terça-feira, 27 de abril de 2021

"A minha filha já namora"

Desde já aviso que este post tem um título enganador, serve apenas de ponto de partida sobre uma reflexão do assunto. Vamos lá. 

Há muitos, muitos anos, li um post no blogue de uma pessoa que seguia sobre as publicações que tinham tido mais sucesso, e para meu espanto em primeiro vinha - A minha filha já namora. Tinha-me escapado, porque obviamente nunca lemos tudo, e por curiosidade, fui lê-lo. Então tratava-se disso mesmo, a filha adolescente da autora começara a namorar e ela recordava o tempo, ainda recente em que a filha era bebé, uma criança, como o tempo passa e tal, e depois contava a abordagem feita à menina sobre sexualidade, anticoncepcionais, e essas coisas. Na época, pensei, será que eu era capaz de escrever um post destes? Era uma questão interna feita já com muito cepticismo, pois sempre acreditei que a partir de determinada altura a vida dos filhos passa a pertencer-lhes, e expo-la desse modo é devassá-la. Mas onde estaria o limite e quando?

Comigo foi gradualmente, nunca cheguei a perguntar ao Duarte ou Letícia se podia falar de certos assuntos deles. Resguardei-os naquilo que pressentia ser mais privado, mas por vezes abordei assuntos que podendo ser de interesse geral, não personalizei. Eu também poderia ter escrito um post daqueles, que pelos vistas dá muitos cliques, mas sinceramente, para quê? Para guia de mães na mesma situação? Não é preciso, estou sempre a bater na tecla do: falem com os vossos filhos, perguntem como passaram o dia, arranquem, cirurgicamente se preciso for, respostas sobre certos assuntos, mas acompanhem os vossos filhos! Saibam o que se passa na vida deles. E portanto, se isto for feito, nenhuma conversa em especial terá que ser feita no momento em que os nossos filhos começam a namorar. As conversas sobre "os factos da vida" fluem, naturalmente, muito antes disso. Quando o momento de namorar chega, já a cabeça deles deve estar bem informada e formada, com informação processada natural e paulatinamente.

Eu sei que os miúdos, actualmente, começam a namorar muito cedo, e inclusivamente a ter actividade sexual precoce, o que não é de todo desejável, pois o corpo não está ainda preparado para isso, mas os meus filhos nunca estiveram nessa onda. A Letícia chegou a comentar comigo acerca desta ou aquela amiga que já namorava, ou que já tinha tido uma data de namorados, e ela ainda não, e eu respondia: vocês não porque recebem muito amor na família, não precisam de colmatar carências afectivas. Ela anuía enternecida, e abraçava-me. Pois, porque eu acredito mesmo nisto, ou então que vão influenciados por modas, porque os amigos namoram, e querem ser iguais aos outros. 

Eu não me importo absolutamente nada que os meus filhos sejam tardios, nestas coisas. Sem pressão, tudo acontece naturalmente quando deve acontecer. E não festejo, simplesmente acompanho e vigio, como aliás, faço com o resto. Mas sim, o tempo passa. E rápido!