terça-feira, 28 de maio de 2019

Férias em Malta



Estava na minha lista há vários anos, e por um motivo e outro, destino adiado até estas férias de Páscoa. Um contra era o calor, outro o pouco interessante em termos históricos, segundo alguns. Relativamente ao calor, resolveu-se evitando o Verão, e de facto nessa estação o calor deve ser insuportável, considerando também a falta de árvores, e as que há, sendo muito baixas. Quanto à História... como ousam?! 

Habitada desde 5200 a.C., durante o Neolítico, existiu nas ilhas uma civilização pré-histórica significativa antes da chegada dos fenícios, que baptizaram a ilha principal de Malat, o que significa refúgio; foi governada por romanos, árabes, normandos, aragoneses, franceses e britânicos; foi principalmente governada durante séculos, pela Ordem dos cavaleiros de S.João, que a defendeu dos ataques dos turcos. Governaram a ilha até ao séc. XIX; em 1814 tornou-se parte do Império britânico, até 1974, pertencendo até hoje à Commonwealth

1.Casas típicas. 2.Vitoriosa 3.Catedral S.joão 4.Valeta 5. Cúpula catedral da Mdina 6. Caravaggio 7 e 8. Mdina, 9.Rocca Piccola House


A influência dos ingleses permanece, no sistema eléctrico, no sentido das estradas e posição do volante, e no Inglês, que depois do Maltês é a segunda língua oficial. A influência italiana é também muito forte, tanto na língua como na gastronomia.
Porém, no que se refere à religião, são fortemente católicos; disseram-me que há cerca de 360 igrejas e capelas espalhadas pela ilha (impressionante, tendo esta cerca de 316 km quadrados), e sobretudo na época Pascal são visíveis os inúmeros anúncios de Vias sacras, e há imensas janelas de casas, decoradas com cruzes e bandeiras roxas. Não sei se Malta se equipara a Polónia neste ponto, mas que estão próximas, sem dúvida.
Reservamos um dia para a visita à capital, Valeta, só para o exterior; na rua principal descobrimos desde logo locais que queríamos visitar mas que reservamos para os dias de chuva que estavam previstos. 
Passeamo-nos pelos Fortes, e pela Lower e Upper Barraka, de onde se obtém uma vista deslumbrante para o mar, e para as velhas cidades. De tarde, deambulamos por elas - Vitoriosa, Conspicua e Sengelea. As ruas estreitas, as casas típicas com as suas varandas coloridas em madeira, com vista para o mar azul, fazem de cada recanto um postal. 
No dia seguinte tencionávamos visitar o Hipogeu, Tarxien e Marsalokk; o primeiro, que eu tanto ansiava conhecer foi impossível, pelo facto da visita dever ser marcada com semanas de antecedência, que eu por ignorância não fiz. Mesmo lendo blogues de viagens, não encontrei referência alguma a este constrangimento. Seguimos para Tarxien, um complexo megalítico, construído há 2.800 anos a.c. representando templos, que posteriormente foram transformados em necrópole, de que gostamos muito.

Marsaxlokk, é uma pequena aldeia piscatória onde se exibem barcos coloridos, com o olho típico, pintado, numa baía azul encantadora. Tem um mercado muito famoso, mas não sendo dia, estavam apenas meia dúzia de vendedores.

Desfrutamos de Gozo, Lagoa Azul e Comino, de uma assentada, recorrendo a um cruzeiro de um dia; Gozo é uma ilha pitoresca, de ruas estreitas e sinuosas, com natureza em estado puro; no topo a citadella, como a cereja em cima do bolo. 
A Lagoa Azul é uma praia muito famosa que fica em Comino, uma pequena ilha habitada apenas por uma família de agricultores; a praia estava repleta de jovens finalistas, sobretudo ingleses, que apesar do vento fresco e água fria, teimavam em nadar e fazer desportos aquáticos, tudo devidamente fotografado, pois tanto sacrifício era sem dúvida motivado pela publicação de belas fotos nas Redes Sociais. 
A espantosa quantidade de pequenas barracas a vender "refrescos" de ananás, reflectia-se nas cascas do fruto vazias, e palhinhas, deixadas ao acaso, por ali. É chocante ver um sítio de beleza natural deslumbrante, que por isso mesmo trai tantos, ser tratado sem respeito. Nem quero pensar como será no Verão...

