segunda-feira, 7 de maio de 2018

Os "trabalhinhos" para o dia da mãe

Presente da Letícia em 2015

Semanas antes do dia da Mãe, afadigam-se as educadoras e professoras dos Infantários e Escolas, na preparação dos presentes que os meninos e meninas irão oferecer às suas mamãs. Reparem, eu não disse que os "meninos irão fazer para oferecer às suas mamãs". Não, porque para os meninos fazerem estes presentes dava muito mais trabalho, mais sujidade, mais caos, com a agravante de resultar em algo muito longe de ser perfeito. E estes trabalhos querem-se bonitos. Portanto, não, os meninos não desenham, não colam, não pintam, não amassam, nem recortam. Quando muito, para as mamãs ficarem felizes, tira-se uma fotografia à criança com o pincel na mão, e pose feita, o material volta para as competentes mãos da profissional, que se dedica a fazer uma catrefada de presentes iguais, como que saídos em série, de uma linha fabril.

Quando os meus filhos me traziam destes presentes, muitos felizes eles, apenas porque sabiam que me estavam a oferecer um presente, e lhes diziam que a mãe iria ficar também muito feliz, eu perguntava-lhes o que é que eles tinham feito, exactamente naquele trabalho; se fosse uma bolinha pintada, um recorte colado, uma impressão do seu dedo, era isso que eu elogiava. Confesso que não guardei nenhum destes "trabalhos", foram todos descartados para o lixo ou reciclagem, como descartada é a vontade das crianças fazerem os presentes para as mães. Porém, tenho guardados todos os presentes que os meus filhos que fizeram e ofereceram, pastas e pastas de pequenos tesouros imperfeitos, que para mim têm grande valor. E agora, quando lhos mostro, eles revêem-se emocionados, dos bebés e pequenas crianças que foram. São recordações genuínas, manifestações da essência das crianças, e não aproveitar este potencial, negando-lhes a possibilidade de revelarem a sua criatividade, é como podar-lhes cruelmente a imaginação, é dizer-lhes: o que tu fazes sozinho não presta, é feio. E infelizmente, creio mesmo que há casos em que estas palavras são ditas com inequívoca clareza. 

Os meus filhos tiveram sempre em casa à disposição, todo o material necessário para as artes plásticas, e portanto, foram sempre estimulados e motivados para exercerem de pequenos artistas. A Escola não os submeteu, contudo, na maioria dos casos não é assim e eu lastimo profundamente que seja desta forma. 
Deixem as crianças dar asas à imaginação, que seja "feio", imperfeito, incompreensível, esse é o caminho do progresso, os degraus para obras dignas de admiração, ou não, não interessa, o que de facto é importante é que as crianças se revelem, se mostrem verdadeiramente e venham elas próprias a conhecer as suas capacidades.

Simples, pessoal e totalmente amoroso. Como eu gosto.