segunda-feira, 27 de abril de 2009

Eu sou a minha igreja


(Michelangelo, Capela Sistina)

Há dias a “beata-mor” cá da terra perguntou-me porque não iam os meus filhos à Catequese. Habitualmente só discuto religião com amigos ou pessoas muito próximas, porém a questão era directa que não vi forma de me esquivar. Tentei responder com a verdade, mas ainda assim de forma evasiva:
- Porque não acredito na Igreja como organização religiosa.
Ela argumentou, e eu contra-argumentei, fazendo o maior esforço para não expor pensamentos que considero íntimos e que só a mim dizem respeito. Depois de me tentar “converter” ela concluiu que eu tinha tido uma formação religiosa precária. Senti-me questionada, julgada e sentenciada em escassos 4 minutos. Pensei com a mesma arrogância como poderia isso ser possível, tendo sido educada na fé Católica, tendo feito a catequese e tendo inclusive estudado na Universidade Católica. Abstive-me de revelar o meu pensamento e respondi-lhe que gostava de pensar por mim própria; estudar e tirar as minhas próprias conclusões.

Não reconheço nas senhoras catequistas capacidade, superior á minha e do meu marido, para ensinar os meus filhos. Pelo menos, a ensiná-los a serem o tipo de pessoas que eu pretendo que sejam, e em cujo processo estou envolvida desde que nasceram. O meu projecto não é criar “super-criaturas”, somente seres pensantes, responsáveis pelos seus actos e abertos à realidade que os rodeia. Curiosos o suficiente para procurarem o conhecimento e a experiência e tolerantes quando encontrarem a diferença.

Talvez seja um projecto “revolucionário”, numa época onde abundam papagaios e carneiros, que um ou dois pensem e actuem conforme a consciência é uma missão arriscada. Remar contra a maré provoca fricção, incómodos e questionamentos. Não é, portanto, uma posição fácil e muito menos popular. Porém, aquilo que eu desejo é que os meus filhos “acreditem” e se daqui a alguns anos o meu filho me disser que não pode comer vaca, porque ela é divina eu vou respeitar. Eu quero que eles “acreditem”, acreditar em nada produz o quê? Nada. É improdutivo. Por isso espero que os meus filhos acreditem, sem ficarem fossilizados em dogmas. Sem tentarem converter, nem convencer. Apenas “ser”; acreditar num templo interior onde Deus está a todo o momento e viver a fé sem precisarem de bengalas. Porque acredito que a nossa ligação a Deus não necessita intermediários e que a igreja somos nós.

Tenha uma semana abençoada!