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Aconselhei este livro à Letícia, por me ter pedido clássicos da literatura mundial, e por ter pertencido ao grupo de livros que li na idade dela. Devorou-o numa semana. E claro, por já não me lembrar dele, também o quis ler.
Um pouco a fórmula de Jane Austen, um amor contrariado por alguma razão, com um final feliz, por merecimento. Anne Elliot, a protagonista reencontra Frederick, o seu breve e antigo noivo, e os sentimentos que se acreditavam estar de parte a parte ultrapassados, estavam apenas adormecidos. Pelo meio, alguns episódios que envolvem outras personagens, constituindo outras histórias, mas tudo se relaciona, como uma teia bem tecida que conjuga o fio certo no momento certo.
O encanto de uma época em que os valores morais se destacavam na construção da opinião sobre as pessoas; em que não sendo imunes à beleza, a beleza interior reforçava a exterior. Não sendo a protagonista a mulher mais bela, essa característica ressaltava mais fortemente, à medida que as suas acções e comportamentos a davam a conhecer.
A linguagem era tão reveladora das personalidades que indicava o bom senso, a sua moderação. Os sentimentos, quando despontavam, eram fundamentados nos valores mais basilares do carácter, e por isso havia uma seriedade profunda nos compromissos. Havia também os seus opostos, porém, a cada parte calhava receber o que fosse merecedor.
A escrita de Jane Austen lembra como a actual escrita é pobre e reduzida, nos seus vocábulos limitados e repetidos; como o diálogo era uma arte refinada e digna de ser cultivada. Tudo tão contrastante com a actualidade, que nos faz pensar realmente que o caminho da humanidade, nestas questões, é claramente descendente.
Há ainda uma certa passagem, pela voz de Anne, que prontamente me foi referida pela Letícia, pela sua pertinente faceta feminista, que não posso deixar de destacar:
"- Sim. Nós com certeza não os esquecemos tão depressa como vocês nos esquecem a nós. Talvez seja mais destino nosso do que mérito vosso. Nós não podemos evitá-lo. Vivemos em casa, sossegadas, enclausuradas, e os nossos sentimentos consomem-nos. Vocês são obrigados a esforçar-se, têm sempre uma profissão, actividades, negócios de uma natureza ou outra que os remetem, de novo, imediatamente, para o mundo, e a ocupação e mudança contínuas enfraquecem imediatamente as impressões. "
Ao contrário do que possa parecer, para um livro que retrata a sociedade inglesa do séc.XIX, com as suas regras rígidas sobre tudo, e uma seriedade que praticamente proibia o humor e o riso, a leitura é fácil e deliciosa, tornando-se desde as primeiras páginas uma leitura viciante.
Título: Persuasão
Autora: Jane Austen
Editorial Presença
Nr de pág. 253