quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O trabalho

Compreendo que esteja tudo em aberto, que quase tudo seja incerto, e por isso o desafio de formar jovens para o mercado de trabalho do futuro seja missão arriscada. Mas penso que surge com isso uma oportunidade de ver o trabalho de outra forma; que é imperativo formar os jovens para uma nova dinâmica laboral. Desmistificar a importância do trabalho. Prepará-los para um futuro em que se trabalha para viver, não se vive para trabalhar; que o emprego é um meio de proporcionar uma série de coisas que contribuem para o nosso crescimento, e desenvolvimento ao longo da vida, para além de pagar contas. Que a vida acontece, sobretudo, fora da profissão. Claro que isto não interessa ao mercado capitalista, que pretende mão-de-obra convencida que existe para trabalhar; mas nós existimos para viver e para nos superar-nos.

Não querendo desdenhar o trabalho, penso que este deveria ser apenas uma pequena parte da vida. E portanto, para a grande maioria parece que o trabalho é que lhes dá sentido. As pessoas confundem-se com o que fazem. Deixam de ser. A dedicação extrema à profissão pode resultar num profissional bem sucedido, e olhando para trás todos lhe reconhecerão esse valor, mas se isso resultar na renúncia a tudo o que de mais a vida lhe oferece, eu pergunto: foi realmente uma vida bem sucedida? Excepto se a pessoa for um Einstein, um Beethoven, um Bach, que deixa um legado à humanidade que a modifica e permanece pelos séculos, não vejo como pode ser uma vida de sucesso. 

Focadas no exterior, as pessoas desvinculam-se do seu interior, e não o escutando, não o desvendando, ele vai acabar por desvanecer. O trabalho como foco primeiro é uma alienação de si mesmo, e pode ser um vício ou uma fuga. Cresce o homem para a vida pública, extingue-se para o seu interior. 

A Escola já não funciona por ser um modelo que preparando trabalhadores para o mercado de trabalho como este os quer, já não agrada aos jovens. Estes querem algo mais da vida. E por conta da Escola estar na onda errada, não está sequer a formá-los para serem humanos com espírito crítico, conscientes do real valor da existência e encaminhá-los para a realização do seu melhor, falha. E  na falta da indicação desse caminho, vão-se perdendo os jovens em devaneios fúteis, como os jogos de computador e as redes sociais. 
Acredito que o mercado de trabalho está em transformação exactamente por a humanidade estar ela mesma em mudança. Falta encontrar o rumo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Moda ética

Veja

A matéria prima da roupa foi sempre muito importante para mim, muito mais do que as marcas; basicamente o algodão e linho no Verão, e a lã no Inverno. Ocasionalmente, a seda também me cativava, e a pele no calçado e carteiras, sempre. São materiais naturalmente frescos ou quentes, e com o bom aspecto que supera os restantes. Portanto, apesar da minha compaixão pelos animais nunca me tinha detido a pensar na proveniência da lã e das peles, em como tinham sido obtidas, e o que efectivamente eram. Ao tornar-me vegetariana fiquei mais receptiva a esta questão e as informações começaram a "surgir-me", como por exemplo, sobre a produção da seda (aqui). Nunca me tinha ocorrido que a seda resultava na morte da sua lagarta; a um nível inconsciente, sem nunca formular mentalmente o processo, entendia que a produção do fio de seda se fazia pela boca do bichinho sem prejuízo para a criatura. Ignorância que dá jeito, confesso. Porém, não, a seda resulta do casulo que a lagarta tece em sua volta, sendo os casulos metidos em água a ferver, e obviamente os bichinhos mortos. Nunca mais consegui vestir nenhuma peça de seda.
Quanto à lã, que sabia não resultar na morte das ovelhas, sinceramente deixei rolar. Gosto tanto das minhas camisolas e casacos! Mas entretanto, eis que me surgem informações sobre o tratamento dos animais, aquando da tosquia; não é bonito, são tratados como objectos, manuseados com agressividade e atirados brutalmente para o lado, após cada tosquia. Ficam cortados, magoados, assustados e traumatizados. 
Relativamente ao calçado e carteiras, é bom de ver que resultam de animais mortos. Quanto a isto não tenho escapatória que me isente. Portanto, este ano tomei a decisão de optar por comprar modelos vegan, e assim tenho feito. Tive o cuidado de pesquisar marcas aprovadas pela Peta, porque há produtos sintéticos que incluem no seu tratamento produtos de origem animal, como tintas por exemplo. 

O aspecto dos materiais é diferente daquele a que estamos habituados, sem dúvida, estou agora a adaptar-me a outro visual e toque, mas embora diferentes nota-se que são de boa qualidade, houve empenho em produzir um artigo bem feito, e mais e melhor, não são provenientes da exploração, sofrimento e morte animal!

