segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Como Se Escolhe uma Profissão?

 Estamos, praticamente, no início do ano lectivo e a este propósito tenho conversado mais com amigas cujos filhos ingressaram na Universidade este ano; há histórias do arco-da-velha relacionadas com este tema, como a menina que entrou em Medicina, mudou para Matemática e andou um ano inteiro a fingir que continuava no curso inicial até reunir coragem para contar aos pais. O pai chorou! Não por pensar no estado da filha durante aquele ano, mas por perder a concretização do seu sonho - ter uma filha médica!

Outra terminou Medicina, onde foi muito infeliz ( continua a ser a carreira de sonho para os pais!) quando queria ter estudado, coincidentemente, Matemática; mas como disse o pai: Com essa média era uma pena!


E outra ainda, desistiu da carreira de enfermagem, logo no início, está a trabalhar num escritório e a estudar à noite, embora os pais continuem a pagar as quotas na Ordem. Só o fez, depois de sair de casa, e agora, segundo ela, é feliz.

Os pais continuam a dirigir rumos, e frequentemente, de forma tão impositiva e despótica, para cumprir sonhos pessoais e resolver frustrações íntimas que nem se apercebem como estão a atrasar e complicar a vida dos filhos. Claro que os pais que não se imiscuem de todo, e deixam essa escolha totalmente aos critérios dos filhos também estão em falta. 

É preciso orientar, são tão novos, tão inexperientes, que conversar com eles mostrando-lhes os vários aspectos das profissões ponderadas é um dever nosso. Eu, por exemplo, se tivesse um filho a dizer-me que queria estudar Enfermagem, iria falar-lhe dos inconvenientes do trabalho por turnos, dos feriados e fins-de-semana em contramão da família e amigos, da dificuldade de colocação e precaridade. Evidente que se ele tivesse, claramente, vocação para tal actividade iria apoiar a 100%, porém já não iria às cegas. Aliás, para qualquer trabalho eu apoiaria totalmente estando convencida de que era um chamado vocacional; quando assim é, por mais difícil que encontrar trabalho seja, eles acabam sempre por se dar bem, pois o gosto com que trabalham torna-os bons profissionais, e isso vai dar frutos.

Então, tenho pensado se a entrada na Universidade é um sonho realizado mais para os filhos ou para os pais. O curso superior já não é garantia de emprego, muito menos bem remunerado, estão em ascensão as profissões manuais, havendo grande demanda e pouca oferta, o que faz subir vencimentos, são profissionais que pedem o que querem pelo trabalho e já ninguém discute, pagamos, ponto. O desprezo da sociedade pelos ofícios manuais levou a esta carência actual e aflitiva. E muito injusto é este preconceito - O uso das mãos não impede o do cérebro! 

Seria tão bom se os pais, os educadores, os professores, a sociedade em geral se dedicasse antes a orientar os jovens para a descoberta de deles mesmos, de modo a se estudarem, a conhecerem-se no sentido de saber o que gostam e não gostam, sem a formatação do status, do sonho parental, do desejo primário de "ganhar muito dinheiro", mas antes de se imaginarem activos numa área que os realize, que desenvolvam sem síndrome de "segunda-feira", que lhes proporcione satisfação. 

Eu sei que o mundo laboral está em constante mudança, e as gerações mais novas também, a maioria não se imagina a desempenar o mesmo trabalho toda a vida, portanto outras vias se abrem no horizonte, e talvez tudo se resolva, mais adiante. Espero que sim, desejo-lhes que sim.