terça-feira, 21 de maio de 2019

A maior herança

Deparei-me com este texto, do José Luís Peixoto, dizendo que as viagens são a herança que quer deixar aos filhos; argumentando com os pontos positivos, como a descoberta, aprendizagem, e abertura dos horizontes, faz a apologia das viagens familiares, com filhos ainda no carrinho de bebé. 

Nós também recomeçamos a viajar passados três anos do Duarte nascer, tendo ainda a Letícia dois; viajamos de Portugal à Eslováquia, continente e ilhas, de carro e avião. Carregamos as crianças ao colo, nos carrinhos e a pé; fizemos de tudo para que tivessem conforto, e algumas rotinas (como a sesta) preservadas. Rapidamente percebemos que visitas guiadas não funcionavam, eles ficavam irrequietos e impacientes, portanto comecei a informar-me do que visitávamos antes, e passei eu a ser a guia; contava-lhes sobre os sítios, castelos, personagens históricas, como se historinhas fossem, e então sim, resultou. Não descolavam de mim, queriam saber mais, faziam perguntas. E desses momentos, dessas viagens, desfrutamos com alegria, e ainda actualmente, quando as recordamos, nos enternecemos. Porém, para os meus filhos é como se nunca tivessem existido. A propósito de algum destino, a Letícia já me tem dito: se fui mas não me lembro de nada, é como se não tivesse ido. 

Eu queria acreditar que alguma sementinha, dessas viagens, ficou nos meus filhos; mas francamente, agora com adolescentes, tendo o mais velho feito dezoito anos em Abril, não posso garantir. Ele simplesmente desistiu de viajar connosco aos 15 anos, mas já antes se queixava durante as viagens; que era cansativo, que não lhe interessava, isto e aquilo. E amuado e resmungão, retirava-me frequentemente a minha própria alegria. Portanto, passou a ficar em casa; prefere férias de praia, e a essas adere positivamente. Há porém, um aspecto que eu suspeito ter origem nas viagens, que é o gosto e interesse pela História. Assim sendo, o benefício das viagens não será óbvio, mas ainda assim germinou ali qualquer coisa de bom. 
Relativamente à Letícia, sempre gostou de viajar e esse sentimento permanece, e acrescido, nos últimos anos.

Posto isto, é minha convicção que apesar daquilo que os filhos possam aprender em família, os seus gostos têm mais deles do que de nós. A nossa expectativa de que eles sejam como nós, ou como nós queremos, enquanto pais, é apenas isso - expectativa. 

Portanto, viajar em família é muito bom, e eu recomendo vivamente, mas para ser desfrutado no momento. A verdadeira herança que deixamos aos nossos filhos, é o afecto.
Nunca ouvi filhos de pais ricos, os chorarem, elogiando os bens materiais que lhes deixam; pelo contrario, até já ouvi desdenharem esses mesmos bens, por terem sido construídos em cima do tempo da família. Mas já ouvi, filhos de pessoas muito humildes, orgulhosos dos seus progenitores, falando de coração cheio, de como foram bons pais.

Como eu comecei por partilhar o artigo, na página do FB, defendendo a minha opinião, a Sam Shiraishi, autora do blogue "A vida quer", comentou, e chamou-lhe aliança, numa referência bíblica - O Senhor, nosso Deus, fez uma aliança connosco no monte Sinai.” ( Deuteronômio‬ ‭5:2‬ ‭NTLH‬‬ https://www.bible.com/211/deu.5.2.ntlh),
“Ele sempre lembrará da sua aliança e, por milhares de gerações, cumprirá as suas promessas.”
‭‭( 1Crônicas‬ ‭16:15‬ ‭NTLH‬‬ https://www.bible.com/211/1ch.16.15.ntlh ),.   

 E eu adorei. É isso que devemos construir com os nossos filhos, uma aliança, construída na base da relação efectiva. E essa é sim, a maior herança que lhes deixaremos.