sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Pataniscas Sem Bacalhau Vegetarianas

 


Há determinadas comidas que procuro recriar nas suas equivalentes versões vegetarianas, foi o caso das pataniscas; e após diversas tentativas, acho que acertei, entre aquilo que me parecia bem em receitas consultadas e o meu poder criador alcancei uma receita bem deliciosa. 

Sabendo que eu frequentemente invento as receitas, a Letícia recomendou-me enquanto as devorava: mãe, anota já no caderno esta receita porque são mesmo boas! E assim, fiz. Por vezes invento, não anoto e esqueço. E por vezes é mesmo uma pena.  

Estas pataniscas ficaram fofas, e a saber a mar,devido às algas. Muito nutritivas devido à farinha de grão de bico, e de aparência semelhante às de bacalhau.  

Pataniscas sem bacalhau Vegetarianas

 

Ingredientes:

1 courgete ralada com a pele

1chávena de Farinha de grão de bico

1 cebola

1 colher de sopa de Alga wakamé desidratada

1 colher de fermento

Salsa q.b. 

sal e pimenta

meia chávena de água

1 colher de café de cúrcuma

 

Como Fazer: 

Num recipiente colocar a água com a alga wakamé cerca de 5 minutos.

Noutro recipiente colocar a farinha, cúrcuma, fermento, juntar a água e misturar bem com um fouet. Acrescentar a cebola, courgete, salsa e a alga picadinhas, temperar com sal e pimenta preta a gosto, e envolver tudo.

Fritar às colheradas em óleo bem quente, e servir com arroz de tomate, uma combinação perfeita!

 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A transformação

Como já tinha contado por aqui antes, tenho estado muito activa nas redes sociais, mais exactamente no FB. Antes da Palermia tinha cerca de 200 amigos, porque só aceitava pessoas que conhecia, depois, entendi que deveria fazer frente unida com aqueles que pensam como eu, e relevei o anterior critério. A moldura a apoiar os Médicos pela Verdade Portugal, da minha foto de perfil identifica-me mais facilmente, e creio que isso fez com que começassem a chover pedidos de amizade, que ainda assim rastreio. Dispenso os Trolls.

Os meus amigos anteriores praticamente emudeceram, por assim dizer; acho que descobriram uma faceta minha que desconheciam, e além disso, aquilo em que acredito e que divulgo deixa-os muito cépticos e desconfiados, afinal a narrativa oficial continua a ser difícil de largar. Estão cautelosos, esperando que as notícias e teorias partilhadas apareçam nas televisões, coitados. Esperam que daqui a duas semanas o confinamento acabe, as lojas e escolas reabram, e que as suas vidas voltem ao normal, ou "novo normal", para mim, o "novo anormal". Coitados. É que depois de duas semanas vem mais duas, depois até à Páscoa, e depois mais um mês para salvar o Verão, e por aí fora. Andamos nesta lenga-lenga há quase um ano mas ainda não repararam.

Comecei a notar uma maior inclinação para a dúvida, em dois ou três amigos, a suspeição de que esta história não estaria bem contada. Eu vou observando, sem nada dizer. Já sei que ninguém convence ninguém, cada um faz o seu caminho, no seu tempo.

Talvez pela minha insistência e preocupação com a saúde das pessoas, e resgate da economia, muitos pensem que estou também desesperada a defender o meu negócio ou a minha sobrevivência. Não é de todo o caso. Faço apenas o que me parece bem fazer, por em consciência sentir que é importante defender o que está certo. Eu sei, como muitos me dizem, sentindo a frustração, que essas pessoas vão colher o que semeiam mas continuo a sentir empatia pelas dificuldades que enfrentam e enfrentarão. E apesar de frustrada também, e compreender esse argumento, quero continuar a sentir compaixão pela dor alheia. Quero continuar a ser generosa e colaborativa, no que estiver ao meu alcance. E quando me dizem "vamos ver se as escolas abrem brevemente", eu penso com ternura "coitada", mas já nem sequer respondo.

