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Amy Chua é filha de imigrantes chineses, e criada como tal; professora universitária, casada com um judeu americano, está decidida a educar as duas filhas segundo o modelo chinês, que acredita ela, é muito mais correcto do que o ocidental. Portanto, educar significa ensinar a trabalhar arduamente, seja na escola, seja a tocar os instrumentos musicais que ela escolheu para as filhas. Ela escolheu porque fez isso em tudo, a opinião das filhas não interessa, ela é mãe e sabe o que é melhor. A infância é apenas um período de preparação (intenso trabalho) para o sucesso na idade adulta; portanto, não há tempo para brincar, dormir em casas de amigas e participar de actividades na escola, como peças de teatro.
Desde os 3 anos que as filhas são obrigadas a praticar 5 ou 6 horas por dia nos seus instrumentos. Espera-se delas que sejam apenas as melhores, só o primeiro lugar satisfaz! Para um pai chinês, o segundo lugar envergonha. Portanto, se a filha mais velha acatava as ordens da mãe, a filha mais nova desafia-a desde sempre e constantemente, levando-a aos gritos e insultos, dentre os quais a mãe chama "lixo" é filha e outros mimos de igual calibre. O ritmosxz de trabalho não abranda nunca, nem sequer nas férias no estrangeiro, para onde carregam o violino sempre.
Os conflitos são duros e constantes, o marido discorda mas nunca trava a esposa, aliás em frente às filhas, faz frente unida com ela. Mesmo os avós pensam que Amy está a exigir demais e pedem-lhe que abrande, mas nada a demove.
Com 13 anos, a filha mais nova consegue, finalmente, que a mãe a liberte. Troca o violino pelo ténis, que pratica de forma competitiva mas ao seu ritmo.
Muitas vezes, ao ler este livro, concordei com as filhas, esta mulher é louca! Fiquei desgastada só de ler as vezes que ela mencionou que gritava. Uma casa onde os gritos são uma constante, parece-me o inferno. Pensei que fosse desequilibrada e que fizesse tudo aquilo, não pelas filhas mas por ela, para se poder exibir. As críticas constantes à forma ocidental de educar também não lhe angariam simpatias, mas tenho de reconhecer que a extrema exigência da educação chinesa contrasta com o laxismo ocidental, o que também não é correcto; portanto, algo entre estes dois tipos de educação serial o ideal.
Entendo que os conceitos que nós temos de querer ter uma boa relação com os filhos, de os vermos felizes, de ouvirmos a opinião deles, sobre os seus interesses, sejam alheios aos chineses. Entendo que temos valores diferentes, mas nem nós estamos errados a 100%, nem eles certos na mesma medida.
Os asiáticos parecem querer ter filhos-prodígio, e não acontecendo isso naturalmente, empenham-se em construí-los. Amy Chua termina fazendo tréguas com as filhas, porém o tom dela até ao fim é bastante complacente com a educação ocidental, comparativamente com a educação chinesa, ainda que tendo que recuar, sai vitoriosa.
Não percebo como pode o relacionamento entre mãe-filhas sair incólume, depois de uma educação tão despótica; a não ser que se explique com o síndrome de Estocolmo!
É interessante ler sobre uma forma de educar tão diferente da nossa, e a leitura é fluída, fácil.
Título - O grito de guerra da mãe tigre
Autora - Amy Chua
Editora - Lua de Papel, Leya
Nr de pags. - 228