terça-feira, 25 de junho de 2019

Fale francamente!


Há uns tempos, ouvi na cabeleireira uma cliente afirmar alto e bom som, como respondia ao filho, quando ele reclamava dela o sobrecarregar com algum trabalho; dizia: - Estás a ser meu criado? Eu também fui criada da minha mãe, e um dia, vais ser tu a ter criados, quando fores pai. É a lei da vida! 
Parece que agora ela já nem precisa de o recordar com esta lenga-lenga, quando o miúdo se descaí em queixumes, ele própria conclui: já sei, mãe, é a lei da vida...! E contava tudo isto com a satisfação imensa de quem tinha descoberto a fórmula triunfante.

Aquela conversa mexeu comigo, e palavra que me controlei bastante para não interferir e acho que realmente, só o fiz porque, não conheço essa senhora, ela não falava comigo, e principalmente porque ela estava cheia de pressa, e praticamente falou sem dar hipótese de alguém retorquir. 

Todo o trabalho que se faz em casa, é feito para todos, e por isso todos devem participar; quem vive em comunidade, deve contribuir para a comunidade, e a família é o primeiro núcleo onde se aprende esta lição. Bastava ela perguntar ao filho se não acha que ela, enquanto mãe, faz muito mais do que ele, para o miúdo entender. Porque as crianças têm um sentido de justiça apuradíssimo, e um alto nível  de compreensão, quando as coisas lhes são explicadas com lógica. 
Da forma como lhe respondeu, convenceu o filho pela força, imposição e lei do mais velho/mais forte; um dia caberá a ele colher os frutos do seu estatuto. A não ser que este miúdo seja mais inteligente e crítico do que a mãe. 

Frequentemente, os pais se queixam da rebeldia dos filhos, perante determinadas situações; que não acatam, que mentem, que enganam, que se esquivam, enfim, se revoltam, umas vezes frontalmente, outras ( conforme o medo), sorrateiramente. Aqui está a chave desse desajuste - comunicação incorrecta. Quando as conversas entre pais e filhos não têm um fio condutor ancorado na coerência, na frontalidade e sinceridade, as falhas surgem. O ressentimento e desconfiança nascem, e de ambas as partes a comunicação começa a fazer-se de forma retorcida. 

Para mim, a equação é simples: falar aos filhos, com o respeito com que falaria, como se adultos fossem. Com sinceridade e coerência; só se não houver justiça, o filho se rebelará. 
Tive a bênção de sentir esta intuição quase logo a ser mãe, e hoje com o filho mais velho com 18 anos, posso afirmar convictamente que esta é, de facto, a fórmula triunfante para uma comunicação  saudável e eficiente.