Saudades Roxas |
No ano passado comprei as sementes, mas não deu resultado, é bem mais difícil cultivar a partir de sementes, é a conclusão a que tenho chegado, mas também tive a feliz ideia de trazer dois ou três pés da casa da minha mãe, que pegaram, embora não tenham florido.
Porém, este ano já nos brindaram com algumas flores, e à primeira que abriu, debrucei-me sobre ela, para aspirar o seu odor, como faço sempre. Instantaneamente, fui transportada no tempo, para a minha infância: dias de Verão, muito quentes, eu transpirada, colante, e de rosto afogueado, no meio das flores, a ouvir o zumbido das abelhas e borboletas, em número incrivelmente abundante.
Nas vezes seguintes que ia ao jardim, pela manhã, repetia o gesto, e a memória olfactiva desencadeava, velozmente, o momento no passado. Agora estou a refrear-me um pouco, de forma a não "gastar" tudo de uma vez, quero continuar a sentir aquele impacto que me transporta no tempo.
Bateu-me uma nostalgia, dos longos Verões quentíssimos, abafados, e que nem assim nos impediam de sair para brincar. Tudo era natural, sem etiquetas nem títulos de jornal terríficos. Apenas desfrutávamos do Verão, e da vida. E éramos felizes.