segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Adeus, querida A. !

Uma música que ouvimos naquele verão, continuamente, até memorizarmos a letra. 

Sabia que a A. estava doente, mas há cerca de 2 meses também soube que estava a fazer obras no apartamento, portanto achei que o pior já teria passado, por isso, quando me disseram que ela tinha partido fiquei bastante chocada. Já não eramos amigas, a vida aconteceu, contudo, para mim, fomos amigas na melhor das alturas. 

Conhecia-a aos 12 anos, e fomos amigas até aos 16; foi uma amiga diferente de todas as que tinha tido até aí, era atenciosa, carinhosa, com grande sentido de humor, e eu conheci um tipo de amizade que ignorava. Passávamos horas a cantar as músicas dos tops, lendo as letras nas capas dos Álbuns; foi com ela que comecei a apreciar coisas bonitas, como papel de carta, blocos giros, borrachas com formas de nuvem, gatos, gelados, pulseiras de couro e cobre, que vendiam na Rua de Sta. Catarina. Eramos o oposto, ela muito loura, eu com o cabelo muto negro; ela exuberante, eu reservada; ela muito auto-confiante, eu insegura. Foi com ela que a minha caligrafia deselegante mudou, e se tornou bonita, ao imitar a letra dela. 

Durante o ano lectivo trocávamos cartas, aquelas de papel fofo, por vezes a cheirarem a morango, e contávamos as novidades, na maioria das vezes banalidades, mas também as importantes, como da primeira vez que ela beijou o primeiro namorado! Ainda me recordo do nome dele, embora não tenha durado muito. Ela era mais nova do que eu, mas bastante mais precoce. E ansiávamos pelo tempo de férias, quando eu podia ir para o Porto, e passávamos o tempo juntas. Foi uma amizade muito importante para mim, aconteceu quando eu mais precisava, e impactou-me imenso.

Em adultas tivemos vidas muito diferentes, ela com maiores e mais dolorosos desafios, mas eu guardo dela aquela imagem juvenil e alegre, que ficou parada no tempo passado. Acredito que esteja agora em paz e feliz.