quarta-feira, 8 de julho de 2020

Síndrome de Estocolmo

Sei de famílias, a viver em apartamentos, com crianças pequenas, que durante a quarentena não saíram de casa, uma única vez. O medo era tão grande, que o confinamento foi levado ao extremo, e desde o dia um, nem sequer um passeio na natureza, longe de todos, foi feito. Obviamente que as coisas não correram bem; o humor geral estava de rastos, a disposição fosse para o que fosse era nula, a boa vontade na colaboração inexistente. No quesito Escola idem; os mais pequenos faziam birra, e nem castigos nem prémios, os incentivaram ou demoveram. A paciência dos pais que, por norma, já não é acima da média, também não ajudou. 
Dominados pela pressão extra, que resultava em frustração, o ano lectivo, ficará para estas famílias como uma experiência de má memória, acima da própria quarentena. 

Lamento muito por estes agregados familiares. Sobretudo pelos filhos, que foram reféns do medo dos pais e do país. E certamente, ficarão marcados para sempre. Já antes imaginava que sim, toda esta história "do bichinho muito pequenino que ninguém vê e que anda no ar", como um pequenito me disse da varanda, iria deixar mossa. E já antes previa que muitos precisariam de ajuda psicológica para o ultrapassar; e portanto, confirma-se, quem antes berrava para sair de casa, ir ao parque infantil e brincar com os amigos, agarra-se agora às pernas da mãe, com medo de se afastar.