quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Vinho


Passamos uma vida inteira a tentar encontrar as palavras certas para descrever uma situação, um local, um sentimento, uma pessoa, sem sucesso. E de repente, encontramos aquilo perfeitamente grafado por outra pessoa, como se ela o vivesse ou sentisse também.  É mais do que o domínio da palavra; é como se por artes mágicas, aquela pessoa tivesse entrado na essência, daquilo que nós não somos capazes.
Isto a propósito do vinho que o meu pai produzia, para consumo particular, quando eu tento descrever como era bom, e como deixava o palato encantado de quem o bebia pela primeira vez: 
“O que mais aprecio são pequenas colheitas particulares, vinhos muito puros, leves e modestos, sem nomes especiais; podem beber-se fácil e inofensivamente em grande quantidade, e têm um sabor doce e agradável a campo e a terra, a céu e a bosque. “

In O lobo das Estepes, Hermann Hess

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Dica de Leitura: "Persuasão"

Via

Aconselhei este livro à Letícia, por me ter pedido clássicos da literatura mundial, e por ter pertencido ao grupo de livros que li na idade dela. Devorou-o numa semana. E claro, por já não me lembrar dele, também o quis ler.

Um pouco a fórmula de Jane Austen, um amor contrariado por alguma razão, com um final feliz, por merecimento. Anne Elliot, a protagonista reencontra Frederick, o seu breve e antigo noivo, e os sentimentos que se acreditavam estar de parte a parte ultrapassados, estavam apenas adormecidos. Pelo meio, alguns episódios que envolvem outras personagens, constituindo outras histórias, mas tudo se relaciona, como uma teia bem tecida que conjuga o fio certo no momento certo.

O encanto de uma época em que os valores morais se destacavam na construção da opinião sobre as pessoas; em que não sendo imunes à beleza, a beleza interior reforçava a exterior. Não sendo a protagonista a mulher mais bela, essa característica ressaltava mais fortemente, à medida que as suas acções e comportamentos a davam a conhecer.
A linguagem era tão reveladora das personalidades que indicava o bom senso, a sua moderação. Os sentimentos, quando despontavam, eram fundamentados nos valores mais basilares do carácter, e por isso havia uma seriedade profunda nos compromissos. Havia também os seus opostos, porém, a cada parte calhava receber o que fosse merecedor.

A escrita de Jane Austen lembra como a actual escrita é pobre e reduzida, nos seus vocábulos limitados e repetidos; como o diálogo era uma arte refinada e digna de ser cultivada. Tudo tão contrastante com a actualidade, que nos faz pensar realmente que o caminho da humanidade, nestas questões, é claramente descendente. 

Há ainda uma certa passagem, pela voz de Anne, que prontamente me foi referida pela Letícia, pela sua pertinente faceta feminista, que não posso deixar de destacar:

"- Sim. Nós com certeza não os esquecemos tão depressa como vocês nos esquecem a nós. Talvez seja mais destino nosso do que mérito vosso. Nós não podemos evitá-lo. Vivemos em casa, sossegadas, enclausuradas, e os nossos sentimentos consomem-nos. Vocês são obrigados a esforçar-se, têm sempre uma profissão, actividades, negócios de uma natureza ou outra que os remetem, de novo, imediatamente, para o mundo, e a ocupação e mudança contínuas enfraquecem imediatamente as impressões. "

Ao contrário do que possa parecer, para um livro que retrata a sociedade inglesa do séc.XIX, com as suas regras rígidas sobre tudo, e uma seriedade que praticamente proibia o humor e o riso, a leitura é fácil e deliciosa, tornando-se desde as primeiras páginas uma leitura viciante.

Título: Persuasão
Autora: Jane Austen
Editorial Presença
Nr de pág. 253 

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Como chatear o seu adolescente:

😝
1. Dizer "bom-dia"
2. Cantar qualquer canção dos anos 80
3. Dizer "amo-te" em público
4. Fazer-lhe tags nas Redes Sociais
5. Respirar


Autoria anónima. Milhões de mães poderão reclamá-la.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Regresso às aulas? Calma com o andor!



Esta semana já vimos num supermercado o material de regresso às aulas. A Letícia ia tendo um fanico, ainda no dia 23 fez o último exame, mal sentiu o cheiro a férias, e já tem que levar à frente com a Escola? Entretanto, também já viu alguns vídeos de youtubers a fazerem a série de "regresso às aulas", o que a indignou mais ainda. Estamos a um de Agosto! A meio das férias. 

Parece que os supermercados receiam que as famílias despendam todo o dinheiro nas férias, e não lhes sobre nada para o material escolar, agora que os manuais são oferta do governo. 

Na verdade, este regresso às aulas tornou-se numa grande negociata; para além dos manuais, o material escolar, que a maior parte dos alunos parece comprar de novo, mesmo não precisando de substituição, a começar na mochila e a terminar na borracha, há também a roupa nova para o primeiro dia, e sapatilhas a condizer. O regresso às aulas tornou-se numa espécie de "rentrée" formal e cerimoniosa. Que sai bem caro aos pais, e muito mais do que deveria. 

Tanto se fala do consumismo exacerbado, de que o planeta não aguenta estes hábitos de consumo, que já estamos a consumir por conta do próximo ano, e todos se comovem, e os alunos fazem greve, e os alunos manifestam-se, e porém, este tipo de comportamento não é sequer questionado, como se nada tivesse a ver.  

Deveria chegar, regressar à Escola com a cabeça fresca e disposição para aprender; vontade de crescer e contribuir para um mundo melhor. Fazer melhor do que as gerações anteriores, e não continuar na mesma linha. 
Mas afinal para que servem as férias?