segunda-feira, 6 de maio de 2019

Dica de leitura: Mulheres Livres Homens Livres


 
Via Wook

O nome da autora era-me relativamente familiar, tinha lido excertos de entrevistas dela, citações e referências, que me deixaram com vontade de saber mais, sobre o que pensa e diz esta professora universitária, colunista, autora de diversos livros de referência e assumida feminista, que tem pautado a sua vida pela frontalidade e coragem.
Portanto, apesar de se considerar feminista, Camille Paglia foi ostracizada e até perseguida por outras feministas, de correntes que eu considero, nada mais nada menos do que extremistas. Foi por isso, inclusivamente, apelidada de "feminista anti-feminismo". E porquê? Por, por exemplo, dizer que compreende que existam feministas pró-vida, entendendo que, apesar de ateia, outras mulheres se posicionem contra o aborto, por uma questão de fé. Esta é precisamente uma questão que me toca particularmente, por ter pensado durante anos que não poderia assumir-me como feminista; depois compreendi que não interessa o que as feministas encartadas dizem, importa o que eu digo, e onde me coloco. 
Sobre isto, afirma inclusivamente que a Educação Sexual muitas vezes chega a considerar a gravidez como uma patologia, cuja cura é o aborto (pag.288).

Outra questão que Camille Paglia inflamou é relativa à violação nas Universidades; segundo as "feministas", esta questão é simples ( desresponsabilização a 100% das vítimas), para a autora, as estudantes são responsáveis por zelarem pela sua segurança, não se expondo a determinados perigos, como por exemplo, atingir um estado de alcoolemia que as deixa inconscientes, e expostas ao perigo. Enquanto mulheres, devemos saber por uma questão de preservação, que existem sítios que não poderemos frequentar. Bom senso, se pensarmos que há locais que mesmo os homens, preocupados pelo seu bem-estar, evitam. 

A terceira questão que gostaria de relevar, deve-se à maternidade; a segunda vaga do feminismo desprezou as mulheres que optaram pela maternidade a tempo inteiro, como traidoras à causa, glorificando as mulheres de carreira. Camille Paglia reconhece que a recompensa de estar com os filhos nos seus anos de formação, em vez de delegar essa tarefa temporalmente curta, às creches e amas, possui um valor emocional e porventura espiritual que tem sido ignorado. 

Esta generosidade de pensamento, esta empatia por quem é tão diferente dela é um exemplo de tolerância, num movimento que frequentemente se revela fanático, e por isso exclusivista.   

Este livro aborda ainda outras questões, muito pertinentes pela sua actualidade. Quer se concorde ou não, faz reflectir, e evidentemente que eu não concordo com tudo o que Camille Paglia pensa e defende, todavia reconheço a enorme importância das reflexões desta destemida intelectual, numa sociedade cada vez mais nivelada pelo politicamente correcto. Posto isto, aconselho vivamente a leitura.


Título: Mulheres Livres Homens Livres
Autora: Camille Paglia
Editora: Quetzal
Nr Págs. 359