quarta-feira, 29 de abril de 2015

Céu Roubado


Em plena luz do dia, roubam-me mais um pedaço de céu. 
Tesouro insubstituível que se pode sonegar, com licenças e sem direito a reparações. 
Chamam-lhe desenvolvimento; eu chamo-lhe, atentado contra o meu direito de admirar o céu.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Maquilhagem Não é Para Crianças

Não fosse a globalização um facto, e as modas se divulgassem tão rapidamente, eu não daria grande importância ao que se passa nos E.U. e Inglaterra. Nestes países, é normal as crianças usarem maquilhagem, sendo que em Inglaterra aos 11 anos é vulgar, e nos E.U. a maquilhagem é feita para crianças a partir dos 3. É uma indústria em expansão.

Parece que o Mundo inteiro conspira para o crescimento precoce das crianças. As bonecas cada vez mais maquilhadas e sexys deixaram de reflectir a imagem das meninas, antes divulgando um modelo de beleza adulto e fictício, com medidas desproporcionadas.  
As mães famosas carregam ao colo os seus filhos - sobretudo meninas- como se acessórios fossem, muitas vezes usando modelos exclusivos de marcas extremamente caras, adaptados à medida infantil. Levam-nas para os desfiles de moda, sentando-se na primeira fila, onde recebem mais atenção do que os próprios criadores das colecções.
Os concursos de beleza infantil tornam-se cada vez mais populares, arrastando multidões crescentes. Muitos pais vivem já em função deles, impondo às suas filhas actividades que elas detestam, tendo inclusivamente que as subornar com doces, brinquedos e promessas, para conseguir a cumplicidade das mesmas.


Sempre foi normal que as meninas quisessem imitar as mães, calçando os sapatos de tacão, pintando os lábios com batom, e usando um ou outro acessório. Mas apenas enquanto durasse a brincadeira, o que não era muito. E elas sabiam que era uma brincadeira. Sabiam que ainda não tinham idade. E como as regras eram do conhecimento de mães e filhas, a experiência não induzia ninguém na ilusão de que as crianças já tinham idade para tal. Consciência que agora se perde com todo um mercado a funcionar em torno da beleza infantil.

Nesta cultura da beleza precoce, ninguém está preocupado com o facto de as crianças deixarem de viver uma infância saudável. A preocupação única é o lucro. Cabe aos pais, como primeiros defensores dos filhos, entenderem que esta objectificação da criança é nociva; e não é coisa pouca, para além de lhes conturbar a infância, promove a hipersexualização infantil. 

Há um tempo para tudo, cada etapa da vida é importante para aprender e construir a base necessária, para passar à fase seguinte. 
Qualquer criança sabe aquilo que muitos pais parecem ter esquecido: - Saltar etapas é batota! 
E cá para nós, nunca dá bom resultado.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Orientar as Amizades dos Filhos


Segundo o Dr Mário Cordeiro* os pais não devem escolher os amigos dos filhos, estes não devem ser amigos de todos, nem devem convidar toda a turma para a festa de aniversário. Os amigos imaginários são bons, e os outros não desviam os nossos filhos a não ser que estes queiram. Simples assim. E eu poderia assinar perfeitamente por esta cartilha; aprendi na prática, por vezes errando, tudo aquilo que o pediatra defende, porém tenho algo mais a acrescentar.


Podemos e creio bem, devemos, orientar as amizades dos nossos filhos. Já sabemos que o grupo os influencia, para o bem e para o mal; que fazendo amizade com crianças mal comportadas, o afecto que lhes dedicam os faz ver o mau comportamento com uma certa benevolência, que poderá facilmente descambar para a admiração. Desse estado para a imitação é um passo. 


Então, conversar com os filhos acerca do comportamento correcto na sala de aulas, comentando o que determinado menino fez ou disse, demonstrando o que está certo ou errado, faz parte da educação.  
Admito que pode não ser politicamente correcto mas convenhamos... o contrário será hipocrisia. Ensinei sempre os meus filhos a cumprimentar e tratar todos os colegas com educação e cordialidade, contudo a fazer distinção entre colegas e amigos, sendo que neste último grupo há lugar apenas para crianças com comportamentos e valores idênticos.
Em primeiro lugar vêm os nossos filhos, ou não? Tão importante como os ensinar a agir e comportarem-se correctamente, é ensiná-los a fazer a distinção das companhias que escolhem. Aliás, fazemos isso toda a vida.

