segunda-feira, 28 de abril de 2008

Fim dos tabus


Fico perplexa com a actual facilidade das pessoas em assumir comportamentos interditos. Tabus como ser divorciado, ser mãe solteira, fumar, tomar a pílula, fazer um aborto, etc, já tiveram o seu tempo. O tabu diluiu-se sob o signo da liberdade, do “ninguém tem nada com isso” e os limites alargaram-se para lá da imaginação. Que um pai de 60 anos e uma filha de 30 venham assumir um romance, e o filho que tiveram em conjunto, passa para lá da minha imaginação.

Como chegamos a esta situação? Acredito que o aniquilamento de valores tem levado à dissolução dos tabus. Contudo, todas as sociedades, todas as culturas necessitam de tabus, por isso mesmo os têm e tiveram; os tabus são limites pelos quais as pessoas se orientam, pelos quais as sociedades se pautam buscando a preservação da ordem. Uma cultura sem tabus torna-se devassa e em última instância caótica.

Fiquei a pensar no Eça. Se Eça de Queiroz tivesse vivido numa sociedade sem tabus jamais teria escrito “Os Maias”, pois a trama principal seria completamente banal; Carlos da Maia e Maria Eduarda poderiam ter vivido uma vida conjugal pública e assumida, poderiam ter tido filhos e poderiam até ter vivido felizes para sempre!E aquela única vez em que Carlos sucumbira a Maria Eduarda, em consciência, não teria tido aquele efeito avassalador.

Que lástima….

Uma boa semana a todos!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um princípio e um fim


Ultrapassou as intempéries de Inverno e apresentou-se vigorosa à Primavera. Quando as primeiras folhas brotaram, quebrando o castanho do seu tremendo esqueleto, constatamos num alívio tácito que a vida permanecia ali. Porém, as tempestades súbitas primaveris fustigaram-na incessantemente com chuva e vento e ela cedeu. As folhas murcharam, e nós, esperançosos, pensamos que talvez fosse a geada que as queimara. Mas não, alguém nos disse que as raízes estavam doentes e que seria apenas uma questão de tempo. A nossa figueira morreu.

Eu via-a como uma imensa gaiola, daquelas especiais, que convidam a entrar e permitem sair, pois nela não existia porta. Tudo era liberdade. Pouso de excelência para pássaros viajantes, procurando uma sombra ou um abrigo da chuva; pardais, melros, rolas, e andorinhas – ainda mal tinham chegado – saltitavam de ramo em ramo, perseguindo-se enamorados, chilreando num coro alegre e insuportável para algum citadino a dormir cá em casa. O verde frondoso da sua folhagem era a mais fantástica das cortinas, oferecendo-nos privacidade e uma decoração natural e viva. Sim, ela era um ser vivo, deu-nos belos e suculentos frutos durante a sua existência e deixou descendência; há cerca de 2 anos começaram a nascer figueiras pelo jardim, que nós fomos arrancando e dando a amigos e vizinhos. Sem saber que ela preparava já a partida. Ficou uma filha, num canto esquecida, até há pouco. Por isso, que ninguém estranhe quando eu contar que a morte da figueira, única árvore do jardim, que já existia nele antes de nós, nossa companheira e companhia nos abalou até ao âmago. O meu marido sentiu-se em luto e o meu filho agarrou-se a mim a chorar.
-Tudo tem um princípio e um fim, filhote. Murmurei-lhe ao ouvido.

Tenha uma óptima semana!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Dura lex, sed lex


Quando um juiz decide que uma criança de 7 anos, criada por pais afectivos, deve ser entregue ao pai biológico (que nem quis saber da gravidez e só fez teste de ADN obrigado pelo Tribunal!) e ignore relatórios de pedopsiquiatrias posicionando-se contra, eu pergunto-me: - Terá este juiz a noção de sensatez?!

Exercer o ofício de juiz será unicamente aplicar leis? As leis não se interpretam nem são consideradas as circunstâncias? Porque a lei privilegia sobretudo os laços sanguíneos a história da Esmeralda não é tida nem achada para a decisão final. Apliquem-se as leis e se pelo meio crianças são abandonadas à sua sorte (ou má-sorte!) nenhum juiz será penalizado por isso! O juiz cumpriu a Lei. Parece-me no mínimo bastante insensato.

Assim como se fazem testes para medir o C.I. e C.E. eu sugeria que alguém providenciasse o teste C.S.- Coeficiente sensatez, para os advogados que pretendam tornar-se juízes (nos advogados a falta de sensatez é necessário, senão quem vai defender os criminosos?!) a fim de se medir o grau de sensatez do candidato em questão.
Será pedir demasiado que um juiz reúna conhecimento das leis com sensatez na hora de formular a sentença?!
É uma pena que no dia 19 não seja o juiz a ir “arrancar “ Esmeralda da casa dos pais afectivos e levá-la para o pai biológico…

Uma boa semana a todos!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fã de marcas


(Imagem de Getty Images)

Antes de eu nascer, a minha mãe mandou fazer o meu enxoval todo a uma costureira; ainda hoje ela e as minhas tias falam das peças únicas, feitas com os tecidos mais finos, enfeitadas com delicadas fitas de seda, rendas e bordados. Durante toda a minha infância a roupa que eu as minhas irmãs vestimos foi feita por costureiras, até que estas começaram a desaparecer (preferiam ser empregadas têxtil) e nós começamos a reclamar roupas que víamos no pronto-a-vestir. As marcas não nos diziam nada.
Antes de ser fã de marcas, sou fã de bons tecidos e de cortes bem feitos; a marca diz-me muito pouco e acho que, na maior parte dos casos, não vale o preço que se paga. Claro que, para muitas pessoas as marcas dão status e isso justifica o preço.
É cada vez mais frequente encontrar pessoas com looks completos de uma só marca ou a mistura de várias marcas de costureiros famosos; obviamente, com a exibição dos respectivos logótipos nas roupas e malas, muitas vezes a strass ou lantejoulas, o todo não primando pela descrição! Então nas malas tenho visto autênticas irmandades, uma espécie de epidemia tem sucedido a outra, a da Louis Vuitton, da Burberry e agora a Tous.
Dizem os psicólogos (nem acho que fosse descoberta deles!) que as pessoas mais susceptíveis de sucumbir à febre das marcas são inseguras, com necessidade de valorização. E dia para dia, eu vejo o número crescente de “inseguros” que agora levam também os filhos para essas lojas exclusivas e de lá saem completamente “upgraded”, sem duvida, muito mais valiosos do que antes!
Da minha experiência vejo que as crianças ficam muito mais contentes com t-shirts da Minnie (pode ser em strass!) e sweat-shirts dos Pokemon do que com uma camisola ostentando um logo que nada lhes diz!

Eu até gosto imenso de moda, até tenho marcas, mas creio que esta excessiva importância da roupa é apenas mais um reflexo da nossa sociedade fútil e superficial. E tudo o que é demais….

Tenha uma boa semana!