segunda-feira, 5 de abril de 2021

Conversar em pé de igualdade

 Ao longo do tempo fui escrevendo aqui de como acredito ser importante falar com os filhos, desde sempre de forma respeitosa, como de igual para igual. Foi assim que fiz, sempre lhes expliquei as coisas tal como eram e são, sem palavrinhas fáceis pelo meio, tendo o cuidado de lhes responder às duvidas, e explicar sempre com lógica e sinceridade. Nunca fiz joguinhos para lhes facilitar a aceitação do que fosse, e eles sempre pareceram reagir bem. Podiam não gostar, mas pela lógica compreendiam, e compreendem, aquilo que lhes quero transmitir aceitando-o. Inclusivamente, isso deu-lhes uma confiança em mim para acreditar sem pestanejar naquilo que lhes digo. E isto sempre me deu a impressão de que esse era o caminho certo, levando a que nele permanecesse. Duas amigas que fiz recentemente, com filhos mais velhos, partilharam comigo exactamente as mesmas experiências; os filhos já são autónomos, e vivendo fora de casa, mas tiveram e mantêm um relacionamento com elas de grande cumplicidade e confiança.

Acho insultuoso para com as crianças quando os pais os tratam com a condescendência que se destina àqueles que estão abaixo, só porque são pequenos. Não porque são filhos, porque quando crescem mudam o tom, e por vezes nem sequer o mereciam, é somente pelo estatuto atingido pela idade e altura. Eu não acho nada que tenha assim tanta importância, o que realmente importa é tratar os filhos com respeito desde sempre; por isso conversar de igual para igual, auscultar opiniões, e considerá-las, deveria ser habitual no relacionamento pais-filhos. Não quer isto dizer que em argumentação as opiniões estejam em pé de igualdade, há de facto um conhecimento pela experiência que coloca os pais acima do idealismo e "caprichos" dos filhos; mas nessa conversa, ou debate, cabe aos pais explicar e fundamentar a opinião, ou decisão que será praticada, em detrimento da pelos filhos apetecida. Isto é respeito. Isto é reconhecimento pela pessoa do outro, que embora dependente dos pais, tem direito à sua individualidade, personalidade, gostos e opiniões. 

Este tema recorrente torna-se mais importante nestes tempos difíceis que atravessamos, de confinamento, de falta de tantas rotinas que trazem aos nossos filhos mais ou menos prazer, e que lhes causam tantas contrariedades. A falta de liberdade para irem à escola, a festas de aniversário, a convívios com os amigos nas práticas dos desportos, nos parques, nas casas de uns e outros, e uma série infindável de interdições, originam frustrações que se revelam em comportamentos menos agradáveis, e até graves. Gerir birras, más atitudes, e comportamentos reprováveis tornou-se um desafio gigante, como nunca outrora, para os pais. Devemos compreender que para as nossas crianças e jovens isto tudo está a ser extremamente difícil de lidar. E embora a paciência dos pais também ande pelas ruas da amargura, é nossa obrigação ser os "crescidinhos" aqui; portanto, conversar com os nossos filhos, por mais pequeninos que sejam, ouvi-los, levá-los mesmo a desabafarem, sem condenar sentimentos, é de vital importância. Nem que seja para não podermos fazer mais nada do que abraçar, beijar e tranquilizar com palavras de optimismo: melhores dias virão.