terça-feira, 3 de outubro de 2017

Dica de leitura: Mulheres que correm com os lobos

 
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Quando entrei na blogosfera, vai fazer brevemente onze anos, encontrei o blogue de uma brasileira que tinha este nome: Mulheres que correm com os lobos. Numa barra lateral ela fazia alusão ao livro, porém eu nunca tive curiosidade de o desvendar. Gostava dos textos dela, que eram diferentes de tudo o que se lia nos outros blogues, porém, apenas agora, depois de ter lido o livro entendo como tudo estava relacionado. As coisas proporcionam-se quando estamos preparadas para elas.
Demorei cerca de um ano a ler Mulheres que correm com os lobos. Fui intercalando outros livros, e outras leituras, fazendo pausas necessárias, o que para mim é algo invulgar; é que este livro é demasiadamente profundo para ser lido de rajada, é como uma bebida forte que se bebe aos goles, apreciando cada trago, e tentando entender que efeito tem em nós a sua absorção. 

Clarissa Pinkola Estés, psicóloga junguina, poetisa e contista, parte de uma série de contos recolhidos por ela, na sua família e por todos os locais e países por onde viajou, para descodificar os processos psíquicos que nos orientam ou dominam. Os contos que todos conhecemos não são apenas historinhas de amor ou maldade, escondem sentidos profundos que revelam a natureza humana, as capacidades que temos, ainda que adormecidas, num desvendar maravilhoso do intra-mundo que possuímos sem sequer saber, e que contudo, nos governa. 
Por exemplo, no conto "A mulher esqueleto"; um pescador pesca um esqueleto do qual não se consegue libertar, acaba por acarinhá-lo e viver com ele uma história de amor, assim lhe dando a vida. Para a autora, a história relaciona-se com os ciclos da vida-morte-vida, que se vive num relacionamento; as relações são ciclos de animação, desenvolvimento, declínio e morte. Não significa que a morte seja ruptura definitiva, pode ser apenas ruptura com aquilo que foi, que existia antes, passando a ser de outra forma. Ou pode simplesmente ser, de facto, ruptura definitiva de relacionamento. Se aceitamos entrar neste jogo ( o de ter um relacionamento), devemos estar preparadas para as suas fases naturais, vida-morte-vida, e saber aceitá-las. Esta é uma tecla em que a autora constantemente bate, e muito sinceramente, para mim faz todo o sentido.

Partindo da comparação com os lobos, Clarissa Pinkola Estés defende que as mulheres possuem semelhantes características, como o sentido apurado, espírito divertido e elevada capacidade de afeição. "Lobos e mulheres são seres relacionais por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e energia. São fortemente intuitivos, profundamente preocupados com as crias, com os companheiros e a família". Porém, tal como os lobos foram obrigados e afastar-se cada vez mais longinquamente, e embrenharem-se em esconderijos isolados para não serem extintos, também a mulher tem sido vítima, há séculos, do aniquilamento da sua natureza instintiva feminina para sobreviver. O que Clarissa Pinkola Estés propõe é precisamente restaurar a vitalidade das mulheres, recuperando os dons femininos adormecidos, pela desvalorização e rejeição da cultura patriarcal. Por tudo isto e muito para além disto, Mulheres que correm com os lobos tem sido uma obra aclamada pelo movimento feminista e referência no que respeita o resgate do sagrado feminino.
Maya Angelou sintetiza todo o meu artigo perfeitamente em duas frase:

" Esta obra mostra à leitora o quão glorioso é ser-se audaz, ser-se bondosa, ser-se mulher. Todas as mulheres deverão ler este livro."

Título: Mulheres que correm com os lobos
Autora: Clarissa Pinkola Estés
Edotora: Marcador
Número de pág. 608