LaBante London

Para o fabrico da minha carteira foram reutilizadas cerca de 30 garrafas de plástico. E para as minhas sapatilhas foi utilizado algodão orgânico, e a borracha comprada aos seringueiros da Amazônia, dentro das regras do comércio justo. 

Vi recentemente que já há uma alternativa à seda, resultado da casca de laranja. O futuro há-de trazer-nos matérias sintéticas cada vez melhores, tanto pela sua proveniência como pela sua aparência e acredito que tudo o que resulta de processos causadores de sofrimento a seres sencientes será abolido. Cada vez mais marcas anunciam que deixam o uso de peles naturais ou testes em animais. É uma questão de consciência e tempo, e se o primeiro se antecipar massivamente ao segundo, é apenas uma questão de escolha pessoal. Viver eticamente faz todo a diferença para uma vida feliz.  


Mais informação: 

Seda vegana 

Páre a tosquia horrível das ovelhas e carneiros

Peta - produção de lã

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Seitanas à Moda do Porto


Gostamos tanto desta refeição! E muitíssimo fácil de fazer e rápida. Retirei a receita deste site, mas adaptei de acordo com esta receita.
Embora não consumamos seitan mais do que uma vez por mês, esta receita passou, sem dúvida, a ser daquelas a repetir.

Seitanas*

Ingredientes:
Seitan
2 c.s. de molho de tomate
2 dentes de alho
1 dl de vinho branco
1 dl de cerveja
1 colher de sopa de whisky
1 colher de sopa de cerveja
Uma folha de louro
Uma pitada de colorau
Molho de soja a gosto
Meio limão
Piri-piri e sal q.b.
Azeite q.b.

Como fazer: 
  • 500 gr. de seitan
  • 1 lata de tomate em pedaços (400 gr.) ou 4 tomates grandes
  • 1 cebola média
  • 4 dentes de alho
  • 80 ml de vinho branco
  • 60 ml de cerveja
  • 4 colheres de sopa de molho de soja
  • 1 folha de louro
  • azeite q.b.
  • piripiri e sal q.b.


  • Ler mais: https://www.receitas-tradicionais-portuguesas-veganas.pt/products/seitanas-a-moda-do-porto/
  • de vinho branco
  • 60 ml de cerveja
  • 4 colheres de sopa de molho de soja
  • 1 folha de louro
  • azeite q.b.
  • piripiri e sal q.b.


  • Ler mais: https://www.receitas-tradicionais-portuguesas-veganas.pt/products/seitanas-a-moda-do-porto/
    Cortar o seitan em fatias finas e temperar com sumo de limão e uma colher de molho de soja, durante 30 minutos.
    Deitar num tacho um pouco de azeite e juntar o alho laminado, sem deixar queimar, acrescentar o vinho branco, a cerveja, o molho de tomate, a folha de louro e o seitan. Temperar com sal e piri-piri a gosto. Deixar estufar cerca de meia hora, virando os bifinhos de seitan a meio de tempo. 
    Servir com arroz seco ou batatas fritas, e grelos. 

  • 500 gr. de seitan
  • 1 lata de tomate em pedaços (400 gr.) ou 4 tomates grandes
  • 1 cebola média
  • 4 dentes de alho
  • 80 ml de vinho branco
  • 60 ml de cerveja
  • 4 colheres de sopa de molho de soja
  • 1 folha de louro
  • azeite q.b.
  • piripiri e sal q.b.


  • Ler mais: https://www.receitas-tradicionais-portuguesas-veganas.pt/products/seitanas-a-moda-do-porto/

    quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

    O papel de embrulho


    Afinal os embrulhos de Natal este ano foram diferentes daquilo que inicialmente tinha pensado; encontrei dois temas coordenados, o mesmo fundo bege, um com pequenas estrelas vermelhas e douradas, e outro com um par invernoso parisiense em diversas poses natalícias. Ficou simples mas ainda assim elegante. E vem isto a propósito de quê, passado já o Natal há quase um mês? A propósito de um comentário que a minha filha fez, a respeito do papel de embrulho. Disse-me ela: - Sabes, mãe, que só no Reino Unido, o papel que se gasta para embrulhar os presentes dava para dar a volta ao Equador sete vezes? 
    Claro que não sabia e fiquei chocada. Mas ela continua: - Temos que fazer alguma coisa acerca dos embrulhos; não devemos continuar a comprar papel, devíamos... sei lá, reutilizar!

    Estavam já os embrulhos feitos, mas sei que fiquei com esta batata quente para o próximo Natal. 

