quinta-feira, 29 de abril de 2021

Bolo de Caneca de Baunilha Vegan



A Letícia tem, frequentemente, estes apetites repentinos, apetece-lhe algo doce, e se não for uma quadrado de chocolate negro é um bolo de caneca. Ela é que os fazia mas desde há uns tempos, nem sequer pode parar para isso, de forma que começou a pedir-me, e eu encontrei neste blogue* os melhores bolos de caneca vegan que ela já testou. Eu nem sequer sou fã destes bolos instantâneos,  mas destes... a sério, são mesmo bons! 

Este é sem glúten, estamos a tentar reduzir um pouco o consumo excessivo, que causa alguns problemas de saúde. Quem não quiser pode usar qualquer outra farinha.  

Como sempre, adaptei um pouco ao nosso gosto, inclusivamente no tempo de cozedura, 40 segundos no 750 fica óptimo para nós, que gostamos dos bolos húmidos. 

Bolo de Caneca de Baunilha

2 colheres de sopa de farinha de arroz
2 colheres de sopa de amido de milho (Maizena)
1 1/2 colheres de açúcar de coco
1/2 colher de chá de extracto de baunilha
1/4 de colher de chá de fermento químico
3 colheres de sopa de leite vegetal
1 colher de sopa de óleo vegetal (coco, girassol, soja)
1 pitadinha de sal

 
Como fazer:
Colocar os ingredientes secos na caneca e envolver; juntar os restantes, mexer bem e colocar no micro-ondas, 40 segundos; se por exemplo, usar óleo de coco, e não estiver bem diluído, pode colocar na caneca, pôr no micro-ondas 10 segundos, retirar, envolver e voltar à cozedura. Não irá afectar o crescimento.
Decorar a gosto, aqui com morangos e iogurte de soja de baunilha. 
 

terça-feira, 27 de abril de 2021

"A minha filha já namora"

Desde já aviso que este post tem um título enganador, serve apenas de ponto de partida sobre uma reflexão do assunto. Vamos lá. 

Há muitos, muitos anos, li um post no blogue de uma pessoa que seguia sobre as publicações que tinham tido mais sucesso, e para meu espanto em primeiro vinha - A minha filha já namora. Tinha-me escapado, porque obviamente nunca lemos tudo, e por curiosidade, fui lê-lo. Então tratava-se disso mesmo, a filha adolescente da autora começara a namorar e ela recordava o tempo, ainda recente em que a filha era bebé, uma criança, como o tempo passa e tal, e depois contava a abordagem feita à menina sobre sexualidade, anticoncepcionais, e essas coisas. Na época, pensei, será que eu era capaz de escrever um post destes? Era uma questão interna feita já com muito cepticismo, pois sempre acreditei que a partir de determinada altura a vida dos filhos passa a pertencer-lhes, e expo-la desse modo é devassá-la. Mas onde estaria o limite e quando?

Comigo foi gradualmente, nunca cheguei a perguntar ao Duarte ou Letícia se podia falar de certos assuntos deles. Resguardei-os naquilo que pressentia ser mais privado, mas por vezes abordei assuntos que podendo ser de interesse geral, não personalizei. Eu também poderia ter escrito um post daqueles, que pelos vistas dá muitos cliques, mas sinceramente, para quê? Para guia de mães na mesma situação? Não é preciso, estou sempre a bater na tecla do: falem com os vossos filhos, perguntem como passaram o dia, arranquem, cirurgicamente se preciso for, respostas sobre certos assuntos, mas acompanhem os vossos filhos! Saibam o que se passa na vida deles. E portanto, se isto for feito, nenhuma conversa em especial terá que ser feita no momento em que os nossos filhos começam a namorar. As conversas sobre "os factos da vida" fluem, naturalmente, muito antes disso. Quando o momento de namorar chega, já a cabeça deles deve estar bem informada e formada, com informação processada natural e paulatinamente.

Eu sei que os miúdos, actualmente, começam a namorar muito cedo, e inclusivamente a ter actividade sexual precoce, o que não é de todo desejável, pois o corpo não está ainda preparado para isso, mas os meus filhos nunca estiveram nessa onda. A Letícia chegou a comentar comigo acerca desta ou aquela amiga que já namorava, ou que já tinha tido uma data de namorados, e ela ainda não, e eu respondia: vocês não porque recebem muito amor na família, não precisam de colmatar carências afectivas. Ela anuía enternecida, e abraçava-me. Pois, porque eu acredito mesmo nisto, ou então que vão influenciados por modas, porque os amigos namoram, e querem ser iguais aos outros. 

Eu não me importo absolutamente nada que os meus filhos sejam tardios, nestas coisas. Sem pressão, tudo acontece naturalmente quando deve acontecer. E não festejo, simplesmente acompanho e vigio, como aliás, faço com o resto. Mas sim, o tempo passa. E rápido!