1.Decoração de casas 2.Igreja de Marsaxlokk 3. Gozo 4. Mar em Comino


A entrada para a Mdina faz-se por uma imponente ponte que serviu de cenário para a capital de Westeros, n'A Guerra dos Tronos. Foi habitada pelos fenícios, árabes e depois pelos romanos. É muralhada e fica num alto, o que lhe dá uma paisagem longínqua e abrangente. Toda construída em calcário, parece algo árida, mas ao mesmo tempo muito lavada. A catedral S.Paulo foi antes palácio do governador romano, e é impressionante. Aliás, existem ao redor imensas casas de famílias nobres, igualmente notáveis. Ao contrário de outras mdinas pelo mundo, esta é muito tranquila, de forma que é conhecida pela Cidade Silenciosa. 
Já não chegamos a tempo de visitar algum dos palácios abertos ao público, e certamente que a nossa preferência recairia sobre o Palácio Vilhena, por ter pertencido a um grão-mestre português, da Ordem de S.João.   

Rabat fica mesmo ao lado, originalmente pertenceria à Mdina, porém ficou separada depois da construção da muralha, pelos árabes. Passeamo-nos por lá, entre as ruas estreitas e casa típicas, com os seus pátios, que nunca nos cansamos de apreciar.

Golden bay é a única praia de malta cuja areia é clara, e por isso lhe chamam "dourada". É muito popular e fomos visitá-la apenas para conhecer, pois já sabíamos que o tempo não nos permitiria desfrutar dela. Contudo, encontramos lá várias famílias, e casais, que não se deixaram desanimar pela baixa temperatura.

Em Valeta, visitamos o Palácio Rocca Piccola, habitado pela mesma família desde há 500 anos; é uma pequena jóia, que nos dá um vislumbre de como viviam e vivem as famílias aristocráticas maltesas. Tivemos ainda o privilégio de conhecer o seu proprietário, o Conde de Rocca Piccola, que amavelmente nos perguntou se tínhamos gostado da visita e indicou o único sítio imperdível em Valeta - a catedral de S.João, se mais tempo não houvesse para outras visitas. 

Claro que a Catedral de S.João estava na nossa lista. Foi construída pelos Cavaleiros de S. João por 1573. A Catedral contém oito capelas, cada uma dedicada ao santo padroeiro das 8 línguas dos Cavaleiros da Ordem:
A Capela da Liga Anglo-Bávara

A Capela da Provença

A Capela de França

A capela de Itália 

A Capela da Alemanha

A Capela de Auvergne

A Capela de Aragão 

A Capela de Castela, Leão e Portugal  que é dedicada a Santiago Maior. Aqui se encontram os monumentos funerários dos grão-mestres António Manuel de Vilhena e Manuel Pinto da Fonseca.


Como cada reino tentou construir  melhor do que os outros, estas capelas destacam-se pela assombrosa riqueza estética e decorativa.

O Palácio San Anton, tem a sua origem no séc.XVI, edificado pelo grão-mestre da Ordem de Malta para sua residência, sendo hoje o palácio presidencial. Merece a visita sem dúvida, embora nos tenhamos deparado com algumas salas fechadas para restauro. Acontece.

O Museu de Arqueologia localiza-se na rua principal de Valeta e abriga uma importante colecção de objectos pré-históricos que datam do período neolítico, cerca de 5.000 a.C, ao fenício, cerca de 400 d.C. Destacam-se a escultura da 'Dama Dormente', proveniente do hipogeu de Hal Saflieni, e a da 'Vénus de Malta', de Hagar Qim.

Na parte da numismática encontrei algumas moedas que imediatamente reconheci, eram tão visivelmente portuguesas! De facto, tinham sido mandadas cunhar por grão-mestres portugueses, pois até nisso a Ordem dos Cavaleiros tinha poder.




