terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Um planeta perfeito

 

Via Pinterest

Realmente, quando mais envelheço mais me apercebo quanto gosto do Verão e menos do Inverno; aborrece-me a chuva, que dia após dias nos assola, ensopando os solos, e alargando as margens do rio, até transbordar pela ponte terrestre, impossibilitando a passagem para o parque público. Mesmo que páre de chover um dia, não se pode fazer caminhadas, pois todos os caminhos estão enlameados. E o céu cinzento de dia e de noite, ocultando as estrelas que tanto gosto de observar, e me fazem sorrir de todas as vezes que as contemplo. E o desconforto de sentir a chuva na roupa, por baixo de qualquer abrigo, com aqueles pingos finhinhos e chatos como melgas?! Prefiro o frio de Inverno, apesar das camadas de roupa, do cachecol e luvas, ainda acho encanto àquele ar gelado que congela a ponta do nariz mas me refresca a face, como uma aragem agradável num dia quente de Verão. E por tudo isso, ponho-me a sonhar com outras paragens, não para viajar que agora não se pode, mas para viver, onde o clima seja mais brando e os dias mais agradáveis ao longo do ano. E no nosso pequeno país temos também essa possibilidade, mas as vidas das pessoas são bastante mais complicadas e mudanças de residência não se fazem por apetites pessoais, quando vivemos em família. Ainda que todos concordem comigo nestas lamurias climáticas. 

Bom, entretanto, ouço esta frase, que me fez reflectir: Deus criou as estações para que pudéssemos ter beleza na diversidade. Caramba, agora até me parece óbvio por demais, mas se reflectirmos nela descobrimos como é uma frase genial. Tudo o que o Criador fez tinha um sentido, e porém a maioria das vezes não o alcançamos por mais evidente que seja. Na sua infinita generosidade Deus não quis enfadar-nos com o mesmo cenário ao longo do ano, dos anos, da vida, mas antes nos proporcionar quatro cenários diversos, para que desfrutássemos com os olhos, a pele, o nariz, a boca, o que cada uma poderia oferecer-nos de diferente. E que toda a diversidade nos fizesse ansiar pelo que viria a seguir, já em alegria pelo que experimentaríamos. 

Apesar da paisagem algo desolada, das árvores sem folhas, e arbustos acastanhados, há vida debaixo dos solos molhados ou cobertos de geada; há vida acima também. Há cor e odor, mas também sabor. E na Primavera começamos a ver a transformação, os rebentos e folhas a brotarem, apontamentos de cor, outros e mais frutos, numa promessa de abundância em direcção ao Verão. Os dias são maiores para termos tempo de desfrutar de todas as coisas boas que a estação nos oferece. E no Outono, começamos a sentir um declínio, de tempo, cronológico e meteorológico, de redução de frutos, de cores que se esbatem, de folhagem que se vai despindo e despedindo, para mais um ciclo. Porque conhecemos a árvore despida, valorizamos-lhe as folhas que brotam na primavera, a copa frondosa no Verão, e a mudança das cores na folhagem no Outono. E há beleza nisto, e perfeição, pois que após a ânsia de entrar na nova estação, vamos fazendo sempre o círculo com alguma saudade das que ficam para trás. 

É uma bênção viver num planeta que possui quatro estações; que deprimente seria viver num eterno Inverno, ou cansativo num permanente Verão. Viver para sempre na Primavera e Outono seria como ficar no meio da ponte, sensação estática de não ter chegado ou não ter partido para o devido lugar. Não, viver num planeta, num país, com quatro estações é absolutamente perfeito, e não poderia ser melhor! Porque na obra divina não há enganos, nem acasos, há amor e generosidade, e por isso estou imensamente grata. E lá fora continua a chover, aquela chuvinha fina e chata. Que bom!