 

terça-feira, 20 de abril de 2021

Dica de leitura: Histórias Lindas de Morrer

 


Ainda estes dias comentava que não estava a ler livros tristes e deprimentes, portanto se não tivesse comprado este livro antes da palermia, e não estivesse ali na pilha dos livros a ler, a ser passado continuamente para baixo, acho que não o leria agora. Mas ainda bem que li. Foi escrito pela autora do " A morte é um dia que vale a pena viver", tornado famoso pelo excerto do vídeo da TedTalk viralizado, e por aí já se adivinha a linha que segue este livro. 

Ana Cláudia Quintana Arantes é uma médica brasileira, com diversas especialidades, entre as quais Cuidados Paliativos, sendo precisamente esta que torna possível este livro. Como diz na contra-capa, trata-se: "de uma colecção de comoventes histórias reais, recolhidas no exercício da sua profissão em que a proximidade do fim nos revela em pleno a nossa profundidade". 

Ana Cláudia trabalhou no Hospice, em S.Paulo, o último reduto dos doentes terminais, conhecido por proporcionar a estes um fim de vida digno, confortável, sem dor. Não deveria ser sempre assim? Mas, infelizmente, ainda não é. Portanto, aqui, os pacientes são consultados sobre todos os aspectos que se decidem sobre eles, acarinhados e cuidados de forma humana que não é de todo habitual vermos. 

Os relatos são pungentes, sim, mas também divertidos, inesperados e sempre comovedores. Entrar em contacto com esta narrativa aproxima-nos de um episódio inevitável da nossa vida, e dos que nos são queridos e próximos, que deve ser encarado com a naturalidade necessária para observar o desenlace do ciclo da vida. Não apenas para nos prepararmos, mas também para perder o medo e compreender que há coisas que a ciência e a matéria não explicam. Para nos alertar que o ser humano permanece nessa condição até ao fim, e merece ser tratado com dignidade. 

Sem dúvida um livro que deveria ser leitura obrigatória nas faculdades de Medicina, onde tantas vezes se esquece o aspecto humano do sujeito de estudo.


Título: Histórias Lindas de Morrer

Autora: Ana Claúdia Quintana Arantes

Editora: Oficina do Livro

Nr de Pags: 236

 

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Imaginemos que nascemos para sermos felizes...

A correspondência foi um passatempo que tive desde a adolescência, e  mesmo com amigas que fiz pessoalmente, mas viviam noutras cidades,trocava cartas, e isso levou a que coleccionasse papel de carta, bonitos e fofinhos, apreciando igualmente os que recebia de volta. Mas nenhum me ficou na memória como aquele que tinha ovos com rosto, numa caixa, e uns balões por cima a dizer: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Não era realmente um papel bonito, mas as questões deixaram-me a pensar desde aí.

As pessoas pensarão que estamos neste mundo para quê? Que será obra do acaso que tenhamos nascido, e por a casualidade estar na nossa origem, a vida pode ser vivida ao sabor da corrente? Que existir é nascer, crescer, trabalhar, pagar contas, envelhecer e morrer? E pelo meio, levar o "melhor que a vida tem, dar uns passeios e comer uns manjares"? Como tantas vezes já ouvi. Antes, motivo para trabalhar mais e pagar estas contas?! Digo eu, porque de facto, aquilo que o ser humano mais faz ao longo da vida é trabalhar, e pior, a grande maioria em profissões que não gosta. 

Imaginem um mundo onde nos fosse ensinado, desde pequeninos, que estamos aqui para sermos felizes. Mudava tudo, não era? Não uma forma de estar egoísta, em que atropelamos os direitos dos outros, mas uma pautada por uma conduta equilibrada em que a felicidade do outro faz parte da equação. Em que o bem comum é o caminho para a nossa própria felicidade. Isso é possível, não é utopia; um exemplo real, vi certa vez, um documentário dos países do Norte da Europa, em que uma senhora abastada explicava que estava certo pagar impostos mais altos para que o Estado pudesse ajudar os mais desfavorecidos, tornando a sociedade mais igualitária; uns atingiam um nível de vida digno e confortável, e os outros usufruíam de uma sociedade mais segura e pacífica. O exemplo negativo, também real, no Brasil, onde meia dúzia possui fortunas colossais, tendo como cultura a fuga aos impostos, e os pobres são paupérrimos e a grande maioria, num ciclo continuo que leva a uma altíssima criminalidade. Os milionários não têm a fortuna de viver uma vida normal, deslocam-se em helicópteros, em carros blindados, de vidros escuros, com seguranças, sempre olhando por cima do ombro, num estado de intranquilidade permanente, e não desfrutam plenamente do seu país. 