*in Maxima nr 313

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Quem Monologa

Há pessoas que não estão minimamente interessadas em dialogar, apesar de manterem conversas. Tudo o que dizem finaliza com ponto final e parágrafo. 
Não estão interessadas no que o outro pensa, sabe ou diz. Tudo isso é acessório ao conhecimento absoluto que julgam possuir.

A farsa do diálogo é apenas necessária pelos ouvidos emprestados que lhes dá pretexto para se ouvirem.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Pataniscas de Brócolos e Queijo



Vou inaugurar um novo marcador de comida vegetariana, com esta receita. Uma refeição super fácil e deliciosa. A massa das pataniscas pode guardar-se no frigorífico para fazer noutro dia, o que é muito prático.
Acompanhei com arroz de jasmim, que também é do mais fácil que há, e adoro, uma salada de alface e rabanetes, e uma colher de molho de alho. 

Os meus filhos estão a adquirir o hábito de experimentar todas as minhas refeições, e gostaram muito desta. Passo a passo vamos no caminho certo!

Pataniscas de Brócolos e Queijo


Ingredientes:
2 Chávenas de brócolos cozidos ( fiz ao vapor )
2 ovos grandes
1/2 colher de chá - Sal
1/2 chávena de Croutons
1/2 Chávena de Parmesão, fresco
2 colheres de sopa de azeite

Como fazer:
Cozer os brócolos (cozi a vapor).
Colocar os brócolos, os ovos, sal, croutons, azeite e queijo parmesão no processador de alimentos.
Misture até ficar bem picado. Usando uma colher de sopa, formar bolas.
Aqueça a frigideira com um pouco de óleo. Coloque as bolas da mistura na sertã, e alise com uma espátula. Deixe cozinhar até que ambos os lados ficam crocantes.  


Sem dúvida, uma forma de fazer as crianças comerem brócolos alegremente. Chamem-lhes hambúrguers para a alegria ser ainda maior! 


Receita do Super Healthy Kids

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Amar Acima de Tudo



Não me parece que exista à face da Terra experiência mais reveladora, acerca de nós mesmos, do que aquela de ser mãe e pai. Desafio mais radical, lição mais proveitosa ou prova de maior responsabilidade. 

O que aprendemos com a maternidade/paternidade modifica-nos, e frequentemente, vira-nos do avesso. Revela-nos coisas que nós mesmo ignorávamos, e mostra aos outros uma faceta de nós que eles desconheciam. E nem sempre são coisas boas.
Na realidade, e frequentemente, são coisas das quais não nos orgulhamos. Ninguém está acima do erro. Umas vezes são pequeninos detalhes, outras vezes são coisas maiores, terríveis. 
Quando os filhos não se encaixam na imagem que construímos para eles, e destoam da fotografia familiar que pretendemos mostrar, espoleta aquele botão, no mecanismo interior do progenitor, que exige uma acção. O amor congela.

De todos os casos, o que mais me choca é a rejeição da homossexualidade dos filhos. Ainda no séc.XXI se expulsam filhos de casa, devido à sua orientação sexual. Ainda se finge não saber da vida sexual dos filhos. Ainda se ignoram os seus companheiros.

Não consigo entender porque razão, os pais, que deveriam ser os primeiros a aceitar, se tornam os primeiros a apontar e a rejeitar. O resto do Mundo se encarregará disso. Os nosso filhos necessitam encontrar na família o porto seguro, o ombro, o abraço, a compreensão. 
O que muda, afinal? Continuam a ser os nossos filhos. O amor não deveria estar dependente de nada, muito menos submisso ao orgulho, ou aos outros.
Amar verdadeiramente é um acto incondicional, e acredito que essa é a maior lição que os filhos nos proporcionam. 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Por Vezes a Vida é Poesia

Como qualquer pessoa que gosta de escrever, e não passa sem escrever, houve uma época em que também eu ensaiei algumas linhas na poesia; era adolescente, e rapidamente compreendi que aquilo não era para mim. Um outro patamar, mais selecto, mais secreto, onde apenas um punhado de escolhidos poderia entrar.
Durante muito tempo fiquei até com uma certa raiva da poesia, por não conseguir escrevê-la, recusava ler fosse o que fosse, e de quem fosse. Mas o mundo gira. Fui lendo alguns poemas, e apreciando um ou outro. Fui lendo mais, e apreciando mais. E continuava no meu canto: já me bastava ler, escrever não era para mim.

