segunda-feira, 6 de março de 2017

Prato vegetariano nas escolas, e " - Os meus pais não me deixam!"



Sempre acreditei que um dia a minha filha seria vegetariana. Tinha tudo o que a motivava para dar o passo: empatia pela filosofia por detrás da alimentação, e interesse pela minha dieta, que escolhia mais vezes do que qualquer outro membro da família.
Pensei que fosse uma questão de tempo, como aliás é para todos, mas confesso que nunca pensei que fosse tão rápido. Em Novembro do ano passado disse-me que aderia, definitivamente, ao vegetarianismo.

A Letícia sabe que pode desistir quando entender, fazer pausas, ou prevaricar se outro prato lhe agradar, e que não me decepcionará, pois respeito o seu caminho. Terei sempre orgulho nela. Mas entretanto, vejo que o processo está a decorrer com normalidade; gosta de todas as comidas vegetarianas que cozinho, embora tenha as suas preferidas. Já não pergunta inquieta, o que vai ser o almoço, ou jantar, quando chega da escola; sabe que seja o que for, gostará.

Há, contudo, dias problemáticos. Devido ao horário lectivo apertado, um dia da semana em que almoça na escola. E, ocasionalmente, participa em campeonatos de Rope Skipping, todo o dia. Ora, acontece que nestas ocasiões a opção vegetariana, não existe. Tem que levar o seu almoço, ou optar por uma refeição fragmentada, comendo apenas o que pode, daquilo oferecido.

No ano passado, creio eu, a DGS divulgou um manual de alimentação vegetariana em idade escolar, porém a informação foi dirigida às famílias, mantendo-se as Escolas à parte. As medidas devem ser mais assertivas para que mudanças ocorram, e esta lei, aprovada na sexta-feira, que torna obrigatório um prato vegetariano em todas as cantinas públicas, vem mudar, finalmente, a situação. E nós regozijamo-nos com isso.

Estes passos demonstram que a dieta vegetariana é pelo menos uma opção tão válida como a omnívora, e que as pessoas têm o direito de optar. Espero que assim se vá desconstruindo a ideia de que apenas a dieta omnívora é garante de saúde ( a propósito, será mais o contrário, ver aqui, sendo o consumo de carne relacionado a doenças, OMS dixit, ver aqui). E é, também, uma possibilidade que se abre a muitas crianças e jovens, que enfrentam oposição e preconceito familiar. Porque há crianças que dizem querer ser vegetarianas, mas os pais não permitem.

Educar com consciência envolve respeito pelo sentir e querer dos filhos. E creio, que embora a motivação parental seja boa, nem sempre é a mais ética e justa. Estamos minados com preconceitos, fossilizados em formatações de décadas, esquecidos das nossas próprias essências, e ainda assim nos julgamos soberanos na educação dos filhos. Vai sendo hora de questionamentos, de reflexões e mudanças. A Lei dá um empurrão, mas temos nós que fazer o resto.