terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Adoptar em Portugal

 

Via Adoptar e Acolher
 

A adopção esteve sempre no meu horizonte, mesmo desde muito nova, mas foi algo que nunca se concretizou. Houve uma época em que até pensava "para quê ter filhos se há tantas crianças nos orfanatos?"; agora orfanatos é uma palavra que não se diz, está pejorativamente conotada, mas também sei, desde há alguns anos, que afinal existem tantas crianças institucionalizadas (é como actualmente se diz) porque o processo de adopção é imensamente burocrático, demorado e penoso. E pior, até consta, e tem havido matéria publicada nesse sentido, que este processo é mais do que defeituoso e incompetente, é perverso, pois por cada criança institucionalizada a própria instituição recebe do Estado uma quantia choruda, apetecível. 

Esta reflexão vem a propósito de uma entrevista* maravilhosa que li, a Maria Sequeira Mendes, professora universitária, autora do livro "Adopção tardia", criadora do site -Adoptar e Acolher- e mãe adoptiva de duas crianças, em que ela fala sobre tudo isto. 

Desde logo, os seus filhos saem dos cânones, por serem considerados já "demasiado velhos" para os pais candidatos, com 7 e 17 anos, e por ter sido um par, eram irmãos e ela quis mantê-los juntos. Devo dizer que tenho uma consideração, e admiração, enormes por gente que pensa e age desta forma; merecem tudo de bom!

Maria Sequeira Mendes diz que adoptar crianças em idade avançada também tem aspectos positivos, como por exemplo, a comunicação ser mais facilitada. E que não adianta aos pais adoptivos quererem crianças pequeninas ou bebés por acharem que eles não se recordam das suas vidas anteriores, está sempre lá algo problemático.

Uma coisa que me chocou saber foi que à medida que as crianças se aproximam dos 14 anos, deixam de ser indicadas para adopção, mas encaminhadas para casas de autonomia. Quatorze?! Empataram-nos durante anos, para descartá-los, precocemente, com termos politicamente correctos - para casas de autonomia! Entristece-me. 

Outra coisa foi a devolução das crianças mais crescidas, que aumentou, porque os pais não conseguem estabelecer um vínculo; segundo a entrevistada, estes devem ouvir as crianças, elas têm consciência do que lhes aconteceu e devem ter voz activa, ao contrário do que acontece em Portugal, e na educação de crianças em geral. Querer mudar repentinamente a criança, como por exemplo o corte de cabelo, pode ser agressivo e intrusivo. Há batalhas que se evitam, isto é, aliás, trivial na educação de todas as crianças.

Seja em que idade for, a adopção é um processo desafiante, e na minha modesta opinião, é necessário que os candidatos tenham basicamente dois requisitos: paciência e amor. Continua a ser um tema que me interessa sobremaneira, acredito que a família é a célula base da sociedade, e fundamental para a construção da nossa personalidade, equilíbrio e saúde. E que todos deveríamos ter direito a uma família feliz. Utopia? Talvez, mas é na busca da realização de ideais que a humanidade avança e evolui.  

 

*Entrevista da revista Activa, pág.118, nr 372, Nov.2021