quarta-feira, 23 de maio de 2018

Avidez do Turismo


Há cerca de meia dúzia de anos, uma amiga brasileira de visita ao Porto comentava que adorou a Ribeira, mas que aquela roupa a secar nas varandas desfeava a paisagem; um pouco espantada, respondi-lhe que era isso que dava alma ao bairro. É o sinal das gentes que aí habitam, muitas há várias gerações. 
Pois o tempo encarregou-se de transformar a paisagem, limpando-a desta famosa característica. E a cada casa que fica vazia, inquilino que morre ou muda ( neste último caso, contrariado, obrigado e pressionado por senhorios e Imobiliárias), o cenário muda mais; saem as bandeiras nos varais e  passam trolleys barulhentos na calçada.

Não admira que movimentos em muitas cidades pelo mundo comecem a surgir, indignado-se e opondo-se contra a massa dos turistas; a vida torna-se cara, incomportável aonde sempre viveram, sendo forçados a recuar para as periferias, para deixar entrar quem está de passagem mas paga mais. 
Infelizmente as autarquias são iguais aos privados, o dinheiro arrecadado com o Turismo sobrepõe-se ao bem estar dos cidadãos. Nem sequer pensam que os turistas querem ver locais diferentes do que já visitaram, querem ver os residentes nas suas rotinas diárias, e que permitindo este turismo selvagem, permitem a destruição daquilo que é genuíno e real essência dos destinos.
A continuar assim, determinadas cidades na Europa estão destinadas a tornar-se meros parques temáticos; é isso que os turistas querem visitar? É isso que os países querem vender? Este turismo desgasta-se rapidamente, os parques temáticos saciam de vez a curiosidade porque são estáticos, São iguais na França e nos E.U.A. , falta-lhes a dinâmica humana. 
Portanto, que se mate a galinha dos ovos de ouro, não parece mal a ninguém que entretanto vai ganhar com isso. Mas e depois? E entretanto, não há ninguém ainda a ver como vai isto acabar, e tentar impedir que aconteça?! 
É pena, Portugal continua a cometer os erros que outros cometeram e que poderiam ser lições preciosas, como preventivas, para nós.