terça-feira, 27 de junho de 2023

A Família Não Abandona!

Via

Do nada, ontem, comecei a ouvir no jardim uma algazarra enorme de passarinhos que me obrigou a olhar pela porta de vidro, para perceber o que se passava; a Becas, uma das gatas, estava aninhada de costas para mim, absolutamente estática, e por cima dela voavam três ou quatro pardais em chilreio estridente. Ainda sem perceber o que se passava, abri a porta e apressei-me para junto dela, notei que os pássaros se afastaram menos de um metro, continuando em grande alvoroço, e vi que entre as patas e a boca, mantinha preso um passarinho. 

Forcei a Becas a largá-lo e ele voou baixinho assustado, certamente em choque, para um arbusto que lhe surgiu como primeiro refúgio, mas logo surgiu correndo a Ellie, a outra gata, o que obrigou a pequena ave a voltar para debaixo do caramanhão, enquanto o chilreio de alarme continuava; peguei nas duas gatas ao colo, com voz de comando, e levei-as para a lavandaria onde as fechei. 

Eu só pensava "Oxalá ela não tenha ficado ferida, e consiga voar!", pois, por mais de uma vez consegui libertar as aves das gatas, mas já estavam demasiado feridas, e não sobreviveram. Voltei ao jardim com cuidado e ouvi barulho nos arbustos, mas nunca mais vi o pardalito, apenas a mãe, que em cima da corda da roupa parecia chamar o filho. Decidi deixá-los sossegar e voltei para dentro, rezando para que o pequenino conseguisse voar com a mãe e irmãos. 

O resgate, por assim dizer, aconteceu em poucos segundos, eu não vi sequer a cena nitidamente, apenas a gata aninhada e estática, os passarinhos a voar em volta dela, num chilreio estridente, e a não fugirem sequer com a minha presença. A família não abandonou um dos seus, os irmãos, ainda a aprenderem a voar, mantiveram o predador paralisado, na tentativa de salvar o irmão. Isto é família no sentido mais básico e instintivo. Uma capacidade que a maioria dos pais humanos parece ter descurado, esquecido ou na pior das hipóteses, perdido.