segunda-feira, 12 de abril de 2021

Imaginemos que nascemos para sermos felizes...

A correspondência foi um passatempo que tive desde a adolescência, e  mesmo com amigas que fiz pessoalmente, mas viviam noutras cidades,trocava cartas, e isso levou a que coleccionasse papel de carta, bonitos e fofinhos, apreciando igualmente os que recebia de volta. Mas nenhum me ficou na memória como aquele que tinha ovos com rosto, numa caixa, e uns balões por cima a dizer: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Não era realmente um papel bonito, mas as questões deixaram-me a pensar desde aí.

As pessoas pensarão que estamos neste mundo para quê? Que será obra do acaso que tenhamos nascido, e por a casualidade estar na nossa origem, a vida pode ser vivida ao sabor da corrente? Que existir é nascer, crescer, trabalhar, pagar contas, envelhecer e morrer? E pelo meio, levar o "melhor que a vida tem, dar uns passeios e comer uns manjares"? Como tantas vezes já ouvi. Antes, motivo para trabalhar mais e pagar estas contas?! Digo eu, porque de facto, aquilo que o ser humano mais faz ao longo da vida é trabalhar, e pior, a grande maioria em profissões que não gosta. 

Imaginem um mundo onde nos fosse ensinado, desde pequeninos, que estamos aqui para sermos felizes. Mudava tudo, não era? Não uma forma de estar egoísta, em que atropelamos os direitos dos outros, mas uma pautada por uma conduta equilibrada em que a felicidade do outro faz parte da equação. Em que o bem comum é o caminho para a nossa própria felicidade. Isso é possível, não é utopia; um exemplo real, vi certa vez, um documentário dos países do Norte da Europa, em que uma senhora abastada explicava que estava certo pagar impostos mais altos para que o Estado pudesse ajudar os mais desfavorecidos, tornando a sociedade mais igualitária; uns atingiam um nível de vida digno e confortável, e os outros usufruíam de uma sociedade mais segura e pacífica. O exemplo negativo, também real, no Brasil, onde meia dúzia possui fortunas colossais, tendo como cultura a fuga aos impostos, e os pobres são paupérrimos e a grande maioria, num ciclo continuo que leva a uma altíssima criminalidade. Os milionários não têm a fortuna de viver uma vida normal, deslocam-se em helicópteros, em carros blindados, de vidros escuros, com seguranças, sempre olhando por cima do ombro, num estado de intranquilidade permanente, e não desfrutam plenamente do seu país. 

Portanto, imaginemos que nascer no planeta Terra tinha como objectivo sermos felizes; a Escola mudaria, a Educação mudaria, o trabalho passaria a ser apenas um meio de pagar contas, mas não de submissão, não a actividade principal a desenvolver na vida, pois as pessoas estariam ocupadas a fazer aquilo que as fariam felizes; teríamos mais tempo para nós, para reflectirmos, para descobrir respostas importantes, talvez para aquelas três primeiras questões. A vida seria uma descoberta prazeirosa permanente; e por andarmos felizes não estaríamos no estado de aborrecer o outro, de inventar quezílias, de fazer guerras. Seria assim como uma onda de bem estar, do nosso interior para fora, família, amigos, colegas, vizinhos, concidadãos, e por aí adiante, até planetário!

Tenho a certeza convicta que não nascemos para ser escravos do trabalho. Para sermos escravos de um sistema que nos esmaga, que tritura a nossa essência, e nos subjuga para levarmos uma existência adormecida e superficial. Não nascemos para possuir e acumular bens. Não é esse o objectivo; tudo isso é transitório e ilusório. Caso contrário os ricos seriam todos felizes, e não é isso que vemos, pois não?
A chave está dentro de nós. É aí que devemos investir, dedicando a nossa existência à reflexão, à descoberta de questões maiores, e à medida que o fazemos vão-se acendendo luzinhas que nos guiam e fortalecem, cada vez com mais convicção e alegria. Até à felicidade, que definitivamente, não está cá fora. 


Imaginemos que nascemos para sermos felizes...