segunda-feira, 27 de outubro de 2025

As Formatações da Nova Era

Começo a pensar que aquela conversa de não criticar os outros, pois não sabemos todo o seu percurso, experiências marcantes e traumas, a ideologia divulgada pela Nova Era, não passa de formatação mascarada de tolerância, e bondade. Que no fundo, essa condenação da crítica absoluta invocando boas intenções, pretende aniquilar o pensamento crítico. 

Deveria antes ensinar-se a questionar o que é criticável ou não; por exemplo, se uma pessoa segue a moda independentemente do que lhe fica bem, alguém obeso com leggings, é algo que a mim não concerne nem impacta, porém, quando vejo jovens com calções tão curtos que parecem cuecas, já considero ter direito a criticar; francamente, prefiro ser poupada ao espectáculo de ver as nádegas de outrem à minha frente, enquanto subo umas escadas, como já aconteceu. A exposição excessiva do corpo, sobretudo em espaços públicos como a rua, é algo que não considero adequada. Porém, haverá quem defenda o direito de o fazer não importando o impacto para os outros, sob o pretexto - o corpo é meu, tenho o direito de fazer o que entender. Ora, eu penso que também tenho direito de afirmar o que me causa desconforto, de apontar o que não se alinha com uma conduta adequada dentro dos meus valores, e tenho direito a ter esses valores, e zelar por eles. 

Todavia, os defensores de todas as causas, escudando-se na liberdade ilimitada, mas apenas no que concerne aos libertários, pretendem inibir-nos o pensamento e a sua consequente verbalização. Não é evidente que existe aqui um contrassenso? Uma censura apenas para um dos lados? Penso que é bastante óbvio. 

Portanto, começaram por defender a abolição da crítica ao outro, sob a capa das boas intenções- ignoramos a vida do outro- e terminamos proibidos de emitir opiniões sobre tudo na sociedade, se for para discordar, e dentro de uma linha de valores mais conservadores. 

Quando nos impedem de desenvolver o pensamento crítico, reparem, já não o ensinam, estamos na fase seguinte, não o verbalizar, sob pena inclusive de fecho de conta nas redes sociais, e até pena de prisão, como está a acontecer em Inglaterra e Alemanha, ficamos à mercê da narrativa que a hierarquia nos quer impor, sejam governos, políticos, jornalistas, enfim, os chamados decisores. 

Recentemente, em Marseilla o presidente da Câmara proibiu a exibição do filme Sacré Coeur, invocando a laicidade do Estado, e isto gerou uma onda de contestação da parte dos cidadãos franceses, cristãos e até ateus, que está a revogar esta acção de censura. A capacidade crítica dos cidadãos entrou em movimento e reverteu uma decisão hierarquica; esta capacidade dá-nos poder, torna-nos participantes activos da sociedade, e intervenientes no curso da civilização. Não podemos permitir que nos subtraiam esse direito, temos que o reclamar e defender incessantemente. 

Filme Sacré Coeur