Há dias, a conversar com uma mãe de um menino de 10 anos, ela dizia-me que o filho não lê voluntariamente, e o estratagema que encontrou para o levar a ler foi oferecer-lhe aquilo que ele mais gosta, no momento, que são cartas Pokemon, por cada livro lido. O próprio miúdo disse-me qual o livro estava a ler agora, algo do Sherlock Holmes o que me espantou, e realmente não me parecia nada entusiasmado. Ou seja, a leitura é forçada, ele está a ser coagido a ler.
Embora eu compreenda muito bem os pais que querem que os filhos leiam, sobretudo aqueles que até dão exemplo porque são leitores convictos, e sabem os benefícios da leitura, também já estive nesse lugar, não me parece que todas as estratégias servem a causa; esta, por exemplo, pode causar mais prejuízo do que benefício a longo prazo. Se a leitura não proporcionar momentos prazenteiros, irá ficar associada exactamente ao contrário, e quando quem vivenciou estes momentos, puder decidir, não irá pegar mais em livros.
Como não há estratégias de sucesso garantido para todos os casos, só posso partilhar aquela que conheço e funcionou, com o meu filho; desde bebé que esteve sempre em contacto com livros, carregávamos livros para todo o lado, íamos à Biblioteca todas as semanas, a certa altura duas vezes por semana, livrarias eram outro destino incontornável, e durante muitos anos pareceu funcionar. Porém, ao entrar na adolescência a vontade de ler esmoreceu e constatei que passava semanas, alguns meses até, sem pegar num livro. E quando o fazia, porque eu insistia, estava visivelmente contrariado, e rapidamente pousava o livro, demonstrando que estava somente a cumprir a tarefa. A despachar a imposição.
Finalmente, apercebi-me que quando o Duarte encontrava um livro que o motivava lia-o num fôlego. Portanto, a questão não era apenas ler, mas encontrar algo que lhe interessava, e comecei a procurar afincadamente, dentro das temáticas predilectas, e constatei que efectivamente isso funcionava.
Então, levar os filhos a Bibliotecas, Livrarias e Feiras de Livros, e expô-los às múltiplas escolhas que existem é fundamental. Ter também a noção de que há fases que nos apetece ler mais do que noutras e respeitar essas pausas. E por fim, ter paciência, até os filhos encontrarem o seu ritmo de leitura, o seu nicho, que pode demorar tanto como se descobrirem enquanto pessoas.
O Duarte é assumidamente um leitor constante, tem sempre um livro na mesinha-de-cabeceira, pelo menos, e por vezes alterna com outros, porque as temáticas que escolhe são frequentemente algo densas, de História e geo-política. O facto é que o habito da leitura se enraizou, porque nunca desistimos e, sobretudo, de encontrar a fórmula agradável.