quinta-feira, 11 de março de 2021

Cada um tem o seu caminho

Há duas semanas passei por uma mãe, minha conhecida, e ela levava pela mão o filho mais novo, terá uns dois, três anos, com o rostinho mascarado; sem pensar disse-lhe que por Lei o menino não precisava de usar máscara, ao que ela me respondeu que sabia. Eu encolhi ombros frustrada e segui. 

Aquela cena lamentável não me saia da cabeça, sempre culpando a mãe por sujeitar o filho àquela máscara desnecessária, até que finalmente entendi; ninguém ama mais aquela criança do que aquela mãe. Ninguém quer mais o bem daquela criança do que aquela mãe. Como posso eu ousar, pretender, querer mais o bem do menino?! Não posso, é até arrogante da minha parte. Talvez até a tenha ofendido. 

Decidi então que nunca mais me imiscuiria em situações semelhantes. Que seja o que Deus, e os pais, quiserem. 

Estes dias, no Mercadinho onde faço compras estava uma mãe jovem, com dois filhos, o menino de seis ou sete anos também mascarado e a menina de três ou quatro ainda sem máscara. Olhei para eles e sorri com os olhos, ciente da promessa que fiz a mim mesma. Enquanto pagava, o grito contido da mãe fez-me olhar para trás: - Não toques! Sabes perfeitamente do vírus! 

O menino encolheu-se, e a irmã fez um gesto com a cabeça de encontro aos ombros como se quisesse recolher-se dentro de si mesma. Está a ser poupada à máscara, mas não os berros de perigo da mãe. 

Estas crianças terão que ser muito fortes, inteligentes e amorosas para, um dia, conseguirem ultrapassar estes traumas, perdoarem aos pais e serem adultos equilibrados e felizes. 

E no fim, fico sempre com a dúvida; faço bem em calar-me?! Nenhuma resposta me pacifica ou dá certezas. Eu sei que cada um tem o seu caminho mas continuo a pensar se não estarei a omitir-me. Mas se falar, não estarei a intrometer-me?

Talvez não haja resposta certa para isto, porque o que está errado no principio vai dar errado no fim.