segunda-feira, 20 de abril de 2009

A beleza é natural, a perfeição cirurgical *


(Rapariga no toucador, Giovanni Bellini)

Quando eu e as minhas irmãs éramos adolescentes morríamos de rir quando a mãe dizia que fulano(a) ou sicrano(a) era muito bonito(a). De facto, o conceito de beleza da minha mãe era bastante lato e generoso e confesso que não o compreendi durante longos anos. Com a maturidade fui descobrindo que o conceito de beleza é muito relativo; no julgamento de outrem vai além da aparência e no do próprio tem muito a ver com a auto-estima. Mulheres belíssimas (como por exemplo Marylin Monroe) não se conseguem assumir como belas, porque simplesmente não vêm beleza nelas próprias. Além disso, o conceito de beleza é diferente de cultura para cultura e mutável ao longo da história; as mulheres de tez leitosa, rechonchudas, seios pequenos, e barriguinha proeminente da renascença deram lugar a um estereótipo completamente diferente: mulheres magras, com curvas bem definidas e tom de pele já não tão moreno, como há alguns anos atrás.

Acontece que chegamos a um ponto da nossa história em que ser bela já não é suficiente; extrapolamos os limites da naturalidade na procura da uma perfeição obtida graças à cirurgia e ao Photoshop. Em qualquer revista ou outdoor o tipo de mulher que nos dão a visualizar é humanamente impossível; jovem, bela e perfeita. Não ostenta sequer uma ruga de expressão. Ainda que seja uma mulher de 50 ou 60 anos.

Com certeza vivemos numa época de “imagem”, porém pior do que isso é viver numa enorme mentira, num fingimento constante de que todos somos jovens e belos ou que nem sequer existimos porque não somos jovens nem belos! E para que não restem provas do contrário escondem-se os nossos anciãos nos lares, residências ou “hotéis” e a enorme mentira sofre um lifting e torna-se verdade.

Agora, expliquem-me lá se isto é viver em democracia, se isto é ser livre!

Tenha uma excelente semana!

* tradução livre do francês “chirurgicale”