O passarinho já tinha nascido em cativeiro, portanto, a gaiola era a sua casa, nem sequer se lembrava de outra. Por vezes, sentia-se triste, não sabia exactamente o que lhe faltava, porque comida e água lhe eram oferecidas diariamente, mas ainda assim...
Saltitava pelo espaço, mal estendendo as asas, cantava, ora melodias alegres, ora mais tristes, comia, dormia, numa existência repetitiva dia após dia.
Uma manhã, a porta da gaiola ficou aberta e o passarinho viu-a. Aproximou-se dela e instintivamente saiu, voando desajeitadamente, e pousou no móvel mais próximo. Olhou de fora a sua casa, pela primeira vez. Pareceu-lhe realmente pequena, quando agora que olhava em redor, tudo lhe parecia engrandecido. E nesse momento em que avaliava o seu entorno, viu que a porta da varanda estava também aberta, escancarada para uma cor azul, com pinceladas de branco. Vinha daí uma aragem fresca, que lhe fez abanar um pouquinho as penas delicadas. Era uma sensação convidativa, e por isso, o Passarinho, não hesitou em lançar-se no segundo voo, pousando-se no candeeiro do tecto.
Ó, como era fresco aquele ar do lado de lá! E as cores vibrantes moviam-se, numa dança esfuziante e hipnótica. Mas ele tinha medo. Na sua gaiola sabia com o que contar, estava seguro, apesar de até já ter sentido alguns sustos, como daquela vez em que o seu canto imprevisto incomodou alguém já aborrecido, dando um abanão súbito à gaiola. Mas ainda assim...
Olhou para a gaiola, e olhou para fora. O lar, e o mundo. O conhecido e o desconhecido. E quase sem pensar, como se o seu pequeno corpo tomasse o comando, voou novamente, para o segundo candeeiro do tecto que ficava ainda mais perto da porta. Tremeu de emoção, excitação e temor. O vento abanava-lhe agora as penas com mais força, como que o incitando à libertação, num frenesim exterior que bem poderia reflectir a sua alma.
Algo o fez olhar subitamente para um par de olhos atentos, que o observava silenciosamente. Enroscado no sofá, o Gato tinha levantado somente a cabeça, e olhava-o expectante. O Passarinho conhecia-o, já lhe tinha causado também alguns sustos, inquietou-se por isso, mas também sabia que agora o Gato não o podia alcançar. Simplesmente sabia. O que ignorava é que ao Gato nem lhe passava pela cabeça apanhá-lo; num mantra silencioso, repetia : Vai, voa! Aproveita a porta aberta, sê livre!
Claro que os gatos não pensam, mas sentem, e sentir é também uma forma de pensar, dado que tantas vezes, agimos impulsionados pelos sentimentos. E claro que os animais não comunicam telepaticamente, e porém, o Passarinho, como que ouvindo o conselho do Gato, olhou novamente para o exterior.
Toda a sua vida aprisionado, confinado a um espaço diminuto, e agora tinha a oportunidade de ser livre, de ser um habitante do mundo!
- Vai, seu tolo! Não hesites! Continuava o Gato - Tem cuidado, não baixes a guarda, mas vai viver a vida de um animal livre. A tua vida!
Como que desistindo, o Gato baixou novamente a sua cabeça, pousando-a nas patas dianteiras, mantendo o seu olhar, sempre fixo, no Passarinho; a vida pode dar-te oportunidades, mas só tu as poderás aproveitar.
A tremelicar, o Passarinho abriu as asas lentamente...
Conto dedicado a todos os "passarinhos" que estão à porta da gaiola.
Saltitava pelo espaço, mal estendendo as asas, cantava, ora melodias alegres, ora mais tristes, comia, dormia, numa existência repetitiva dia após dia.
Uma manhã, a porta da gaiola ficou aberta e o passarinho viu-a. Aproximou-se dela e instintivamente saiu, voando desajeitadamente, e pousou no móvel mais próximo. Olhou de fora a sua casa, pela primeira vez. Pareceu-lhe realmente pequena, quando agora que olhava em redor, tudo lhe parecia engrandecido. E nesse momento em que avaliava o seu entorno, viu que a porta da varanda estava também aberta, escancarada para uma cor azul, com pinceladas de branco. Vinha daí uma aragem fresca, que lhe fez abanar um pouquinho as penas delicadas. Era uma sensação convidativa, e por isso, o Passarinho, não hesitou em lançar-se no segundo voo, pousando-se no candeeiro do tecto.
Ó, como era fresco aquele ar do lado de lá! E as cores vibrantes moviam-se, numa dança esfuziante e hipnótica. Mas ele tinha medo. Na sua gaiola sabia com o que contar, estava seguro, apesar de até já ter sentido alguns sustos, como daquela vez em que o seu canto imprevisto incomodou alguém já aborrecido, dando um abanão súbito à gaiola. Mas ainda assim...
Olhou para a gaiola, e olhou para fora. O lar, e o mundo. O conhecido e o desconhecido. E quase sem pensar, como se o seu pequeno corpo tomasse o comando, voou novamente, para o segundo candeeiro do tecto que ficava ainda mais perto da porta. Tremeu de emoção, excitação e temor. O vento abanava-lhe agora as penas com mais força, como que o incitando à libertação, num frenesim exterior que bem poderia reflectir a sua alma.
Algo o fez olhar subitamente para um par de olhos atentos, que o observava silenciosamente. Enroscado no sofá, o Gato tinha levantado somente a cabeça, e olhava-o expectante. O Passarinho conhecia-o, já lhe tinha causado também alguns sustos, inquietou-se por isso, mas também sabia que agora o Gato não o podia alcançar. Simplesmente sabia. O que ignorava é que ao Gato nem lhe passava pela cabeça apanhá-lo; num mantra silencioso, repetia : Vai, voa! Aproveita a porta aberta, sê livre!
Claro que os gatos não pensam, mas sentem, e sentir é também uma forma de pensar, dado que tantas vezes, agimos impulsionados pelos sentimentos. E claro que os animais não comunicam telepaticamente, e porém, o Passarinho, como que ouvindo o conselho do Gato, olhou novamente para o exterior.
Toda a sua vida aprisionado, confinado a um espaço diminuto, e agora tinha a oportunidade de ser livre, de ser um habitante do mundo!
- Vai, seu tolo! Não hesites! Continuava o Gato - Tem cuidado, não baixes a guarda, mas vai viver a vida de um animal livre. A tua vida!
Como que desistindo, o Gato baixou novamente a sua cabeça, pousando-a nas patas dianteiras, mantendo o seu olhar, sempre fixo, no Passarinho; a vida pode dar-te oportunidades, mas só tu as poderás aproveitar.
A tremelicar, o Passarinho abriu as asas lentamente...
Conto dedicado a todos os "passarinhos" que estão à porta da gaiola.