Recentemente, ouvi um homem na casa dos 30 a afirmar em modo interrogativo, como poderia ter filhos, trabalhando com os horários que tem e ganhando o ordenado que ganha. Apesar de licenciado e culto, está empregado numa cadeia de restauração, pouco reconhecida pelos direitos laborais. As perspectivas de progressão são baixas, portanto. Eu poderia dizer-lhe que as razões para ter filhos são várias, mas nenhuma racional, como as que ele apresenta. Porém, as dele parecem-me conscientes o suficiente para serem escutadas sem refutação.
A verdade é que vivemos num Continente onde a baixa natalidade é real e preocupante. Os alertas surgem de longe a longe, e alguns países combatem essa tendência, sempre em queda, com medidas incentivadoras, que aparentemente não surtem grande efeito. São pessoas que vivem já muito bem, porquanto medidas económicas não terão peso determinante. As pessoas querem tranquilidade, tempo sobretudo para elas, para fazerem as suas coisas. Querem liberdade. E os filhos constrangem esses planos a solo, ou em casal, já se sabe.
Que a Europa esteja em declínio populacional não é facto que comova ou questione a maioria dos europeus. Aliás, grande parte dos actuais líderes da Europa não têm filhos: Angela Merkel na Alemanha, Emmanuel Macron na França, Leo Varadkar na Irlanda, Paolo Gentiloni na Itália, Mark Rutte na Holanda, Xavier Bettel no Luxemburgo, Theresa May em Inglaterra*. Serão estes políticos reflexo da presente sociedade ou serão eles os timoneiros lançadores de tendência? Deveriam ser antes exemplo.
A mim, preocupa-me sobretudo que a Europa esteja a ser governada por gente que não possui descendência. A maternidade/ paternidade dá-nos uma motivação extra para trabalharmos para um melhor futuro. O interesse sobre a qualidade de vida, em todos os níveis, passa a ter impacto directo sobre a nossa progenitura. Já não nos é indiferente que após a nossa passagem, o Mundo fique como calhar. Deixamos cá quem mais amamos e por isso passamos a amar mais esta casa colectiva.
Gerir um pais, um Continente, o Mundo, sabendo que nele temos filhos dá-nos sem dúvida outra perspectiva. Impulsiona-nos a ser uma versão superior de nós próprios, a fazer o melhor no presente por saber que terá impacto no futuro. Quem acreditar que os lideres políticos não necessitam deste tipo de incentivo, e que farão o seu melhor apenas pelo sentido de missão, de servir o cidadão, que fique tranquilo. Não é o meu caso; receio que a infecundidade dos nossos políticos reflicta também uma esterilidade social, ambiental, económica, em suma, uma prática política de terra queimada. Visse eu uma cidadania consciente como costume habitual na nossa sociedade, poderia acreditar na existência de um contra-poder, contudo nada disso vejo. Apenas indiferença pelas coisas maiores e embevecimento pelas ninharias fúteis e passageiras.
Haverá despertador capaz de acordar as pessoas deste transe profundo? Eu penso, sinceramente, que serão os nossos filhos este alarme.
* Vide O Globo
A verdade é que vivemos num Continente onde a baixa natalidade é real e preocupante. Os alertas surgem de longe a longe, e alguns países combatem essa tendência, sempre em queda, com medidas incentivadoras, que aparentemente não surtem grande efeito. São pessoas que vivem já muito bem, porquanto medidas económicas não terão peso determinante. As pessoas querem tranquilidade, tempo sobretudo para elas, para fazerem as suas coisas. Querem liberdade. E os filhos constrangem esses planos a solo, ou em casal, já se sabe.
Que a Europa esteja em declínio populacional não é facto que comova ou questione a maioria dos europeus. Aliás, grande parte dos actuais líderes da Europa não têm filhos: Angela Merkel na Alemanha, Emmanuel Macron na França, Leo Varadkar na Irlanda, Paolo Gentiloni na Itália, Mark Rutte na Holanda, Xavier Bettel no Luxemburgo, Theresa May em Inglaterra*. Serão estes políticos reflexo da presente sociedade ou serão eles os timoneiros lançadores de tendência? Deveriam ser antes exemplo.
A mim, preocupa-me sobretudo que a Europa esteja a ser governada por gente que não possui descendência. A maternidade/ paternidade dá-nos uma motivação extra para trabalharmos para um melhor futuro. O interesse sobre a qualidade de vida, em todos os níveis, passa a ter impacto directo sobre a nossa progenitura. Já não nos é indiferente que após a nossa passagem, o Mundo fique como calhar. Deixamos cá quem mais amamos e por isso passamos a amar mais esta casa colectiva.
Gerir um pais, um Continente, o Mundo, sabendo que nele temos filhos dá-nos sem dúvida outra perspectiva. Impulsiona-nos a ser uma versão superior de nós próprios, a fazer o melhor no presente por saber que terá impacto no futuro. Quem acreditar que os lideres políticos não necessitam deste tipo de incentivo, e que farão o seu melhor apenas pelo sentido de missão, de servir o cidadão, que fique tranquilo. Não é o meu caso; receio que a infecundidade dos nossos políticos reflicta também uma esterilidade social, ambiental, económica, em suma, uma prática política de terra queimada. Visse eu uma cidadania consciente como costume habitual na nossa sociedade, poderia acreditar na existência de um contra-poder, contudo nada disso vejo. Apenas indiferença pelas coisas maiores e embevecimento pelas ninharias fúteis e passageiras.
Haverá despertador capaz de acordar as pessoas deste transe profundo? Eu penso, sinceramente, que serão os nossos filhos este alarme.
* Vide O Globo