Portanto, imaginemos que nascer no planeta Terra tinha como objectivo sermos felizes; a Escola mudaria, a Educação mudaria, o trabalho passaria a ser apenas um meio de pagar contas, mas não de submissão, não a actividade principal a desenvolver na vida, pois as pessoas estariam ocupadas a fazer aquilo que as fariam felizes; teríamos mais tempo para nós, para reflectirmos, para descobrir respostas importantes, talvez para aquelas três primeiras questões. A vida seria uma descoberta prazeirosa permanente; e por andarmos felizes não estaríamos no estado de aborrecer o outro, de inventar quezílias, de fazer guerras. Seria assim como uma onda de bem estar, do nosso interior para fora, família, amigos, colegas, vizinhos, concidadãos, e por aí adiante, até planetário!

Tenho a certeza convicta que não nascemos para ser escravos do trabalho. Para sermos escravos de um sistema que nos esmaga, que tritura a nossa essência, e nos subjuga para levarmos uma existência adormecida e superficial. Não nascemos para possuir e acumular bens. Não é esse o objectivo; tudo isso é transitório e ilusório. Caso contrário os ricos seriam todos felizes, e não é isso que vemos, pois não?
A chave está dentro de nós. É aí que devemos investir, dedicando a nossa existência à reflexão, à descoberta de questões maiores, e à medida que o fazemos vão-se acendendo luzinhas que nos guiam e fortalecem, cada vez com mais convicção e alegria. Até à felicidade, que definitivamente, não está cá fora. 


Imaginemos que nascemos para sermos felizes...

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Conversar em pé de igualdade

 Ao longo do tempo fui escrevendo aqui de como acredito ser importante falar com os filhos, desde sempre de forma respeitosa, como de igual para igual. Foi assim que fiz, sempre lhes expliquei as coisas tal como eram e são, sem palavrinhas fáceis pelo meio, tendo o cuidado de lhes responder às duvidas, e explicar sempre com lógica e sinceridade. Nunca fiz joguinhos para lhes facilitar a aceitação do que fosse, e eles sempre pareceram reagir bem. Podiam não gostar, mas pela lógica compreendiam, e compreendem, aquilo que lhes quero transmitir aceitando-o. Inclusivamente, isso deu-lhes uma confiança em mim para acreditar sem pestanejar naquilo que lhes digo. E isto sempre me deu a impressão de que esse era o caminho certo, levando a que nele permanecesse. Duas amigas que fiz recentemente, com filhos mais velhos, partilharam comigo exactamente as mesmas experiências; os filhos já são autónomos, e vivendo fora de casa, mas tiveram e mantêm um relacionamento com elas de grande cumplicidade e confiança.

Acho insultuoso para com as crianças quando os pais os tratam com a condescendência que se destina àqueles que estão abaixo, só porque são pequenos. Não porque são filhos, porque quando crescem mudam o tom, e por vezes nem sequer o mereciam, é somente pelo estatuto atingido pela idade e altura. Eu não acho nada que tenha assim tanta importância, o que realmente importa é tratar os filhos com respeito desde sempre; por isso conversar de igual para igual, auscultar opiniões, e considerá-las, deveria ser habitual no relacionamento pais-filhos. Não quer isto dizer que em argumentação as opiniões estejam em pé de igualdade, há de facto um conhecimento pela experiência que coloca os pais acima do idealismo e "caprichos" dos filhos; mas nessa conversa, ou debate, cabe aos pais explicar e fundamentar a opinião, ou decisão que será praticada, em detrimento da pelos filhos apetecida. Isto é respeito. Isto é reconhecimento pela pessoa do outro, que embora dependente dos pais, tem direito à sua individualidade, personalidade, gostos e opiniões. 

Este tema recorrente torna-se mais importante nestes tempos difíceis que atravessamos, de confinamento, de falta de tantas rotinas que trazem aos nossos filhos mais ou menos prazer, e que lhes causam tantas contrariedades. A falta de liberdade para irem à escola, a festas de aniversário, a convívios com os amigos nas práticas dos desportos, nos parques, nas casas de uns e outros, e uma série infindável de interdições, originam frustrações que se revelam em comportamentos menos agradáveis, e até graves. Gerir birras, más atitudes, e comportamentos reprováveis tornou-se um desafio gigante, como nunca outrora, para os pais. Devemos compreender que para as nossas crianças e jovens isto tudo está a ser extremamente difícil de lidar. E embora a paciência dos pais também ande pelas ruas da amargura, é nossa obrigação ser os "crescidinhos" aqui; portanto, conversar com os nossos filhos, por mais pequeninos que sejam, ouvi-los, levá-los mesmo a desabafarem, sem condenar sentimentos, é de vital importância. Nem que seja para não podermos fazer mais nada do que abraçar, beijar e tranquilizar com palavras de optimismo: melhores dias virão.