No último dia, fizemos um cruzeiro de duas horas, em  redor de Valeta e das três cidades; o porto natural é o maior da Europa, com 14 kms de diâmetro.  O guia, em várias línguas ia apontando os monumentos e locais por onde passávamos; por ali entrou Napoleão, pedindo água; e depois instalou-se na ilha por 3 anos, saqueando-a antes de partir. Ali abrigavam-se as enfermeiras dos bombardeamentos, durante a II guerra mundial. Ali, está o Forte construído pelo português Manuel de Vilhena. Os portugueses ali, nós, inchámos de orgulho.  
Foi muito bonito ter uma perspectiva desde o mar para a ilha, a despedida perfeita. 

Deslocamo-nos quase sempre de autocarro, depois de adquirirmos um cartão para 7 dias, que custou 21€, sem limite de viagens. A rede é óptima, e os horários estão sempre afixados nas paragens, mas atenção, acontece frequentemente de passarem os autocarros cheios e não entra mais ninguém! Em caso de rigidez de horários, mais vale sair muito mais cedo ou apanhar um táxi.

A alimentação para mim e Letícia foi complicada, a dieta vegetariana ainda é desconhecida em Malta. Penamos um bocado, nesse sentido. Nos supermercados, desorganizados e quase sempre sem preços à vista, admiramo-nos com os preços: 1 kg de arroz Basmati 5€, uma caixa com morangos 3,95€, uma embalagem com 4 kiwis 1,60€ e por aí fora. Intrigou-me a questão dos preços altos e investiguei; Malta apenas produz 20% do que consome, o resto vem de fora. E dada a antiga influência inglesa, muito de Inglaterra. 
As lojas também não representam alvos de tentação, moda muito ultrapassada, com as próprias estruturas físicas bastante degradas, mesmo para albergar marcas consagradas. Mais uma vez, as marcas inglesas reinam. Também há Zara e algumas outras, mas relativamente à primeira, foi-nos dito por uma portuguesa que por lá se aventurou, que a mesma camisa comprada em Portugal custa mais 10€. Sem problema, nem sequer perco tempo nestes sítios.

Os malteses são simpáticos e ajudam de boa vontade, se bem que com tantos emigrantes por vezes fica complicado saber quem é quem. 
As ruas não primam pela limpeza, e isso foi-nos avisado logo no primeiro dia, por uma jovem maltesa, desgostosa desse facto. E não é bonito de se ver. 
Outra coisa que me intrigou foi a enorme quantidade de casas, por todo o lado, fechadas, devolutas, mais ou menos em ruínas, mas quase sempre com imenso potencial. Onde está esta gente, perguntava-me eu; um taxista elucidou-me, tinha saído há pouco uma notícia no Jornal, dizendo que há cerca de 130 mil casas em Malta fechadas. A maioria de famílias que as disputam em tribunal; ou seja, herdeiros que não se entendem. Emigraram? - Não! Os malteses não emigram; nós temos empregos, precisamos de pessoas que venham para cá! E nota-se que sim. 

Em Valeta apreciamos muito as diversas casinhas dispostas pelos jardins públicos, para albergar os gatos silvestres. Ninguém os incomoda, pelo contrário, respeitam-nos. 

Malta é um país seguro, com óptimo clima de praia, embora estas não abundem, e com História, portanto, prevejo que se torne nos próximos anos, um destino muito popular. Os investidores que a descubram e acontece. Está quase. 


Fontes:

https://viagens.sapo.pt/planear/roteiros-planear/artigos/malta-e-gozo-descobrir-os-segredos-de-duas-ilhas-em-quatro-dias

https://www.voyagetips.com/pt/o-que-fazer-em-gozo/

 https://vontadedeviajar.com/mdina-de-malta-cidade-silenciosa/

http://www.malta.com/en/attraction/beaches/west-malta/golden-bay

https://www.casaroccapiccola.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cocatedral_de_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_(Valeta)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_de_San_Anton

https://www.tui.pt/destinos/malta/museu-nacional-de-arqueologia

https://www.vallettawaterfront.com/content.aspx?id=96901