Via |
Os filhos não nos defraudam, somos nós que o fazemos e lhes atribuímos responsabilidades. Nós, país, criamos pressupostos de como os filhos deveriam ser, dos resultados que deveriam obter na escola, das medalhas a ganhar nos desportos, de como haveriam de se comportar socialmente, e ficamos zangados quando não se portam à altura. À altura das nossas expectativas.
A realidade é que os filhos não nos prometeram nada. Eles estão somente a ser eles. A procurar os seus caminhos, a descobrir quem são para além dos país, da família, dos amigos, de quem os rodeia. E nessa descoberta o caminho dificilmente será perfeito. Aliás, desconfio muito de crianças/jovens que fazem caminhos perfeitos, nalgum sítio, a alguma altura, as coisas descarrilam, sendo isso perfeitamente aceitável e saudável. É portanto até, aconselhável. É caso para respirar de alívio!
E porém, sobretudo nesta altura, quando as notas se materializam nas Escolas, as cobranças dos pais são muitas e frequentemente injustas. Não defendo que os pais se calem e aceitem tudo, mas aqueles que reclamam do 4, achando que deveria ser 5, aqueles que protestam dos 97% porque podia muito bem ser 100%, deveriam reflectir um pouco antes de criticar o trabalho feito pelos filhos. Antes de os destruir, porque toda a crítica injusta, destrói um pouco.
Querem filhos perfeitos? Não tivessem filhos. Até porque mais dificilmente há pais perfeitos.
Nós sim, podemos aperfeiçoarmo-nos, refinarmos as nossas capacidades e por isso, tentar ajudar os filhos a melhorar o desempenho é obrigação nossa, ajudá-los a descobrir o seu "elemento", para que aí possam desabrochar, mostrarem resultados e serem felizes. No final do 1º período do 10º ano, a Letícia concluiu que não estava a estudar o que queria, em CT; no final do ano lectivo pediu transferência para Artes (a área para a qual a julguei sempre vocacionada), e iluminou-se como uma lâmpada incandescente.
Quando nós ajustamos as nossas expectativas às dos nossos filhos alcançamos um patamar de lucidez e justiça que tranquiliza a todos. Então, preferimos viver em que dimensão, na ideal ou na real? Escolha a pílula que quer tomar, a azul ou a vermelha?