sal
3 c.de sopa de açúcar
Sumo de um limão
1 c.de café de essência de baunilha

Como fazer:
Colocar os ingredientes secos numa tigela e envolver. Os líquidos noutra e misturar ambos. Passar para a bancada e esticar a massa com a mão, cortar com a forma, colocar em tabuleiro forrado com papel de ir ao forno. Pincelar com bebida vegetal e uma pitada de cúrcuma.
Levar ao forno a 180º, cerca de 15 minutos. 

Servir quentinhos com compota e manteiga. Manteiga vegetal, claro. E um chá preto e forte. Do best! 

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Uma coisa boa e bela por dia


Todos os dias há uma coisa boa e bela. Às vezes, engraçada.

Da primeira vez que vi este vídeo no FB fiquei fascinada, acho que o vi em loop umas dez vezes. Continuo a achá-lo super divertido.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

A minha flor preferida é um lembrete




Durante anos a  túlipa foi a minha flor preferida; era ainda uma miúda quando as notei, no quintal da vizinha de uma prima, plantadas em talhão quadrado, como um qualquer talhão de alhos, por exemplo, e na Primavera lá começavam elas a florir, ano após ano, e que me conste, ninguém as cortava. Talvez uma das filhas levasse algumas para "assear" um santo da Igreja, porque ela era muito dessas coisas; mas sendo o caso, devia escolhê-las de forma a que o talhão permanecesse perfeitamente constituído, e as suas falhas estrategicamente disfarçadas. Aquilo intrigava-me um bocado, certo, eram bonitas de se ver ali no quintal, mas porque não as cortavam para decorar a casa? Também não tenho a certeza que não o fizessem, nunca lhes entrei em casa, mas lá está, o talhão de túlipas parecia perfeitamente intocado.

Eu sempre tive uma certa fascinação por flores, já de criança fazia o meu próprio jardim, na propriedade dos meus avós paternos; o meu pai ajudava-me a alimentar estes gostos, financiando-me na aquisição das flores, e até mas regava, se calhava de me esquecer, ou ao fim de algum tempo me desinteressava; mas não percebia grande coisa de jardinagem, nem nomes, nem técnicas, nem épocas, eu queria era ver as flores a florir, e a dado ponto também plantei tulipas. A sensação que tinha era que os bolbos demoravam uma eternidade a brotar da terra, e que depois de florirem se desvaneciam muito rapidamente. Era frustrante, sobretudo porque não era nada a ideia que tinha do dito talhão, que me parecia ficar em flor, semanas a fio. Se calhar não, seria a minha mente a ludibriar-me, porque como se sabe, aquelas memórias de infância têm sempre o seu quê de fantasioso. 

Entretanto, já adulta e de férias na Holanda, notei em muitas casas umas flores que estavam nos parapeitos de janelas; achei bonito, elegante, e ao fim de alguns dias reuni coragem para perguntar a um senhor, que saía de uma dessa casas, que flores eram aquelas, e a resposta, do senhor muito espantado pela evidência da questão, foi: "´orquídeas"! 

Eu até já tinha recebido de um "pretendente", anos antes, uma orquídea numa caixa de florista, assim toda bem protegida, com o curto caule metido num frasquinho com água, para a preservar. Guardei-a durante muito tempo, mesmo seca achava-lhe graça. Mas entre essa e as holandesas não havia correlação, a primeira era apenas uma pequena flor, as segundas, estavam em vasos, tinham canos altos e finos, e muitas flores, e havia-as de várias cores. A partir daí, não posso garantir, mas acho que foi o meu marido que me ofereceu o primeiro vaso de orquídeas, propagou-se a ideia de que seria uma flor adequada para me oferecer, e passei a recebê-las, como se fossem as minhas flores preferidas. Mas não eram. 

Ao contrário do que me diziam, eram muito resistentes, e por isso fui-as coleccionando; confesso que ainda assim morreram uma ou duas, porque teimava deixá-las na sala de jantar, mas quando comecei a perceber quais os sítios em que elas preferiam ficar, na janela da cozinha ( é o hospital, as fraquinhas recuperam-se milagrosamente ali), a sala de estar, e no meu quarto (aí faço como os holandeses, vários vasos de orquídeas em permanência), elas têm durado anos, e na Primavera, como relógios suíços, lá estão elas a esticar os caninhos verdes, com os botõezinhos, que depois se abrem em flores tão perfeitas tão perfeitas, que parecem falsas. E com o tempo fui-me apercebendo disso, de como parecem delicadas, e porém  de como são robustas as suas pétalas, da singeleza do seu recorte e portanto, extremamente requintado, e para cúmulo, da durabilidade da sua floração. É verdade, não têm odor, mas por isso também podem ficar no quarto. E assim me apercebi que afinal as orquídeas tinham tomado o lugar das tulipas; foi um longo caminho, até chegar a esta conclusão. E porquê? Talvez porque o amor à primeira vista não precisa de argumentos, para se gostar, mas o amor duradouro alimenta-se de pequenas constâncias de que só damos conta ao longo do tempo. 

Só sei que quando as cuido, observo e admiro, dou por mim a pensar em Deus, e a concluir que semelhante perfeição e beleza não podem ser obra do acaso; há propósito e suprema estética naquela visão. Como se elas fossem mensageiras na terra dos planos celestes, em magnifica afirmação do "eu existo".