    Quando educamos os filhos para certos valores, temos que estar preparados para que eles subam a nossa parada. E depois, não nos resta senão ir por aí fora no ímpeto deles. Poderá ser incómodo, mas é assim que se muda o mundo.

    segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

    Cantar os Reis



    Quando eu era miúda, era habitual, juntar-me com as minhas irmãs e outras crianças da vizinhança e irmos cantar os Reis a alguns vizinhos. Recebíamos chocolates e algumas moedas, mas penso que o fazíamos sobretudo pela actividade propriamente dita. Sair à noite e fazer algo que ditava a tradição. Os nossos cânticos eram simples, e não tínhamos sequer alguém a tocar instrumentos, enquanto outros grupos que apareciam em casa dos meus pais, nos dedicavam quadras personalizadas, e um ou outro faziam-se acompanhar por viola ou cavaquinho. Era emocionante ouvi-los cantar à nossa porta; desligava-se a televisão de imediato, e ouvíamos atentamente o que diziam as letras. Por vezes, riamo-nos de alguma voz mais esganiçada. Os meus pais comentavam o afinamento e davam-nos o dinheiro, que eu e as minhas irmãs lhes entregávamos, à vez. Tudo entre nós era feito à vez.
    Parece um tempo próximo e porém, tão distante. São memórias tão vivas e no entanto já não passam disso, recordações, por deixarem de se realizarem. 

    Os meus filhos ainda ouviram algumas vezes o Cantar dos Réis à nossa porta, mas eram pequenos, já nem sequer se recordam. Eu conto-lhes as minhas histórias e das minhas memórias, faça-os suas. E é tudo o que têm e lhes ficará.
     
    Este fim-de-semana assisti a umas Reizadas, e um dos grupos empunhava um cartaz, apelando para que não deixássemos cair a tradição do cantar dos Reis. Resistem alguns grupos de pessoas mais velhas, e os Escuteiros que promovem valores antigos, na realização deste tipo de evento.
    A plateia era escassa para a comunidade que somos, os jovens não apenas não têm interesse algum em cantar como nem sequer têm interesse em ouvir. Aliás, mesmo a faixa etária relativa a pais e avós estava muito em falta. Outrora seria uma noite familiar, um pretexto para pais e filhos saírem de casa, num programa de Inverno. Mas enfim, mudam os tempos, mudam as vontades, como dizia o poeta, e muitas coisas se perdem. Se pelo menos outras surgissem, assim ricas em convívio e confraternização, assentes em actos culturais que fizessem história...
    Talvez a nostalgia me esteja a toldar o pensamento, mas receio bem que estejamos a fazer trocas que se revelarão maus negócios.

    segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

    Quem procura acha...

     
    Via

    Há pessoas que passam a vida à procura de defeitos. Viagens que correm mal, porque as pessoas são todas antipáticas naquele país. Comida que não presta. Livros que estão repletos de gralhas. Roupa cara que traz defeitos. Pessoas que não são perfeitas. E depois acham-se extraordinariamente perspicazes, dizem coisas do género: - Ah, eu tenho um olho clínico! Essas coisas saltam-me à vista.

    E a vida vai correndo assim, numa lamentação permanente das coisas que não estão bem, ou não correm bem, como se fosse algo inquestionável e não se pudesse esperar outra coisa. Por vezes, em conversa com esse tipo de pessoas, respondo que a minha experiência foi muito diferente; e dou exemplos para ilustrar a minha opinião. Nem assim se mostram, não direi convencidas mas pelo menos divididas, de tal forma estão convictas do seu juízo.

    Não posso afirmar que as suas experiências não sejam verdadeiras. Porém, tenho cá para mim que elas se focam apenas no que está mal, e minimizam o que corre bem, reduzindo experiências sistematicamente a más experiências. E como têm altos padrões de exigência, que dificilmente corresponderão à realidade, esbarram constantemente em desilusões. Porque a verdade essencial é esta: a perfeição não existe. A perfeição total e absoluta é divina, e mesmo assim, apenas para quem acredita.
    Nós somos repletos de imperfeições. Então, porque esperar ( exigir!) a perfeição dos outros? Das coisas? De tudo?

    Mesmo nas coisas realmente más que nos acontecem, há sempre um lado bom. Sucede que, frequentemente, o sofrimento não nos permite entende-lo, sobretudo no momento. À posteriori é mais fácil encontrar algo de positivo naquela experiência e compreender a situação no seu todo. O que também nem sempre acontece, porque a maioria das pessoas não se demora muito a reflectir sobre as situações. Preferem antes criticar. E assim, as situações repetem-se, e há sempre algo a censurar.

    Estes dias vi um vídeo de alguém, que a propósito dos votos de feliz ano novo, dizia que antes se deveria desejar um novo eu; efectivamente, esperar mudanças na vida simplesmente porque o ano mudou é um voto de confiança no nada. Para que a vida mude em 2019, somos nós que temos de mudar, nós é que somos o agente da mudança.

    Talvez achem que me contento porque as minhas expectativas são mais baixas. Não importa realmente, isso ou outra coisa qualquer, no fim de contas o que eu quero é ser feliz. E não queremos todos?