O caminho que a Humanidade trilhava não estava certo, e tínhamos que ser postos nos carris adequados; o mega consumismo, a poluição, o foco no ter em vez do ser, no exterior em vez do interior, o egoísmo e ganância, a desvalorização da família, da natureza, dos outros reinos, tudo isso indicava o colapso do nosso planeta e da nossa raça. Esta é uma oportunidade excelente para reavaliarmos o nosso modus vivendi, mas receio que a grande maioria não esteja a ver todo o panorama. Como ouvi algures: "A dor é uma das mais poderosas ferramentas que o ser humano tem para a transformação", uns vão observar e absorver, transformando-se, outros terão mesmo que passar pela dor.

Observar tudo isto, fazer o que podemos pelo melhor do colectivo, e aceitar os nossos limites, e os dos outros tem sido uma aprendizagem valiosa. A lição vai continuar em 2021.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Leituras dos filhos

 


O Duarte foi sempre aquele tipo de leitor que só lê o que gosta e tem que gostar muito. Depois ia por ali fora, e se fossem colecções lia uns atrás dos outros. Houve uma fase em que era eu que tinha que procurar os livros e trazer-lhe as propostas, eventualmente lá acabava por encontrar algum que lhe agradasse, e ele retomava o hábito. Mas nunca desisti de tentar incutir-lhe o amor pelos livros, apesar de por vezes passarem meses sem o ver ler. Cheguei a temer o pior, mas agora confirma-se, "de pequenino se torce o pepino", tal como comigo, a semente ficou lá e criou raiz. 

Da última vez que fomos a Braga, ele e a Letícia quiseram entrar na livraria, e claro já não saíram de lá sem livros. O Duarte escolheu este, sem dica minha, sem influência. Vem tão a propósito!

Sim, sou uma mãe orgulhosa. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Homens néscios (excerto)

HOMENS NÉSCIOS QUE ACUSAIS

Poema de Soror Juana Inés de la Cruz. 

[Tradução de Aílton de Souza e Jorge Luis Gutiérrez]

Homens néscios que acusais
a mulher sem razão, 
sem ver que sois a causa
do mesmo que culpais: 

se com ânsia sem igual
solicitais seu desdém, 
por que quereis que procedam bem
se as incitais ao mal? 

Combateis sua resistência
e logo, com gravidade, 
dizeis que é leviandade
o que fez a diligencia. 

Assemelhar-se quer a ousadia
de vosso parecer louco,
ao menino que faz uma mostro
e logo lhe tem medo. 

Quereis, com presunção néscia, 
encontrar à que procurais, 
para prometida, Thais, 
e para possuir, Lucrecia.

Que humor pode ser mais estranho
que aquele que, sem conselho,
ele próprio embaça o espelho,
e reclama que não está claro?

Com o favor e o desdém,
estás em igual condição,
queixando-se, se lhes tratam mal,
zombando, se lhes querem bem. 

Opinião, nenhuma ganha,
pois a que mais se recata,
se não vos admite, é ingrata,
e se vos admite, é leviana.

Sempre tão néscios andais
que, com desigual cota, 
a uma culpais por cruel
e a outra por fácil culpais. 

Pois como há de ser moderada
a que vosso amor pretende, 
se a que é ingrata, ofende, 
e a que é fácil, entedia? 

Mas, entre o tédio e a aflição
que vosso gosto insinua, 
bem haja a que não vos queira
e lamentai vos em hora idônea. 

Dão vossas queridas tristezas, 
a suas liberdades asas, 
e depois de torná-las más
quereis achá-las virtuosas. 

Qual maior culpa tem tido
em uma paixão errada: 
a que cai pelos rogos
ou quem roga por caído? 

Ou quem tem maior culpa, 
independente do mal que faça: 
a que peca por salario, 
ou quem para pecar paga? 

Pois, para que vos espantais
da culpa que tens?
quereis elas como as fazeis
ou fazei elas como as procurais.

Deixe de solicitar,
e depois, com mais razão,
acusareis a afeição
da que vos for a suplicar. 