No Verão passado, a sombra de um desgosto começou a pairar na minha vida, e como acontece frequentemente em momentos de crise, fiquei mais reflexiva, introspectiva; querendo o de todos, desvendar os segredos dos deuses e dos homens, na tentativa de encontrar respostas que me apaziguassem. E espontaneamente, os meus pensamentos foram ganhando a forma de textos, alguns, na forma poética. Palavras geradas por pensamentos voluntariosos e sofridos.

Francamente, não gostei do processo daquela escrita; descobri que a poesia se tornava obsessão, e me fazia prisioneira da palavra. No entanto, depois que ganhava forma o alívio sentido era pacificador.
Por coincidência nessa ocasião, recebi a proposta para participar  de uma colectânea de poesia lusófona, em edição de autor. Parece-me pretensioso, e até contraditório, chamar antologia a uma edição de autores, no entanto foi assim designada. Enfim, há poemas para todos os gostos. Os meus ficaram aí registados para não caírem no esquecimento.

Este foi um dos poemas que publiquei :


Folha que cai

   Há, na folha que cai, a pacífica nostalgia do tempo que acaba.
   Aceitação do inevitável, sem lamento e incompreensão
   Ao nosso olhar interrogativo.
   Soberana conhecedora dos segredos do tempo
   Sabe que nasce, que vive, que morre.
   E que tudo se repete infindavelmente. 


in Enigmas
Antologia de Poesia e Texto Poético da Lusofonia
Sinapis Editores
À venda na livraria Elêtheia, Rua de O Século, nr 13, Lisboa

terça-feira, 7 de abril de 2015

Entre Menires e Cromeleques


Cromeleque de Almendres,

Gosto de determinadas palavras apenas pela sonoridade. Como de outras não gosto mesmo nada, pela mesma razão. De menir e cromeleque, gosto imenso. Do ano passado para cá, comecei a sentir-me fascinada pelo que representam, para além da palavra, quando até aí não lhes tinha reservado qualquer interesse. 

Cromeleque de Almendres, alinhamento que faz lembrar Carnac


Portanto, destas férias de Páscoa, do que vimos e visitamos, os menires e cromeleques, no Alentejo, foram os meus grandes favoritos. Nunca tinha visto nenhum, e por isso foi bastante especial contemplá-los in loco.

Cromeleque de Xarez de Baixo, 50 monólitos em redor de um menir de 4 m de altura
Diz o Guia Michelin, e por vezes a informação junto destes monumentos, que são obra de comunidades agro-pastoris, e que o objectivo seria render homenagem aos mortos, e assinalar simbolicamente a sua pertença àquele local. Com certeza sabe-se quase nada, podemos apenas especular. Sente-se, no entanto, uma certa magia nestes locais, que me fez acreditar que talvez fosse realmente ali que o homem neolítico se ligava ao divino, como mais tarde o fez nas catedrais, e hoje nas igrejas. 

Menir de Almendres,
Quando penetramos na clareira onde se situava o Menir de Almendres, as várias pessoas que lá se encontravam estavam sentadas em seu redor, observando aquela pedra de 2,50m silenciosamente. O respeito era quase palpável, e por muito pagão que possa parecer, o momento foi religioso. 

Anta do Olival

O objectivo das Antas é menos misterioso, uma vez que as provas aí encontradas demonstram claramente que serviam para enterrar os mortos. Esta do Olival continha cerca de 130 corpos, com algumas das suas pertenças. 

A região de Évora é rica em megalitos, datados de 4000 a 2000 AC. Em redor de Monsaraz encontram-se inúmeros menires e dólmens, cerca de 150 considerados de interesse arqueológico. São fáceis de encontrar, pois vão sendo assinalados ao longo da estrada. Os de Almendres são mais distantes, em plena serra, e para chegar até eles a estrada de terra batida é a única via. Porém, para minha estranheza, o caminho não tem nada de solitário, os visitantes de várias nacionalidades cruzam-se constantemente. O fascínio por estes monumentos antigos e misteriosos é mais comum do que inicialmente pensei. 

Os meus filhos não ficaram propriamente fascinados com os menires e os cromeleques, apesar de os terem estudado em História. A utilidade que lhes viam era lúdica, escondendo-se entre eles com os primos. Mas nem todas as crianças são assim; em Almendres, um menino aparentando 9 anos, declarou impressionado: - Que sítio de pedras fixe! É o mais fixe que já vi! 
E eu senti um pouquinho de inveja daquela mãe. Pouquinho, porque a inveja é feia, mas eu sou humana! 
Enfim, filhos arqueólogos não terei, mas acredito que um dia todas estas visitas darão fruto de alguma forma.