"As angolans são mais rigidas do que as portuguesas, acho eu. Eu recomendo que não cedam aos caprichos das crianças e que não tenham medo de se fazer obedecer.
Nós, angolanas da minha geração, que tenho 38 anos, crescemos sem espaço de manobra. Não sei se era das sequelas da guerra, de pais que estavam pouco tempo connosco e portanto tinham
de se concentrar no que era essencial, mas a educação em nossas casas sempre teve muita rigidez. Crescemos com a ideia que os nossos pais eram a autoridade máxima, e isso nunca nos fez confusão. Levávamos palmadas e havia mesmo quem levasse chicotadas, mas na realidade só era preciso um olhar para obedecermos. Crescia-se com o fantasma do chinelo ( às vezes não era só o fantasma).
Eu não sou tão rígida com os meus filhos porque os tempos também são outros, mas mantenho essa ideia de que os pais são a autoridade máxima, que partilham com os professores (a educação, acho eu, deve ser trabalho conjunto). E os meus filhos também obedecem a um olhar meu.
Eles não fazem birras em casa, não choram no hipermercado. Nem é preciso levarem uma palmada - o meu olhar é desafiador. E isto não significa falta de carinho. Eles amama-me na mesma porque eu estou com eles em todas as alturas importantes da vida deles.
Acho que os pais não deviam ter tanto medo que os filhos deixem de gostar deles, porque a nossa posição de pais já está mais do que garantida. Ainda hoje, quando o meu pai me diz: Tu vê lá! eu ainda oiço."
Nós, angolanas da minha geração, que tenho 38 anos, crescemos sem espaço de manobra. Não sei se era das sequelas da guerra, de pais que estavam pouco tempo connosco e portanto tinham
de se concentrar no que era essencial, mas a educação em nossas casas sempre teve muita rigidez. Crescemos com a ideia que os nossos pais eram a autoridade máxima, e isso nunca nos fez confusão. Levávamos palmadas e havia mesmo quem levasse chicotadas, mas na realidade só era preciso um olhar para obedecermos. Crescia-se com o fantasma do chinelo ( às vezes não era só o fantasma).
Eu não sou tão rígida com os meus filhos porque os tempos também são outros, mas mantenho essa ideia de que os pais são a autoridade máxima, que partilham com os professores (a educação, acho eu, deve ser trabalho conjunto). E os meus filhos também obedecem a um olhar meu.
Eles não fazem birras em casa, não choram no hipermercado. Nem é preciso levarem uma palmada - o meu olhar é desafiador. E isto não significa falta de carinho. Eles amama-me na mesma porque eu estou com eles em todas as alturas importantes da vida deles.
Acho que os pais não deviam ter tanto medo que os filhos deixem de gostar deles, porque a nossa posição de pais já está mais do que garantida. Ainda hoje, quando o meu pai me diz: Tu vê lá! eu ainda oiço."
Carla David, dois filhos de 4 e 9 anos, in Revista Activa, Maio 2015
Fiquei com a impressão que para a mãe angolana a ênfase da educação está na "autoridade"; que os pais sejam a autoridade, reconhecidos como tal, e que por isso se façam respeitar e obedecer.
Não posso discordar da brandura dos pais portugueses, porque me parece um facto; por vezes, e talvez demasiado frequentemente, as crianças parecem ser a autoridade nas suas famílias. Decidem, escolhem, rejeitam e "exigem", sobre coisas que ainda não têm maturidade para tal.
Segundo os psicólogos, é mais pernicioso a parentalidade omissa do que a autoritária; as crianças confundem-na com "indiferença" dos pais. Então, aqui está algo que podemos aprender com a mãe angolana.