quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Dica de leitura - O grito de guerra da mãe tigre



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Há uns anos este livro fez furor nos blogues maternos norte-americanos, acabando por repercutir pelos de língua portuguesa, daí eu ter tomado conhecimento dele. Como acontece sempre, os livros do momento nunca me interessam, para mais, por aquilo que tinha lido sobre o mesmo, pareceu-me que tinha sido escrito propositadamente para polemizar. Volvidos todos esses anos, eis-me a ler "O grito de guerra da mãe tigre"!

Amy Chua é filha de imigrantes chineses, e criada como tal; professora universitária, casada com um judeu americano, está decidida a educar as duas filhas segundo o modelo chinês, que acredita ela, é muito mais correcto do que o ocidental. Portanto, educar significa ensinar a trabalhar arduamente, seja na escola, seja a tocar os instrumentos musicais que ela escolheu para as filhas. Ela escolheu porque fez isso em tudo, a opinião das filhas não interessa, ela é mãe e sabe o que é melhor. A infância é apenas um período de preparação (intenso trabalho) para o sucesso na idade adulta; portanto, não há tempo para brincar, dormir em casas de amigas e participar de actividades na escola, como peças de teatro. 

Desde os 3 anos que as filhas são obrigadas a praticar 5 ou 6 horas por dia nos seus instrumentos. Espera-se delas que sejam apenas as melhores, só o primeiro lugar satisfaz! Para um pai chinês, o segundo lugar envergonha. Portanto, se a filha mais velha acatava as ordens da mãe, a filha mais nova desafia-a desde sempre e constantemente, levando-a aos gritos e insultos, dentre os quais a mãe chama "lixo" é filha e outros mimos de igual calibre. O ritmosxz de trabalho não abranda nunca, nem sequer nas férias no estrangeiro, para onde carregam o violino sempre. 
Os conflitos são duros e constantes, o marido discorda mas nunca trava a esposa, aliás em frente às filhas, faz frente unida com ela. Mesmo os avós pensam que Amy está a exigir demais e pedem-lhe que abrande, mas nada a demove.
Com 13 anos, a filha mais nova consegue, finalmente, que a mãe a liberte. Troca o violino pelo ténis, que pratica de forma competitiva mas ao seu ritmo.

Muitas vezes, ao ler este livro, concordei com as filhas, esta mulher é louca! Fiquei desgastada só de ler as vezes que ela mencionou que gritava. Uma casa onde os gritos são uma constante, parece-me o inferno.  Pensei que fosse desequilibrada e que fizesse tudo aquilo, não pelas filhas mas por ela, para se poder exibir. As críticas constantes à forma ocidental de educar também não lhe angariam simpatias, mas tenho de reconhecer que a extrema exigência da educação chinesa contrasta com o laxismo ocidental, o que também não é correcto; portanto, algo entre estes dois tipos de educação serial o ideal.

Entendo que os conceitos que nós temos de querer ter uma boa relação com os filhos, de os vermos felizes, de ouvirmos a opinião deles, sobre os seus interesses, sejam alheios aos chineses. Entendo que temos valores diferentes, mas nem nós estamos errados a 100%, nem eles certos na mesma medida. 
Os asiáticos parecem querer ter filhos-prodígio, e não acontecendo isso naturalmente, empenham-se em construí-los. Amy Chua termina fazendo tréguas com as filhas, porém o tom dela até ao fim é bastante complacente com a educação ocidental, comparativamente com a educação chinesa, ainda que tendo que recuar, sai vitoriosa. 
Não percebo como pode o relacionamento entre mãe-filhas sair incólume, depois de uma educação tão despótica; a não ser que se explique com o síndrome de Estocolmo! 

É interessante ler sobre uma forma de educar tão diferente da nossa, e a leitura é fluída, fácil. 

Título - O grito de guerra da mãe tigre
Autora - Amy Chua
Editora - Lua de Papel, Leya
Nr de pags. - 228