terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Filmes que vale a pena ver, nos Telecines

Que horas ela volta?
Parece-me que a categorização dos filmes é aleatória. Como pode ser este uma comédia? Não é. É antes um drama, porque é assim que vejo a terceirização da maternidade; a empregada educa o filho da patroa, e alguém educa a filha da empregada, originando conflitos de afecto e intimidade que nada têm a ver com o sangue.
Gosto muito do cinema brasileiro, tem uma particular profundidade, toca em aspectos recalcados, que nos magoa. É-me necessário um certo estado de espírito para ver os filmes brasileiros, um espírito aguerrido, para enfrentar quem mexe na alma, e aguentar. Mas é deste cinema que vale a pena pagar para ver.

Sufragistas
Baseado na história real do movimento sufragista inglês, ficamos a saber quão absurdamente dolorosa foi a luta daquelas mulheres; do que tiveram de abdicar, do que fizeram em prol do bem comum. A par da desigualdade de géneros, no geral, que submetia ao homem, mulheres pobres e ricas, letradas e analfabetas. Ficamos com mais noção do valor dos direitos que temos actualmente. E gratas às mulheres que nos precederam, verdadeiras heroínas

Mustang
A história de 5 irmãs órfãs, jovens e inocentes, cheias de alegria e em tudo semelhantes às jovens que conhecemos. Só que elas estão ao cuidado de uma avó e tio, vigilantes dos bons costumes da religião. Passa-se numa aldeia turca. E isto explica tudo, ou quase tudo. Na saída da infância a vida dá uma reviravolta inesperada, e elas encontram-se prisioneiras em casa. Com o destino traçado, sem palavra a dizer.
Para que saibamos como é a vida de grande parte das mulheres muçulmanas, mesmo em países que consideramos modernos e moderados.

 Elsa & Fred
O amor pode acontecer na terceira idade? Mesmo após a viuvez, todas as perdas da vida, durante a doença e ameaça de morte iminente, Elsa e Fred, mostram-nos que sim. Que o corpo envelhece, mas não a alma, que permanece ávida das alegrias da vida. E que até ao fim vale a pena correr riscos para ser feliz.

Amor Polar
Baseado num história autobiográfica, duas meninas ficam entregues aos cuidados do pai, bipolar, quando a mãe vai trabalhar para Nova York. Os desequilíbrios do progenitor, devido à recusa da medicação, causam sucessivos problemas à família, que ainda assim se mantém coesa e resiliente. Uma história de amor comovente, daquelas que resiste às dificuldades de toda a espécie. 

Fort Bliss
Este é o tipo de filme que não costumo ver, mas ao fazer zapping prendeu-me a passagem de conflito mãe-filho, acerca da comida, de forma que o reiniciei e vi-o todo. A história de uma mãe militar, que abdica do filho de 4 anos, para partir em missão. Quando volta pretende recuperá-lo, aligeirando esse processo sem noção de como seria difícil, para o filho e ela própria. Quando as coisas já se encontram no bom caminho, ela volta a partir em  missão para o estrangeiro. Porque é essa a vida dos militares, e porque ela é realmente boa na sua profissão, e assim o escolhe. 
A dificuldade de conciliação entre certas profissões e a paternidade/ maternidade está aqui muito bem contada, com o ónus exacerbado, quando se trata de uma mãe. 

A ajuda divina
Quão raro é ver um filme, da actualidade, sem cenas de sexo, nudez ou beijos? Raríssimo. Este é de uma candura e pureza excepcionais. 
A história de uma família à primeira vista feliz, ou com tudo para ser feliz: jovens, belos e saudáveis. Bons carros, boa casa, bons empregos. Mas não é. Falta-lhes amor, intimidade, cumplicidade, empatia. Quando a infelicidade se agrava, entra em cena uma velha senhora com a bizarra teoria de que a vida corre melhor, quando oramos, e pedimos a Deus ajuda para resolver os nossos problemas. 
No original, "War room", que me parece muito mais exacto e inspirador. Um filme para ver em família.