quarta-feira, 7 de junho de 2023

"Será que as crianças ainda cheiram as flores?"


 Tirei foto a esta ervilha-de-cheiro com o telemóvel, e partilhei-a no FB, dizendo que o seu perfume me reportava à infância, e perguntando "será que as crianças ainda cheiram as flores?", à qual recebi muitos comentários, deveras interessantes. O que me fez reflectir ainda mais sobre o assunto, e ter vontade de partilhar, mais extensamente, aqui, no blogue. 

Que eu me debruçasse sobre as flores para apreciar os odores não era nada de excepcional, na minha infância todos os fazíamos. Passávamos muito tempo ao ar-livre, grande parte das nossas brincadeiras eram no exterior, nos quintais e jardins uns dos outros, estávamos em contacto directo com a natureza. Toda uma realidade que, praticamente, se extinguiu. 

Actualmente, a vida das crianças faz-se desde cedo entre quatro paredes, a vida profissional dos pais dificulta igualmente a saída para os espaços livres, e as actividades lúdicas principais, senão únicas, passaram a ser virtuais, jogos, vídeos, etc. . E precisamente um dos comentários recebidos dizia "Talvez prefiram cheirar os telemóveis". 

Houve também quem partilhasse vivências infantis alheias, uma criança que acompanhada pela avó comentava o cheiro das flores no ar, e que "cheirava a Primavera", prova de que estes episódios se tornaram raros, e por isso ficam na memória de quem os presencia.

Felizmente, algumas mães comentaram que sim, que os filhos cheiram as flores, mas essas mães são aquelas que as plantam, que as têm em casa, e que também as cheiram. O exemplo é sempre fundamental. 

Para mim, a nossa memória olfactiva é talvez a mais importante, porque no momento em que se activa me transporta ao tempo passado e me provoca as mesmas emoções da época. São memórias muito vivas. Como se estivessem alojadas num comportamento à parte, mais directamente ligado às emoções. No caso, cheirar uma flor permite-nos saber identificá-la, associando o odor ao visual, e realizar uma conexão imediata com o reino vegetal. Por momentos, acontece uma fusão entre nós e a flor, somos unos, e é uma sensação maravilhosa, que causa bem-estar, e propícia sentimentos de alegria e maravilhamento. Não é coisa pouca! 


Finalmente, houve quem comentasse que já não se lembrava de ver Ervilhas-de-Cheiro (pertencem às flores antigas dos jardins, saíram de moda!), e quem tinha semeado sem sucesso. Este é o segundo ano que semeio e com bons resultados. 
Faço assim: Comprei as sementes na Feira, coloquei-as em água de um dia para o outro, para activar a germinação. Dispus 8 rolos de papel higiénico num tabuleiro plástico (de cogumelos)que enchi até meio de terra, coloquei em cada quatro sementes, cobri com mais terra. Deixei o tabuleiro no parapeito da cozinha, do lado de dentro, fui regando, e em poucos dias as plantas nasceram. Deixo-as crescer dentro de casa até atingirem mais ou menos 10 centímetros, aí passam para a terra ou vaso, com rolo e tudo, afinal é biodegradavel. 
Para que produzam mais flores, depois das duas primeiras folhas, corto-lhe o caninho principal,deste modo vai obrigar a planta a crescer 2 "braços" laterais. Das primeiras vezes que o fiz custou-me um bocado, parecia que estava a mutilar a planta, mas na verdade isso fortalece-a, e os resultados são visíveis. 

Espero ter animado alguém, é aliás uma óptima actividade para se realizar com as crianças, se for o caso, garanto que vai valer a pena!