Há muitos anos que tenho noção da importância dos pequenos negócios, nomeadamente das mercearias de bairro, e já quando vivia no Porto, há 30 anos atrás, gostava de fazer aí as minhas compras. Há uns meses passamos em frente a uma mercearia, numa transversal de Sta Catarina, onde eu comprava as alheiras de Mirandela e o queijo, e perante a fila de espera que se prolongava pela rua, comentei incrédula, com a minha filha, que quando eu era cliente do casal idoso, muito lento e afável, agora substituídos por empregados com aventais enormes, a clientela ali rareava. Actualmente, vendem uma diversidade maior e mais dirigida aos turistas. O espaço estava renovado, e embora mantendo a traça, tinha perdido a essência. O positivo, a mercearia mantém-se, o negativo, mas não graças aos locais!
Serve este intróito para falar do fim da "minha" mercearia local, há cerca de uma semana. Com nova gerência há coisa de 2 anos, uma casa centenária, negócio de 3 gerações, e agora negócio de família também, não se aguentou e fechou portas. Não foi total surpresa para mim, que via a clientela a diminuir e a reduzir-se ao mesmo ritmo da mercadoria nas prateleiras, mas desgostou-me à mesma. Era onde eu fazia compras, ao virar a esquina, apoiando o comércio local, e emprego de duas pessoas; onde encontrava, ocasionalmente, produtos locais e da época, a broa de milho caseira (vinda de alguém que também perdeu um cliente), e sobretudo, onde me conheciam pelo nome, e se preciso fosse, em caso de esquecer a carteira, me "fiavam" fosse o que fosse, e até me ajudavam a trazer as compras a casa! Há disso noutras superfícies?!
Não posso esquecer ainda que durante as restrições covidescas, nunca me aborreceram por andar com a máscara abaixo do nariz, ou mesmo não a usar, quando não estava lá mais ninguém. E que nunca fiquei à porta em fila, como a maioria das pessoas fez nos hipermercados. Porém, a certa altura, reparei que precisamente para fugir dessas filas nas grandes superfícies, começou a aparecer uma nova clientela, e formaram pequenas filas ali ( comigo nunca, que ando sempre ao contrário dos demais), e fiquei contente, até pensei " Pode ser que com isto percebam o valor dos mercados locais e até constatem que nem sequer são mais caros, como a maioria crê!"; ingenuidade minha, eram somente oportunistas, desapareceram assim que terminaram as longas filas nos Continentes e quejandos.
É certo que o centro da Vila está em obras há demasiado tempo, constrangendo a mobilidade da população, mas isso não justifica tudo. A responsabilidade recai sobre quem descarta o comércio local, e prefere continuar a enriquecer os Azevedo, os Soares dos Santos, e outros com nomes estrangeiros, em detrimento das famílias que nos estão próximas.
Nas grandes superfícies somos apenas um, no comércio local conhecem-nos pelo nome, e concedendo-nos delicadezas que no momento de "aperto" se provam essenciais, como o tal esquecimento da carteira, ou a dispensa de um artigo que me esquecia de encomendar antecipadamente, como os ovos caseiros ou a broa de milho. Chegaram a partilhar comigo o que tinham posto de lado para consumo próprio. São estas coisas que valorizo e não têm preço.
Portanto, tenho-me sentido algo zangada com a comunidade local. Por esta falta de apoio ao pequeno comércio, às famílias locais, ao que é português e singular.
Por outro lado, abriu há 2 anos uma loja bio que tem vindo a expandir-se em variedade, onde eu compro cada vez mais, e prevejo agora passar a comprar ali, essencialmente. Já sei, também, que em caso de "restrições" futuras terei neste comércio uma salva-guarda. O resto que volte a fazer filas nos mesmos de sempre, onde as etiquetas de preços promocionais tapam as anteriores com valores inferiores ou descontos de 1 cêntimo! Há quem goste de ser enganado e desconsiderado, e fazem por isso. Há quem nunca aprenda. E siga a marinha!