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Faz-me impressão esta necessidade que os humanos têm de adorar os heróis, de os seguir, e de guardar as suas imagens, seja em pop figures, seja em posteres seja em filmes.
Está bem que andando o mundo como anda, precisamos de acreditar que alguém nos há-de salvar, alguém há-de vir, um qualquer D.Sebastião, de preferência difícil de matar, como o super-homem, que consiga voar e escalar os grotescos problemas do planeta, para impedir os malvados de levarem sempre, a sua - a deles- avante. Então, vai daí que nos servem ocasionalmente estes heróis de ficção, para nos dar alento, ou embalar num sono profundo que cremos real, e deixarmos a resistência para esses falsos super heróis, que têm qualidades supra humanas que nós, coitaditos, não teremos nunca.
Vivemos tão embrenhados na ficção que até esquecemos que na vida real há montes de heróis, que todos os dias põem as suas vidas em perigo, por questões de consciência, por acreditarem tão intrinsecamente numa ideia, que viver num mundo onde ela não seja respeitada, lhes parece inconcebível; de tal forma que preferem pagar com a vida a reclamação dessa ideia. Não que a vida não lhes seja cara, só que lhes é mais caro aquele ideal, e por isso escolhem sacrificá-la para que outros possam viver num mundo onde aquele ideal exista e vigore. Como o Clóvis, de Madagáscar, que luta em defesa da floresta tropical, devastada pelos traficantes do pau-rosa, com a conivência da autoridade. Ou os 11 de Istambul, presos por defenderem os direitos humanos. E tantos outros, divulgados na página da Amnistia Internacional, que apenas precisam de uma assinatura nossa, a endossar as causas que defendem, também em nosso nome.
Se isto não é ser herói, a sério que não sei o que é. E a nós, cabe-nos fazer tão pouco; explicar aos nossos filhos que estes heróis existem, contar-lhes sobre as lutas e campanhas deles, ensinar-lhes que herói é quem se levanta contra o mal, que pugna por um bem comum. E que essas pessoas existem, podem estar longe, em causas longínquas, mas também perto de nós, como quando um jovem anónimo intervém em defesa de um desconhecido que está a ser atacado. Incentivando-os assim a terem um papel activo na sociedade, ao invés de serem apenas contemplativos do grande ecrã, convencidos de que actos heróicos são apenas fantasias, não nos restando mais do que a passividade.
Num acto de boa vontade, tão consonântico com a época natalícia, parece-me muito a propósito aderir à Maratona de cartas da Amnistia Internacional. No conforto do nosso lar, uma assinatura apenas.