O Douro é lindo para turistas, e formidável fonte de rendimentos para os donos dos barcos, dos hotéis de charme e bem estrelados. Para meia dúzia de produtores de vinho, com nome e capacidade financeira para promover as suas safras.
Para quem o habita, nele trabalha e dele vive, é outra coisa, bem diferente.
As aldeias perderam os Centros de Saúde, as escolas, e as gerações jovens, que partindo em busca de uma vida menos dura e mais bem paga, as deixaram silenciosas e vazias.
Trabalham a terra os velhos teimosos, conformados com a falta de forças, em continuo decrescer, com ajuda de trabalhadores à jorna, a grande custo muito bem pagos. Fazendo contas ao dinheiro da venda do vinho ( cada ano mais mal pago), que chega sempre e cada vez mais atrasado. Sentindo o desamparo da Casa do Douro, que para os pais e avós foi sólido e idóneo parceiro.
E como se o presente não bastasse de preocupação, inquietam-se com o amanhã; o que acontecerá às terras que cultivam de geração em geração? Quem, de entre os filhos, as quererá, se escolhendo outra profissão, agora ignoram como se faz, ou manda fazer? O futuro é incerto, mas prenuncia-se angustiante, sobretudo, pela suspeita do fim de linha.
O Douro das telenovelas, dos cruzeiros, das provas de vinho e turismo vinícola é outro; alimenta quem menos o conhece e ama. Promove-o para os seguidores dos ideais capitalistas, que venham também aqui abocanhar o seu pedaço. Enquanto os que verdadeiramente fazem do Douro aquilo que ele é, deixando a pegada nos seus socalcos, morrem à mingua.
Enquanto uns pagam para "brincar às vindimas", os agricultores do Douro debatem-se com o habitual problema de falta de mão-de-obra para a apanha da uva.
Muitos agricultores vendem azeite e vinho ao garrafão; basta empurrar o portão da Quinta e chamar "ó da casa", para levar consigo produtos caseiros de alta qualidade, a preços justos. Mas não, preferem comprar nas lojas de "souvenirs", nos supermercados e Garrafeiras.
O Douro dos turistas é lindo, mas o dos durienses é duro. Não há governo, nem ministro da Agricultura, nem turista com quem possam contar. Estão por sua conta, e sabem-no. Resta saber até quando.