quarta-feira, 13 de maio de 2015

A Escola é a Nova Fábrica

Já por aqui falei diversas vezes sobre a carga escolar excessiva das nossas crianças. Entre horas curriculares, extracurriculares e trabalhos para casa, parece mal sobrar tempo aos pequenos para se alimentarem, banharem e dormirem. Quanto mais para brincarem!

Comigo fazem coro muitos pais, indignados por esta ditadura da Educação, mas a outra quota, aquela que faz parte da máquina gigantesca que mantém este sistema a funcionar, a quem este sistema até dá jeito por variadíssimas razões, permanece surda, indiferente a protestos e indignações. 

Vem agora este "estudo", afirmando que as crianças do 1º ciclo trabalham mais do que os adultos, causar pasmo pela descoberta. Pode ser que sendo notícia as pessoas olhem para a questão com olhos de ver. Muitos pais, e muitos adultos, acham que o tempo que as crianças passam  na escola não é nada demais, por ser entremeado com muita brincadeira. Vão aprendendo sem pressas, entre muitos recreios e pausas de ócio dentro da própria sala de aulas. 
Perguntem então aos professores, que têm quase 1000 metas para cumprir, no primeiro ciclo, se a escola é uma brincadeira. E como as horas de trabalho na escola são insuficientes, dão-lhes horas extraordinárias, para fazer em casa. É que há exames para fazer, ah pois!

Espantam-se muito, e dizem-se preocupados, com o número de crianças diagnosticadas como hiperactivas. Como não seriam? Frustradas dentro das salas de aula, dentro das escolas, e dentro de casa, onde mais não fazem senão o que lhes é imposto, a bem da higiene, da saúde e da educação?

Pegassem nelas depois da escola, e as levassem para o jardim ou parque mais próximo, dando-lhes bolas, raquetes e bicicletas, e as incitassem a correr, a saltar e dar cambalhotas. E as levassem depois para casa, sujas e descabeladas, mas exaustas e felizes, que a taxa de hiperactividade desceria a pique. "Brincar é como respirar", mas falta-lhes essa bolha de oxigénio. 

O que os especialistas dizem não faz jus ao que fazem. Fala-se tanto dos direitos das crianças, do direito à infância, do direito a isto e aquilo, e no fim de contas mais não fazem senão do que lhes sonegar o direito básico de serem crianças. De terem esse tempo para crescerem e aprenderem, sendo que brincar também é aprender.

E vão de arrasto as famílias, ignorando dias de festa, aniversários e Dia da Mãe porque os filhos, de 7 e 9 anos têm testes e exames para fazer. Fica em suspenso a vida social e familiar porque os meninos têm que estudar - "Tem teste amanhã!"

Sou do tempo em que a escola só funcionava de manhã, ou de tarde. As minhas tardes eram para fazer os t.p.c's e sobretudo para brincar. Inglês, aprendi apenas a partir do 7º ano, na escola pública, e falo-o fluentemente. 
Olhando para trás assumo a sortuda que fui, tive uma verdadeira infância, com tempo para tudo. 

Receio muito que esta geração, triturada pelo sistema educativo, venha a pagar bem caro todas estas mudanças, projectos pilotos, e "melhorias" na Educação. Mas em última instância, a factura não deixará de ser paga pela sociedade em geral. Por isso mesmo esta situação nos concerne a todos e não deveria deixar ninguém indiferente.