Bem com muitas armas fundo
que luta vossa arrogância, 
pois em promessa e instancia
juntais diabo, carne e mundo. 
 Sóror Juana Inés de la Cruz, México, sec.XVII
 

Há séculos que andamos nisto.  

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Um planeta perfeito

 

Via Pinterest

Realmente, quando mais envelheço mais me apercebo quanto gosto do Verão e menos do Inverno; aborrece-me a chuva, que dia após dias nos assola, ensopando os solos, e alargando as margens do rio, até transbordar pela ponte terrestre, impossibilitando a passagem para o parque público. Mesmo que páre de chover um dia, não se pode fazer caminhadas, pois todos os caminhos estão enlameados. E o céu cinzento de dia e de noite, ocultando as estrelas que tanto gosto de observar, e me fazem sorrir de todas as vezes que as contemplo. E o desconforto de sentir a chuva na roupa, por baixo de qualquer abrigo, com aqueles pingos finhinhos e chatos como melgas?! Prefiro o frio de Inverno, apesar das camadas de roupa, do cachecol e luvas, ainda acho encanto àquele ar gelado que congela a ponta do nariz mas me refresca a face, como uma aragem agradável num dia quente de Verão. E por tudo isso, ponho-me a sonhar com outras paragens, não para viajar que agora não se pode, mas para viver, onde o clima seja mais brando e os dias mais agradáveis ao longo do ano. E no nosso pequeno país temos também essa possibilidade, mas as vidas das pessoas são bastante mais complicadas e mudanças de residência não se fazem por apetites pessoais, quando vivemos em família. Ainda que todos concordem comigo nestas lamurias climáticas. 

Bom, entretanto, ouço esta frase, que me fez reflectir: Deus criou as estações para que pudéssemos ter beleza na diversidade. Caramba, agora até me parece óbvio por demais, mas se reflectirmos nela descobrimos como é uma frase genial. Tudo o que o Criador fez tinha um sentido, e porém a maioria das vezes não o alcançamos por mais evidente que seja. Na sua infinita generosidade Deus não quis enfadar-nos com o mesmo cenário ao longo do ano, dos anos, da vida, mas antes nos proporcionar quatro cenários diversos, para que desfrutássemos com os olhos, a pele, o nariz, a boca, o que cada uma poderia oferecer-nos de diferente. E que toda a diversidade nos fizesse ansiar pelo que viria a seguir, já em alegria pelo que experimentaríamos. 

Apesar da paisagem algo desolada, das árvores sem folhas, e arbustos acastanhados, há vida debaixo dos solos molhados ou cobertos de geada; há vida acima também. Há cor e odor, mas também sabor. E na Primavera começamos a ver a transformação, os rebentos e folhas a brotarem, apontamentos de cor, outros e mais frutos, numa promessa de abundância em direcção ao Verão. Os dias são maiores para termos tempo de desfrutar de todas as coisas boas que a estação nos oferece. E no Outono, começamos a sentir um declínio, de tempo, cronológico e meteorológico, de redução de frutos, de cores que se esbatem, de folhagem que se vai despindo e despedindo, para mais um ciclo. Porque conhecemos a árvore despida, valorizamos-lhe as folhas que brotam na primavera, a copa frondosa no Verão, e a mudança das cores na folhagem no Outono. E há beleza nisto, e perfeição, pois que após a ânsia de entrar na nova estação, vamos fazendo sempre o círculo com alguma saudade das que ficam para trás. 

É uma bênção viver num planeta que possui quatro estações; que deprimente seria viver num eterno Inverno, ou cansativo num permanente Verão. Viver para sempre na Primavera e Outono seria como ficar no meio da ponte, sensação estática de não ter chegado ou não ter partido para o devido lugar. Não, viver num planeta, num país, com quatro estações é absolutamente perfeito, e não poderia ser melhor! Porque na obra divina não há enganos, nem acasos, há amor e generosidade, e por isso estou imensamente grata. E lá fora continua a chover, aquela chuvinha fina e chata. Que bom!